Primeiras pesquisadoras brasileiras são tema de exposição do Inpa

Por trás da construção do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) há um grupo de mulheres que participaram das primeiras expedições científicas, em 1954 e 1955. Em campo, elas fizeram coletas de material botânico e zoológico, assumindo um importante papel nas pesquisas que ampliaram o conhecimento científico sobre a Amazônia.

Exposição Mulheres e Ciência - Inpa

O perfil de seis dessas mulheres é o tema da exposição Mulher e Ciência, as pioneiras do Inpa (1954-1955) que o instituto vai apresentar durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, entre 19 e 25 de outubro. O material, inédito, inclui fotos das pioneiras em campo.

"Cada uma dessas mulheres contribuiu para o desenvolvimento das pesquisas na Amazônia", afirma a historiadora Ângela Panzu, curadora da exposição. Ângela é autora de uma dissertação de mestrado sobre trajetória do Inpa. Nas pesquisas, observou a intensa participação feminina nas primeiras expedições. O resultado desse trabalho inspirou a exposição Mulher e Ciência.

Segundo a historiadora, 21 mulheres participaram das primeiras expedições organizadas pelo Inpa com destino ao antigo território do Rio Branco, hoje Roraima. O objetivo era a investigação dos recursos minerais e energéticos, fundamentais para o processo industrial brasileiro. A expedição incluía longas caminhadas a pé, a cavalo ou em lombo de burro, debaixo de chuva, transportando equipamentos em itinerário acidentado e montanhoso. As contribuições das mulheres pioneiras estão nas fotografias, ilustrações e trabalhos acadêmicos desenvolvidos.

"A ideia era descobrir a Amazônia, o que tinha de importante na região. No segundo pós-guerra, o interesse estava nos recursos geológicos. Os mais destacados alunos dos cursos oferecidos pelo Inpa na área de Geomorfologia foram selecionados para as expedições. Entre eles, estavam 21 mulheres", conta a historiadora.

Algumas mulheres continuaram a carreira no Inpa. Uma delas, a botânica Marlene Freitas da Silva,
aprofundou as pesquisas sobre as novas espécies da flora da Amazônia. Já a zoóloga Lindalva de Albuquerque se destacou no estudo dos insetos. Maria de Nazaré Corrêa Góes deu importante contribuição para o estudo dos fatores climatológicos da Amazônia. Médica, Maria Virgínia Carmen Dupré Rabello participou das primeiras expedições do Inpa prestando atendimento aos pesquisadores e à população local. Elisabeth Maria Santana Honda é responsável pela classificação de grande parte da coleção de peixes do Inpa.

De acordo com a historiadora Ângela Panzu, a participação desse grupo de mulheres nas expedições de 1954 e 1955 está relacionada à proliferação de faculdades de Filosofia, Ciências e Letras pelo Brasil, oferecendo uma alternativa para as mulheres interessadas nas carreiras das ciências biológicas e biomédicas.

"Então, quando você me pergunta sobre a coragem dessas mulheres, devo dizer que, mais do que isso, elas tiveram a oportunidade de fazer escolhas. Esse fato, somado às transformações institucionais desencadeadas pelas novas condições materiais fornecidas pelo CNPq, como órgão de fomento à pesquisa, modulou de certo modo o processo de expansão da presença de mulheres na carreira científica."

A exposição Mulher e Ciência: as pioneiras do Inpa (1954-1955) será aberta dia 19, às 14 horas, na Biblioteca do Inpa.