Cientistas políticos dizem que reforma pode ajudar governo

A reforma administrativa e ministerial anunciada na sexta-feira (2) pela presidenta Dilma Rousseff ajuda, segundo cientistas políticos, a reorganizar as relações do governo com a base aliada no Congresso Nacional, em especial na Câmara dos Deputados. Mas eles dizem que ainda é cedo para dizer se a “mexida” trará resultados efetivos em votações polêmicas, como a da “nova CPMF”. 

Cientistas políticos afirmam que reforma pode ajudar governo no Congresso

Para o cientista político e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, a medida acarretará mudanças favoráveis nas votações. “Pode não recuperar 100% da base, mas dá uma reorganizada. O problema do governo é a articulação”, afirmou.

Para o diretor do Diap, o governo repactuou com os partidos a composição da base de apoio. "Isso significa que, antes, o governo negociava com os caciques e isso não tinha legitimidade (perante as bancadas). Dessa vez, as negociações foram com as bancadas que indicaram os ministros. Agora, as bancadas tendem a seguir a orientação da liderança. Antes, o governo não tinha nem os líderes amarrados, mas hoje tem os líderes e seus seguidores.”

Queiroz acrescentou que a reforma resultará em mais tranquilidade para o governo, especialmente quanto as “ameaças” da oposição sobre abertura de processo de impeachment da presidenta.

“A reforma dará ao governo uma base suficiente para impedir que o processo de impeachment seja instalado, assim como uma base para votação de algumas matérias do ajuste fiscal". Sobre a CPMF, Queiroz acha que o governo terá de negociar de modo mais intenso. "Terá de negociar muito.”

Apesar de também enxergar mudanças nas relações do governo com a base, o sociólogo, cientista político e professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Luiz Werneck Viana, é menos enfático sobre os desdobramentos futuros da articulação do Planalto.

“Acho que as possibilidades (de angariar apoio) são altas. Aparentemente temos um emplastro sugerindo que a relação com a base aliada acalmou. Mas, acompanhando o dia a dia desse governo, é muito arriscado prever o futuro”, disse.

Segundo Viana, o primeiro teste após a reforma ocorrerá na terça-feira (6), quando o Congresso deverá votar vetos presidenciais, entre eles os que tratam do reajuste do Judiciário e estende a política de reajuste do salário mínimo para os aposentados.

Cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Malco Braga disse que o desgaste do governo acentuou ainda mais a cisão na base, no PT e entre os aliados. "Por isso, não é possível assegurar a efetividade da reforma. Nesse momento, o resultado é imprevisível. Não quer dizer que a estratégia, que deu certo em outros momentos, dará certo agora.”