Aldo Arantes: povo não aceita golpe

Em 1961, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, o Brasil viveu uma grave crise. Contra a tentativa de golpe, que visava impedir a posse do vice João Goulart, o povo foi às ruas. Entre os que derrotaram a aventura antidemocrática, estava o então presidente da UNE, Aldo Arantes. Hoje, momento em que há nova movimentação para impedir um presidente eleito de exercer seu mandato, Aldo concede entrevista à Rádio Vermelho para lembrar a força que o povo tem na defesa da legalidade.

Aldo Arantes na Rádio Vermelho

Então com 22 anos, na condição de novo dirigente da entidade estudantil, Aldo esteve com Jânio poucos dias antes da renúncia, que desencadeou a tentativa de golpe pelos militares. Ele – que é ex-deputado constituinte e secretário da Comissão Especial de Mobilização para a Reforma Política do Conselho Federal da OAB – conta na rádio que estava em Goiás quando soube que o político havia deixado o cargo. Correu então para o Rio de Janeiro, onde descobriu que a sede da UNE já estava ocupada por militares.

Em uma reunião da diretoria da entidade, ficou decidido que ele iria para o Rio Grande do Sul, onde o então governador Leonel Brizola encabeçava a resistência aos golpistas. Lá integrou a campanha da legalidade, que, com amplo apoio popular, barrou o golpe militar e garantiu a posse de Goulart.

“A reação popular foi muito grande. O povo foi para as ruas, a juventude jogou um papel decisivo, sobretudo a juventude secundarista, que foi para a porta do Palácio Piratini [sede do governo]. Leonel Brizola fez um chamamento ao povo, e as pessoas foram se agrupando à frente do palácio. Fala-se em 50 mil pessoas”, diz Aldo.

Ele lembra que o palácio chegou a ser cercado por tanques e que um conflito parecia iminente. “Brizola recebeu o comandante do 3º Exército em clima de tensão. Já hava determinação de Brizola de nomear Amaury Kruel como ministro da Defesa, caso o general quisesse prendê-lo. Mas o general resolveu aderir à resistência, porque a maioria dos comandos militares do Rio Grande do Sul estava favorável à resistência democrática”, conta. Aldo ressalta a importância daquele momento histórico, marcado pela moblização em defesa da democracia. “As ruas eram tomadas pelo povo, a partir do chamado mata-borrão, que era um local em que se organizava a resistência popular. (…) Um processo de mobilização ampla no Brasil inteiro e que marcou a história brasileira. Num determinado momento, havia a informação de que haveria uma operação militar para atacar o Palácio Piratini, com ataque aéreo. Isso ensejou uma resistência muito grande dos sargentos, que colocaram areia para os aviões não decolarem. Quer dizer, houve uma série de acontecimentos da maior relevância no curso do processo de resistência.”

Diante da reação popular à tentativa de golpe, os militares terminaram recuando, e o presdente João Goulart foi empossado. “A força dos estudantes foi tão grande que, depois da posse, o presidente Jango foi à sede da UNE para agradecer o seu papel na luta pela legalidade”, destaca.

Com a experiência de quem ajudou a derrotar um golpe, Aldo avalia na entrevista o atual momento político no Brasil, no qual forças da direita se articulam para tentar impedir que a presidenta Dilma Rousseff conclua seu mandato. Segundo ele, é preciso que o povo retorne às ruas, para lutar “energicamente contra o golpe”, cobrando o respeito à democracia e à legalidade. “É necessário que a direita tenha claro que, primeiro, não vai ter golpe e, segundo, que, se tivesse, encontraria a resposta categórica do povo brasileiro que não ia aceitar isso pacificamente”, afirma.

Ouça abaixo a entrevista: