1978: Vencer ou vencer

Quando o golpe militar se deu na Argentina, em 1976, a Copa do Mundo de 1978 já estava confirmada para o país. Ou seja, a organização do evento não foi obra da ditadura. Mas sem dúvida nenhuma o regime apropriou-se do torneio para, dentro do que acreditavam, obter apoio da população para suas ações.

Por Thiago Cassis*

Copa durante a ditadura argentina - Reprodução

Eis três objetivos da ditadura argentina naquele período: A vitória na Copa de 78 no futebol, título até então inédito para os argentinos; fazer retroceder a decisão judicial, através de conflito armado, que atribuía a posse do Canal de Beagle** para o Chile; e expulsar os ingleses das Ilhas Malvinas.

A Copa do Mundo de 1978 seria utilizada, no plano dos militares, para abafar o Estado de terror imposto por eles. As notícias de torturas e perseguições seriam sufocadas por gritos de gols nos estádios. A unidade dos 25 milhões de argentinos em torno de sua seleção era o objetivo do regime.

Após uma primeira fase apenas mediana, os argentinos entraram na etapa decisiva da competição e tinham pela frente um de seus maiores rivais, o Brasil.

Quando estiveram frente a frente, Brasil e Argentina, proporcionaram uma verdadeira batalha de nervos recheada de lances violentos, mas ficaram no 0 x 0. Na última rodada daquela fase, que definiria um finalista do Mundial, no dia 21 de Junho de 1978, os argentinos entraram em campo na cidade de Mendoza tendo que vencer os peruanos por no mínimo 4 gols de diferença para alcançarem a final do torneio. O Brasil levava vantagem no saldo de gols.

Vale lembrar que o então presidente da FIFA, João Havelange, tinha relação próxima com a ditadura argentina. E que todos os investimentos feitos pelo governo local em infraestrutura não haviam sido realizados em vão.

A seleção argentina não fez apenas os 4 gols necessários, fez 6. Bateu os peruanos por 6 a 0. Talvez a partida mais discutida da história das Copas, pela suposta falta de vontade dos atletas peruanos, que teriam sido forçados a entregar o jogo para os argentinos. A noite ainda contou com a explosão de uma bomba na casa do Secretário da Fazenda da Nação, Juan Alemann, que se opunha à organização da Copa no país, no momento do quarto gol.

Vencer a Holanda na final e conquistar a taça era o único desfecho possível para os militares. A comemoração nos balcões da Casa Rosada, cercada por milhares de pessoas aplaudindo o General Videla era o objetivo desde quando o regime levou adiante a organização da Copa.

**Conflito resolvido posteriormente pelo Vaticano