Uribe, o verdadeiro aliado de Macri na América Latina

Nas últimas semanas diversos analistas políticos e intelectuais da região destacaram os vínculos de Maurício Macri com as “novas direitas” regionais: Henrique Capriles na Venezuela, Aécio Neves no Brasil e Guillermo Lasso no Equador, entre outros representantes que também buscam disfarçar seu discurso para tentar construir novas maiorias.

Por Juan Manuel Karg*, em seu blog

Maurício Macri e Álvaro Uribe - Reprodução

Porém, pouco se analisou em relação ao aliado mais antigo que Macri ostenta entre os políticos do continente: o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe Vélez.

A relação começou há pelos menos cinco anos: foi em dezembro de 2010 quando Uribe considerou Macri “uma esperança para todos os latino-americanos”, uma vez que o colombiano foi declarado “Hóspede de Honra” pelo chefe de governo portenho. Na ocasião, Uribe anunciava que o candidato da Cambiemos era “uma miragem em nossa região que necessita de líderes excepcionais”.

Macri retribuía aqueles elogios com declarações preocupantes, por certo, ao dizer que se considerava “um admirador” das políticas levadas adiante por Uribe na Colômbia, “em meio a situações muito adversas em que se encontrava o jogo da paz e justiça social no país”. Estas afirmações são significativas: se tratam de um ex-presidente que há anos se opõe aos diálogos de paz entre o governo colombiano e as Farc.

Quais eram as políticas que o candidato da Cambiemos dizia admirar? As que haviam provocado, segundo dados oficiais, 2,4 milhões de desalojados em toda a Colômbia durante a administração de Uribe. Deslocamentos forçados e abandono de casas, produto da violência que vivia durante aqueles anos uma Colômbia onde não existia canal algum de diálogo entre o governo e a guerrilha. “Há uns 60% de pobreza e uns 90% de indigência entre a população desalojada”, declarava, também em 2010, Jorge Rojas, Diretor da Consultoria de Direitos Humanos e Desalojados (Codhes), para logo confirmar que “o que os paramilitares é o modelo das Escolas das Américas de tirar a água do peixe: desarticular, criar terror, assassinar, massacrar, desaparecer com milhares de civis sob a acusação de que são base social da guerrilha. Isto não mudou (durante a administração de Uribe)”.

Em seu ataque de proteção midiática, ninguém consultou a Macri se seguia considerando estas políticas de “segurança” como adequadas para um hipotético governo da coalizão Cambiemos. Um feito, porém, evidencia elementos para entender que a relação com Uribe segue mais firme que nunca, e que estes planos permanecem também no empresário argentino em sua busca pela Casa Rosada: a reunião que ambos tiveram no ano passado em Buenos Aires, na ocasião em que o senador colombiano participava do 12º Congresso Internacional da Federação Panamericana de Segurança Privada. À época Macri defendeu novamente as políticas implementadas pelo uribismo, em uma foto que também compartilhou com o deputado Miguel Del Sel, o Ministro da Justiça e Segurança da Caba (Associação Continental Automatizada de Construções, da sigla em inglês), Guillermo Montenegro, e o subsecretário de Relações Internacionais portenho, Fulvio Pompeo.

No fim das contas, Álvaro Uribe Vélez segue sendo o aliado principal da coalizão opositora Cambiemos em busca de reverter o ciclo pós-neoliberal iniciado na América Latina há mais de uma década. Não estão sozinhos: Álvaro Vargas Llosa, Andrés Oppenheimer e Carlos Montaner, entre outros expoentes da direita continental, esfregam as mãos esperando uma derrota da coalizão governista Frente Para a Vitória eu tenha repercussões continentais. Um dado os preocupa, porém: o segundo turno no Brasil entre Dilma e Aécio Neves em 2004, onde apesar de colocar “todos os ovos na mesma cesta”, não puderam evitar um segundo lutar, sendo derrotados – novamente – pelo Partido dos Trabalhadores. Acontecerá o mesmo na Argentina? Em 22 de novembro as urnas vão dizer.