Festa Literária homenageia a jovem escritora Ágatha Cris, de 11 anos

A Festa Literária das Periferias (Flupp) começou nesta terça-feira (3) no Rio de Janeiro. Em meio aos debates, rodas de leitura, saraus, competições e lançamentos, o destaque é a pequena Ágatha Cris, de 11 anos, com sua obra O Mistério das Árvores da Rua Roberto, lançado em junho deste ano.

Festa Literária da Periferia - Tomaz Silva/Agência Brasil

Assim como Agatha Cristie – a renomada escritora inglesa famosa por seus romances policias – Ágata Cris, da periferia do Rio de Janeiro, já se destaca com seu livro de suspense cujo personagem principal é uma gata detetive que desvenda os casos misteriosos do Morro Chapéu Mangueira, uma favela da zona sul da cidade da pequena escritora.

O Mistério das Árvores da Rua Roberto foi lançado em junho e, desde então, a menina é uma referência na comunidade e entre os jovens escritores do país. Por ter sua vida transformada pela literatura, Ágatha está entre os autores homenageados pela Festa Literária das Periferias (Flupp). Ela vai receber o Prêmio Carolina Maria de Jesus (a escritora Carolina Maria de Jesus morava em uma favela de São Paulo, quando foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas. Em 1960, ela lançou o livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, que a revelou para o mundo).


Assim como Agatha Cristie, Ágatha Cris escreve suspenses, mas não se inspira na "xará" porque ainda não conhece a obra da escritora inglesa 

O prêmio será entregue em uma cerimônia no Morro Chapéu Mangueira, onde a jovem escritora mora e é cenário de suas histórias. A menina diz nunca ter lido os livros da escritora inglesa, mesmo tendo dois, mas acredita que o incentivo à leitura, em casa e na escola, a despertou para a literatura. “Se não fosse isso, não conheceria outras histórias e não saberia fazer uma minha”, disse, e cita Lygia Bojunga, com contos infantojuvenis, com uma de suas escritoras favoritas.

O principal objetivo da Flupp é impulsionar novos autores e estimular leitores com pontos de vista e experiências diferentes de vida. Com este intuito são realizadas diversas atividades em escolas da periferia do Rio de janeiro ao longo do ano. Para esta quarta edição do evento, que segue até domingo (8), a expectativa é reunir mais de 20 mil pessoas e mobilizar a rede de saraus da cidade.

Um dos curadores do evento, Ecio Salles, disse que promover a literatura na periferia, feita por seus próprios moradores, é também uma forma de romper o estigma que associa as favelas “à violência ou à carência” e mostra que são espaços com grande potencial estético e criativo. “Precisamos criar oportunidades para as periferias se expressarem por si, não porque elas trazem uma verdade maior ou melhor, mas porque têm algo a dizer, uma verdade própria”.

Por meio da Flupp, várias coletâneas foram lançadas este ano, incluindo três romances: A Número Um, de Raquel Oliveira, sobre a relação da autora com Naldo, um traficante da Favela da Rocinha; Sobre Garotos que Beijam Garotos, de Enrique Coimbra, que trata dos dilemas de um jovem gay, além de Cidade de Deus Z, de Julio Pecly – uma trama de zumbis na comunidade da zona oeste do que dá nome ao livro.

Participam da festa literária cerca de 50 escritores nacionais e estrangeiros, como Martinho da Vila, Elisa Lucinda, Luiz Eduardo Soares e Fasuto Fawcet. Uma das atrações internacionais é o escocês Alan Campbel, que usa a linguagem dos games em seus romances. Além de debater literatura, eles vão conversar sobre violência, meio ambiente e ciências.