Brasil é elogiado na Suíça pela coragem de investigar corrupção

Em discurso realizado na abertura da reunião anual da Associação Internacional de Procuradores nesta segunda-feira (14), em Zurique, o procurador-geral da Suíça, Michael Lauber, elogiou o trabalho da Procuradoria-Geral da República do Brasil e disse estar “impressionado com a coragem” da luta contra a corrupção no Brasil. “Estamos impressionados pela coragem deles”, afirmou Lauber. 

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“Eles lutam com convicção e com a certeza de estar fazendo a coisa certa, com o respeito ao estado de direito”, completou o procurador suíço.

O procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot, não pôde comparecer ao evento. Ele desistiu da viagem diante de sua posse na PGR para o segundo mandato, que começa na quinta (17) e tem duração de dois anos.

No dia 20 de agosto, o procurador brasileiro apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncias contra o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e contra o senador e ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello (PTB-AL), por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras investigado no âmbito da Operação Lava Jato. Nas denúncias, Janot pede a condenação dos dois sob a acusação de terem cometido crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. De acordo com a Procuradoria, eles receberam propina de contratos firmados entre a Petrobras e fornecedores da estatal.

Brasil-Suíça

A colaboração entre os dois países permitiu o congelamento de mais de US$ 400 milhões em contas relacionadas com os ex-funcionários da Petrobras. “Queremos lutar contra a corrupção de forma séria”, disse Lauber. “Contribuímos, portanto, com diversos países e sabemos que isso é crucial para levar casos adiante”, comentou.

Entretanto, o governo suíço também afirma que outras praças financeiras receberam valores potencialmente superiores aos que foram depositados nos bancos do país alpino em propinas relacionadas ao esquema de corrupção na Petrobras. “Sabemos que há mais dinheiro fora daqui”, disse o responsável pelo Departamento de Direitos Internacionais da chancelaria suíça, Valentin Zellweger.

Segundo ele, outras praças financeiras têm ainda mais dinheiro que a Suíça cuja origem seria o esquema na estatal brasileira. “Mas elas não comunicam”, declarou.

Questionado sobre como os bancos acabaram aceitando esses milhões de dólares de (ex) executivos da Petrobras sem questionamentos, o funcionário insistiu que a estrutura montada foi "sofisticada". Segundo ele, o dinheiro depositado passou por várias sociedades antes de chegar até as contas na Suíça. Zellweger insistiu que era difícil ver em muitas ocasiões que o dinheiro se referia a pessoas politicamente expostas. Entretanto, ele mesmo admitiu que o sistema financeiro suíço precisa “fazer mais” para evitar tais situações. “Não temos um sistema 100% limpo. Mas nosso objetivo é o de minimizar os riscos”, comentou.

A Suíça fez prova de transparência ao anunciar a existência de US$ 400 milhões bloqueados nas contas do país, ressaltou o procurador suíço. Uma investigação foi aberta em abril de 2014 e, em março de 2015, o Ministério Público do país revelou 300 contas em 30 bancos diferentes com dinheiro fruto da corrupção. Do total bloqueado, US$ 120 milhões foram devolvidos aos cofres brasileiros.