Jacob Lawrence – quadros da história dos negros nos EUA

O notável pintor negro norte-americano Jacob Lawrence (1917-2000) explicou certa vez: "Pinto as coisas que conheço e que vivi. Estas coisas são minha nação, minha raça e minha classe. É assim que pinto a vida estadunidense". Este “programa” ficou registrado numa obra pictórica farta e surpreendente.

Por José Carlos Ruy

Jacob Lawrence - Divulgação

Foi fixado sobretudo na The Migration Serie (A série da migração), um conjunto de 60 quadros pequenos (nenhum mede mais que 30×45 cm) que registram a saga dos negros americanos que, de 1890 até a 2ª Grande Guerra, migraram do sul para as grandes cidades industriais do norte dos EUA (como Chicago, Detroit e Nova York).

Eles fugiam da pobreza, da exploração nas fazendas, quase sempre de algodão. Principalmente do racismo acentuado pelo rígido segregacionismo que eliminava direitos sociais e políticos da população negra. E cuja manifestação mais violenta foram os linchamentos sangrentamente comuns.


Durante a Primeira Guerra Mundial, houve uma grande migração para o norte por afro-americanos do sul (1940-1941)


A familia de Lawrence foi protagonista daquela grande imigração ao migrar para Nova York, onde se fixou Harlem, local onde ele teve, em escolas públicas, seu primeiro aprendizado com a arte que o tornaria famoso.

A série sobre migração foi exibida pela primeira vez numa mostra individual na Downtown Gallery, em Nova York, em 1941. Lawrence tinha 23 anos de idade, e aquela foi a primeira exposição individual de um pintor negro em uma galeria de Nova York.


Os alimentos dobraram de preços por causa de guerra de 1940-41


O reconhecimento imediato e intenso deu a ele fama nacional. Parte das imagens foi usada para ilustrar uma edição da revista Fortune, em 1941. Elas se tornaram os ícones mais conhecidos sobre a grande migração, dizem os críticos de arte nos EUA.

Ainda muito jovem Lawrence conviveu e trabalhou com artistas do chamado Renascimento do Harlem, entre eles Charles Alston, que foi seu professor e incentiv-ador, e a escultora Augusta Savage.


Sempre houve discriminação (1940 – 41)


Seu grande tema foi o cotidiano dos nnegros nas cidades industriais do norte, o contraste com o passado rural, e a luta permanente pela sobrevivência. Ele a conhecia diretamente, como operário que foi, ou acompanhando a faina diária interminável de sua mãe, que trabalhava como doméstica, ou a de seus dois irmãos.

Mas Lawrence foi também o grande pintor da história da luta dos escravos contra a opressão. Era ainda jovem – tinha 21 anos quando fez uma série de pinturas narrando a epopeia de Toussaint L'Ouverture, o heróico ex-escravo que dirigiu a revolução do Haiti no final do século XVIII. Esta série foi exibida inicialmente em uma mostra de artistas negros no Museu de Arte de Baltimore.


As trabalhadoras foram as últimas a chegar ao norte (1940-1941)


Foi autor também de séries sobre a vida dos abolicionistas norte-americanos Frederick Douglass, Harriet Tubman e John Brown.

Muitas vezes, quando se fala em artistas negros nos EUA, é comum lembrar-se de cantores, compositores, dançarinos, atores ou escritores. Pois bem, o leque é maior, como demonstra a obra originalíssima de Jacob Lawrence!

(atualizado em, 12/10/2015)