A poesia de Marcelo Adifa
Marcelo Adifa é poeta e comunista. Iniciou sua militância política aos 14 anos e atuou nas entidades estudantis Upes e UEE-SP. Recentemente publicou a obra Exílio, onde retrata, por meio de versos, sua experiência fora do país, tem também o livro A Quem se Fizer Estrela.
Publicado 23/10/2015 17:09 | Editado 13/12/2019 03:30
Além de suas duas obras, Marcelo participou de diversas antologias temáticas com grandes poetas brasileiros, entre elas 29 de abril – o verso da violência. Na música, já compôs canções em parceria com Lula Barbosa, Vidal França, João Bá e Lluis Llach.
Leia os poemas de Marcelo Adifa:
Terra estranha
Acordar em terra estranha
estrangeiro sem direitos
Acordar sem corpo ou fala
sem valer homem
documento
Sendo apenas brasileiro
Pele
Pele por roupa
primeira veste
vestido que cai
por terra quando
o sangue desce
Pode ter frio
alma sem pele
pode ser frio
quem se despe
defronte
ao espelho
nudez inconteste
a alma ao avesso
por cima da pele
perde, pudera
a compostura
das vestes
Ahmed Moussa
Pedras, olhares
O sangue escorre
Pedras, soldados
lacaios fardados
Um tiro que explode
Tem dez anos e uma pedra
Há dez dias que não come
Há bloqueios nas estradas
que as crianças não entendem
Tem dez anos e se encolhe
Os obuses são como corvos
que procuram a carniça
(quem os lança é que fede!)
Tem dez anos e se retorce,
Já sem fome,
só com a pedra
e o corpo aberto de onde
mina a Palestina
Antirricha
A dor não tem escola
Faz-se sozinha, rasga
No murro ignorância
O limite da decência
O primeiro corpo
Disputado por cães
De quatro e duas patas
Reage e se arrasta
Ergueu um giz e rabisca
No asfalto manchado
A palavra Perdoo
Pouco perdura o traço
Pisado em fúria
Por quem nada sabe
A não ser receber ordens
Caído, o giz se perdeu
Desenha com sangue
No chão testemunha
A frase Não Calo e sorri
Derradeiro ante a turba
Tendo certeza da lição
Que deixa ao resistir
Do outro lado,
Em pé escudado
Soldado iletrado
Que recebeu a missão
Do tirano incrustado
Na cadeira de governador