A Guerra das Malvinas e a “mão de Deus”

Em abril de 1982 o desgastado regime argentino, agora sob o comando do General Leopoldo Galtieri decide levar a cabo o conflito que ficou conhecido como a Guerra das Malvinas. A intenção era desviar o foco da profunda crise econômica que o país atravessava através do enaltecimento do sentimento de nacionalismo dos argentinos, que seriam aflorados pelo combate.
Por Thiago Cassis*

Maradona contra Inglaterra - Reprodução

Para a ditadura os resultados foram catastróficos. Em 14 de junho, dois meses depois do início do conflito e um dia depois da estreia da Argentina na Copa do Mundo de 82, os ingleses já tinham retomado a posse das Malvinas e a ditadura argentina teve selado o seu fim.

Com a morte de aproximadamente 650 argentinos, jovens soldados mal preparados e mal equipados, que tombaram lutando contra um exército inglês muito superior, a opinião pública já não aceitava mais a ditadura. A manutenção do regime tornou-se insustentável.

Em 1983 a democracia era restabelecida no país com a eleição do presidente Raul Alfonsín.

Três anos depois… em 1986, a seleção argentina vai ao México disputar o Mundial. Buscando se recuperar do fracasso da Copa de 1982 e, acima de tudo, elevar a estima de milhões de argentinos. A equipe tinha em Diego Armando Maradona sua grande esperança de voltar a levantar a taça e apagar a imagem da possível manipulação de resultados que havia ofuscado a conquista de 1978.

Após uma boa primeira fase, os argentinos batem os uruguaios nas oitavas de final e avançam para o tão esperado confronto contra os ingleses. Seria o reencontro após o sangrento episódio das Malvinas.

O clima de guerra foi construído pela imprensa mundial nos dias que antecederam a partida. 

Em campo, ao lado de Diego Maradona e seus companheiros, a memória de 650 jovens (como o próprio Maradona na época), entravam para a “guerra” contra a Inglaterra. Sem armas e sem bombas. Com chuteiras e camisas azuis os atletas foram a campo na ensolarada tarde da Cidade do México, no dia 22 de Junho de 1986, para, dessa vez em igualdade de condições, vingar na bola os compatriotas que tombaram quatro anos antes.

O primeiro tempo termina 0 a 0. Um jogo nervoso. Entradas duras por parte das duas equipes. Durante os dias que antecederam a partida a possibilidade do duelo nem mesmo terminar, por conta do ânimo exaltado dos atletas, era debatida por jornalistas e comentaristas que acompanhavam o mundial.

Foi quando aos seis minutos do segundo tempo, Maradona, com um sutil toque com a mão, sem que o juiz percebesse, desvia a bola para o fundo da meta inglesa. Para os argentinos, o gol não foi feito com a mão de Maradona e sim com ajuda da “mão de Deus”. Era o começo da redenção.

Quando os ingleses julgavam injusta a forma como a Argentina tinha aberto o placar, apenas 3 minutos depois do primeiro gol, Maradona pega a bola no meio do campo, dribla metade do time inglês e faz um gol histórico. Talvez o mais belo gol da história das Copas. A Inglaterra ainda achou tempo para descontar, mas já era tarde. As Malvinas estavam “vingadas”, ao menos no campo simbólico do futebol. As lágrimas por parte de torcedores, jogadores e até mesmo de narradores argentinos que transmitiam o jogo davam a dimensão do tamanho da conquista.

A Argentina venceria a Copa de 1986 sete dias depois, batendo os alemães por 3 a 2 na grande final.

Assista o segundo gol de Maradona contra a Inglaterra na transmissão da TV argentina: