Sociedade deve ir para a rua, diz o sociólogo Boaventura Santos

Em visita ao Brasil onde participou do seminário Cultura e Política, do programa Cultura e Pensamento, do Ministério da Cultura, no rio de Janeiro, o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, afirmou que “o resgate da democracia, sequestrada pelas forças do mercado, será feito com a retomada das ruas pela sociedade, único espaço ainda não colonizado”.

Boaventura Santos sociólogo português - Agência Brasil

Boaventura Santos é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale, professor catedrático jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, além de ministrar atividades na Universidade de Wisconsin-Madison e na Universidade de Warwick. Atua ainda como diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e é coordenador científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa.

Durante o evento, que aconteceu no Teatro de Arena na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na última quinta-feira (29), Boaventura fez uma análise da atual conjuntura em que apontou um “esgotamento da democracia representativa tradicional” e uma busca pela “democracia participativa”.

“Muita da cultura é feita no espaço público, é feita na rua. Desde 2011, os jovens, em vários países do mundo, do Ocuppy [Wallstreet, nos Estados Unidos], dos Indignados [da Espanha], do sul da Europa, aos protestos que aconteceram aqui em 2013, os jovens chegaram à conclusão de que rua é o único lugar público que não está colonizado pelos mercados financeiros. E vêm para a rua porque as instituições não respondem aos seus anseios”, enfatiza Boaventura.

Para o sociólogo, a democracia representativa está refém das forças de mercado. “Em muitos desses movimentos, o que pedem? Alguma coisa revolucionária? Não. Pedem democracia real, democracia já. Porque esta democracia que temos foi sequestrada por antidemocratas. Ela hoje é refém do dinheiro e não pode ser uma democracia. Isto significa que a democracia liberal, representativa, não sabe se defender do capitalismo. Para isso, ela tem que se articular com a democracia participativa e deliberativa e esta democracia participativa vai obrigar a novas formas de política”, frisou.

Poder “dronificado”

Boaventura abordou também o que classifica como “poder dronificado” levado a cabo pelas forças do mercado, que busca a invencibilidade, mas que tem entre os seus pontos fracos justamente a resistência popular.

“O poder contemporâneo é um poder dronificado. O drone é uma forma de poder bélico que elimina o heroísmo da guerra, que elimina a possibilidade da derrota, porque quem está a matar no Afeganistão está atrás de um computador no Nebraska, nunca pode ser morto, ferido ou derrotado. Mas também não pode ser herói. Muito do poder hoje quer se afirmar como invencível. O que são os mercados financeiros se não uma forma de poder dronificado? O que são as formas de segurança de nossos dados de vigilância global, se não uma forma de poder dronificado? Mas este poder é frágil. Parece muito forte, mas é frágil. O problema é que a força está em nós. Somos nós que lhe damos essa força toda, porque não resistimos, porque não sabemos resistir”.