Volks negocia reparação por ter apoiado a ditadura

Depois de ser denunciada oficialmente pelo coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação, que apresentou denúncia junto ao Ministério Público Federal (MPF) dia 22 de setembro, por colaboração e apoio à repressão contra operários durante a ditadura militar de 1964, a Volkswagen iniciou uma negociação para reparar às vítimas.

Volks - Wikimedia Commons/CC

De acordo com o procurador regional dos Direitos do Cidadão do MPF em São Paulo, Pedro Antônio de Oliveira Machado, o objetivo é firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para que o dinheiro da reparação seja depositado no Fundo de Interesses Difusos ou usado para a construção de um memorial ou museu sobre o período.

Dirigente da matriz do grupo esteve no Brasil a pedido do Ministério Público Federal (MPF), sendo a primeira empresa no Brasil a adotar tal medida. Em entrevista ao Estadão, Manfred Grieger, diretor do departamento de Comunicação Histórica do Grupo Volkswagen, disse que sua intenção era de entrar em contato com vítimas e buscar mais informações sobre o relacionamento entre a Volkswagen do Brasil e as instituições brasileiras daquela época.

“Foi o início de uma discussão sobre como chegar a um acordo a respeito dessa questão. Uma ideia é talvez desenvolver um conceito de memorial em conjunto com outras instituições brasileiras, como sindicatos, e colocá­lo em prática. Queremos continuar as discussões para explorar os prós e contras a respeito dos próximos passos”, disse.

Na documentação entregue em setembro trabalhadores e sindicalistas evidenciaram como uma série de provas e testemunhos a participação da Volkswagen do Brasil para a consecução das violações de direitos humanos.

Os sindicalistas denunciam a participação da multinacional nos “crimes de tortura perpetrados no interior de suas plantas industriais” e a “colaboração com os órgãos de segurança estatal, unidades militares e organizações sindicais patronais”. Além disso, pedem também que sejam investigados “benefícios obtidos pela empresa em razão da cumplicidade com o regime”.

Na ação, os sindicalistas relatam que a montadora doou Fuscas para o Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 2.º Exército comprovados por documentos com o carimbo da empresa que foram enviados ao Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops­SP) com detalhes sobre a atuação de operários, descritos como subversivos, em manifestações e greves.