Senadores criticam manobras de Cunha para impor vontade pessoal 

A decisão do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de realizar sessão extraordinária na Câmara para impedir a sessão do Congresso que votaria os vetos presidenciais, na manhã de quarta-feira (30), foi criticada pelos senadores em discursos no plenário da Casa.  

Senadores criticam manobras de Cunha para impor vontade pessoal - Agência Senado

O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) lamentou que vontade pessoal do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tenha inviabilizado a sessão do Congresso. Para o senador, Cunha está se contrapondo à vontade da nação ao insistir em retomar o financiamento privado de campanhas eleitorais.

Cunha impediu a sessão no Congresso porque queria impor sua vontade, obrigando o Senado a votar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restabelece o financiamento empresarial de campanha antes.

Valadares disse que o Senado já aprovou o fim das doações de empresas, a presidenta Dilma já vetou o financiamento privado e o Supremo Tribunal Federal (STF) já declarou inconstitucional a prática.

“Claro que o financiamento privado, nos termos em que existia no Brasil, e que agora o Supremo barrou, era um convite à fraude, à corrupção, à desigualdade na disputa eleitoral”, afirmou o senador, apontado a desunião entre os parlamentares como uma das causas das atuais crises econômica e política no país.

Chantagem com o país

Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), “esse presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, passou de todos os limites. O que ele está fazendo aqui é uma chantagem com o país”, acusou o senador.

“Ele está fazendo chantagem com esta Casa, com o Senado Federal, dizendo que, se o Senado não votar no dia de hoje (ontem) a PEC (do financiamento empresarial de campanha), ele não coloca para votar os vetos. Haverá sessão da Câmara, impedindo a instalação da sessão do Congresso Nacional”, denunciou o senador.

Para Lindbergh, “é um ato de desespero, é o último esperneio”. E, dirigindo-se à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), autora da proposta aprovada no Senado, pondo fim ao financiamento empresarial de campanha, disse:

“Eu vejo esse gesto do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, que está chantageando o país nessa discussão do financiamento empresarial, como um gesto de desespero, porque ele sabe que sua força política vinha, claramente, desta possibilidade de ajudar algumas campanhas de parlamentares através desse financiamento.”

O senador petista analisa que “a decisão do Supremo vai ter um efeito muito maior do que imaginávamos. Sempre pensávamos, de início, na campanha eleitoral, mas o fim do financiamento empresarial pode modificar a forma de funcionamento deste Parlamento para não ficarmos reféns dos lobbies empresariais”, discurso Farias.

Indignação

Vanessa Grazziotin também criticou a posição de Eduardo Cunha, indagando sobre as razões da atitude do presidente da Câmara: “O que o presidente da Câmara quer? Que nós desrespeitemos uma decisão do Supremo Tribunal Federal?”, acrescentando que se associava à indignação dos demais colegas senadores com relação a atitude de Eduardo Cunha.

“O que nós queremos é melhorar a política do Brasil; aliás, nós, não, é o que o povo brasileiro quer, mas tem gente que não, que, diante de tudo o que está acontecendo, quer que as grandes empresas – Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS –, todas elas, continuem a ‘doar’, entre aspas, recursos para campanhas eleitorais”, alertou a senadora.

O senador Telmário Mota ( PDT-RR) também abordou o assunto, manifestando preocupação com o comportamento de Cunha. “O deputado Eduardo Cunha está entendendo que a Câmara Federal é dele. Não. É do povo. Aqui, nesta Casa (Senado), foi derrubado o financiamento de empresas privadas às campanhas”, disse, destacando que a decisão atende o desejo de 74% da população brasileira, que é contra o financiamento empresarial de campanha.

“Aqui nós representamos o sentimento da população, o anseio da população, e é nesse sentido que esta Casa está caminhando”, disse o senador, para quem a atitude de Cunha é de um ditador.

“De repente, o deputado Eduardo Cunha, quebrando acordos, quebrando regimento, está tentando sitiar (o Senado). Na verdade, a Câmara está sitiada por ele, para atender o que o seu príncipe mandar, o que ‘heil Hitler’ mandar. É isto que o Eduardo hoje está demonstrando: um homem desequilibrado, autoritário, despreparado para um cargo importante”, disse Mota, sem economizar nas críticas ao presidente da Câmara.