O Ibope vai agora rebaixar Dilma a zero de popularidade? 

Os jornalões trombeteiam nova pesquisa encomendada por uma dessas confederações patronais sobre a popularidade da presidenta Dilma Rousseff. Será que, dessa vez, vão rebaixá-la a zero? Claro que não. A sanha persecutória é para sangrá-la lenta e penosamente. E do zero, não há como baixar mais. Vão tirar um ou dois pontos, na incansável tentativa de fustigá-la, alimentando o noticiário negativo diuturno contra o governo.

Por FC Leite Filho* 

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Seja como for, apesar de seus erros crassos nas projeções (o último foi na Argentina, quando tentou abater o candidato de Cristina Kirchner, Daniel Scioli), os institutos de pesquisas continuam deitando falação, servindo de instrumentos do poder econômico para minar as instituições e as propostas progressistas de poder.

A estratégia é conhecida. Primeiro, eles inflam candidatos cevados nos laboratórios midiáticos, tipo Marina, Aécio, Serra, ao longo das campanhas eleitorais, para fraudar a vontade do eleitor. Veja-se o caso de Haddad, cuja candidatura a prefeito de São Paulo, em 2012, surgida com grande grau de competitividade, era sempre empurrado para baixo com 4%, enquanto o candidato empombado dos meios de comunicação, José Serra, disparava como virtual vencedor. O resultado da eleição foi uma derrota fragorosa do então todo-poderoso Serra.

Derrotados como foram por Dilma, em 2014, os institutos lançam pesquisas fajutas para minar e desmoralizar seu governo. As últimas sondagens do Datafolha e do Ibope apontam a popularidade da presidenta como estando em 8% e 9%, respectivamente. Por que ninguém diz que FHC teve 8%, em 1999, como lembra Marcos Coimbra, colunista da Carta Capital e presidente do Vox Populi, hoje funcionando como uma espécie de agência alternativa?

Eu, com a modéstia vivência de vir denunciando os grandes institutos de pesquisa desde as manipulações que fizeram contra a candidatura de Leonel Brizola, em 1989, tive uma experiência pessoal em constatar o embuste dessas pesquisas. Quando cheguei a Buenos Aires, em fins de 2011, os ibopes argentinos (cujos dados são via de regra semelhantes, porque trabalham como um cartel), apontavam o prestígio da presidenta Cristina Kirchner como estando abaixo de 19%. Um ano e pouco depois Cristina ganhava a reeleição, com 54,11%, deixando na rabeira seus adversários, os quais juntos, mal chegavam à metade de seus votos.

Na última reeleição de Hugo Chávez, da Venezuela, em 2012, esses institutos chegaram ao desplante de anunciar a vitória do candidato Henrique Capriles quando apresentaram suas pesquisas de boca de urna. Novamente, os resultados oficiais desmontaram a farsa: Chávez ganhou com 54,42% dos votos (7.444.082), contra 44,97% (6.151.544) de Capriles.

A verdade é que os institutos de pesquisa manipulam grosseiramente suas sondagens, as quais, matematicamente, podem acertar, mas como são distorcidas para atender a interesses de quem lhes paga ou os controla, sempre dão com os burros n’agua.

A mesma tática de assédio aos governos progressistas ocorre com as chamadas agências de medidoras do risco país, outro braço do sistema econômico, para, junto com a mídia, implodir governos indesejáveis e levantar regimes dóceis ao capitalismo selvagem e seu séquito de desemprego, arrocho salarial e dilapidação da máquina pública.

Agora, por exemplo, se fez um estardalhaço com o relatório da Standard & Poor’s, que rebaixou o desempenho do atual governo, do grau BBB (bom pagador) para o grau BB (mais ou menos bom pagador). Tampouco ninguém se lembrou que o governo pró-midiático FHC foi rebaixado, em 1999, não de BBB para BB, mas de BB para B+ (mau pagador).

Vivemos uma época de mistificação das mais torpes e que levou o escritor uruguaio Eduardo Galeano, recentemente falecido, a constatar que, para entender as coisas, é preciso ver tudo ao revés. Decididamente, as pesquisas estão aí para potenciar a cadeia do pessimismo e do medo, tão predatório quanto inconsequente.

A felicidade é que, ultimamente, eles estão fraquejando em atingir seu alvo, que é a ruptura do processo constitucional que elegeu democraticamente a atual presidenta da República (a prova está na robustez de regimes populares como a Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e Nicarágua). Em crise com a própria decadência econômica e o cerco implacável da internet, para não falar questionamentos cada vez mais amplos em torno do maltrato à informação, as pesquisas e a mídia também, as Standard & Poor’s enfrentam um esvaziamento progressivo em seu antigo poder sobre as mentes.