Memória, verdade e reparação reúnem organizações do Cone Sul 

Nesta sexta-feira (25), organizações de vítimas das ditaduras do Cone Sul e integrantes de organizações sociais que trabalham com a promoção dos direitos humanos nos países do Mercosul se encontram em Brasília, em evento no Ministério da Justiça, para debater e propor políticas públicas de memória, verdade, justiça e reparação na região. Os países do bloco estão caminhando de diferentes maneiras na revisão da história recente.  

Memória, verdade e reparação reúnem organizações do Cone Sul

O Fórum de Participação Social, promovido pelo Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul (IPPDH) é um espaço público, inaugurado este ano, dirigido a organizações e movimentos sociais do Mercosul, para promover a participação cidadã com intercâmbio de informações e análise de temas relacionados à memória, verdade, justiça e reparação.

Durante o fórum, ocorrerá um seminário sobre os 40 anos da Operação Condor, quando serão apresentadas as experiências dos países da região sobre o trato com as repercussões da operação na região. A Operação Condor foi uma ação conjunta de repressão a opositores das ditaduras instaladas nos seis países do Cone Sul: Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai.

A Operação Condor, que contou com o apoio do governo dos Estados Unidos, tinha como função principal reprimir os grupos que se opunham aos regimes militares montados na América Latina, como os Tupamanos no Uruguai, os Montoneros na Argentina e outros.

Experiências

No Brasil , a Operação Condor foi descrita no relatório da Comissão Nacional da Verdade. O trabalho de reparação às vítimas é realizado pelas comissões de Anistia e sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Programas de memória são também desenvolvidos pelas Caravanas de Anistia e Clínicas do Testemunho. Em Belo Horizonte, um Memorial da Anistia está sendo construído.

Na Argentina , o antigo espaço da Escola de Suboficiais de Mecânica da Marinha, cedido pelo governo de Buenos Aires às Forcas Armadas em 1924 para funcionar como centro de instrução militar, foi retomado pelo Estado em 2004 e hoje é sede de diferentes instituições de promoção cultural e de defesa dos direitos humanos.

No Chile , o Museu da Memória dá visibilidade às violações contra os direitos humanos cometidas pelo Estado entre 1973 e 1990. Seus documentos e testemunhos mostram a historia do golpe militar contra o presidente Salvador Allende, a repressão, a resistência, o exílio, a solidariedade internacional e as políticas de reparação.

No Paraguai , o estado aprovou um fundo de 150 mil dólares, após pressão do Comitê contra o Desaparecimento Forçado das Nações Unidas, para identificar vitimas desaparecidas durante a ditadura militar de Alfredo Stroessner. Os recursos estão sendo usados na contratação de legistas para que analisem restos mortais e comparem com amostras de sangue de familiares.

Na Bolivia, a Justiça italiana decretou recentemente a intimação do ex-ditador boliviano García Meza no processo que investiga o desaparecimento de cidadãos daquele país durante a Operação Condor nos anos 1970 e 1980.

O governo uruguaio criou, após o término da vigência da Comissão para a Paz, a Secretaria de Direitos Humanos para o Passado Recente, que responde diretamente à presidência do Uruguai. Sua proposta é dar continuidade às ações de memória, reparação e justiça. Além disso, em julho, dez antropólogos começaram a busca pelos restos mortais de 192 pessoas desaparecidas durante a última ditadura naquele país.