Marcelo Neri: Mesmo com crise, bem-estar não sofre revés

Pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), o ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, avaliou como positivas as informações contidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014. "O bem-estar não sofreu revés em 2014 e, diria mais, nem vai sofrer em 2015, pelo que indica a Pnad Contínua", avaliou.

Marcelo Neri

Em entrevista ao Valor Econômico publicada nesta segunda (16), Neri apontou um descompasso entre os números negativos da macroeconomia e os revelados pelo levantamento do IBGE. Ele destaca que, apesar do aumento do desemprego – de 6,5% para 6,9%, quase 620 mil pessoas -, houve crescimento de 2,9% da população ocupada entre 2013 e 2014. O aumento corresponde a um contingente de 2,75 milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho.

Além disso, a renda real dos ocupados teve elevação de 0,8%. "Isso mostra que o brasileiro está se defendendo da crise, meio como um Indiana Jones, em particular o mais pobre", comparou.

A queda na desigualdade de renda, expressa pelo índice de Gini, é apontada por Neri como outra boa notícia da Pnad 2014. O economista lembra que o Brasil, desde 2001, era um ponto fora da curva, já que a desigualdade caía no país, enquanto na maior parte do mundo aumentava. Só que, neste período, a maioria dos vizinhos da América Latina também reduzia a desigualdade, o que não acontece mais.

"Não é uma queda espetacular, mas na América Latina, ela parou de cair", diz. O índice de Gini passou de 0,495 para 0,490. Para Neri, o "bolo de renda cresceu e com mais fermento na base", ou seja, os mais pobres subiram mais do que os mais ricos. "O revés ocorre no topo da pirâmide", diz.