Lucia Rincon: "Devemos lutar para que a solidariedade prevaleça"

Nesta semana, o Senado divulgou uma pesquisa sobre números da violência contra à mulher. Apesar de 100% das entrevistadas conhecerem a Lei Maria da Penha, 63% afirmam que a violência doméstica e familiar cresceu no país. Para comentar a situação de vulnerabilidade do sexo feminino e o atual quadro conjuntural com a implementação do ajuste fiscal, o Portal Vermelho entrevista nesta quinta-feira (10), a presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), Lucia Rincon.

Por Laís Gouveia 

Lucia: É preciso lutar contra o ajuste que impedirá o avanço social

A pesquisa também aponta que o ciúmes e o consumo de bebidas alcóolicas são os principais desencadeadores das agressões. A maior parte das mulheres que participaram da pesquisa disseram ter pedido ajuda: 20% procuraram ajuda da família, 17% formalizaram denúncia em delegacia comum e 11% recorreram à Delegacia da Mulher. Lúcia considera que as relações contemporâneas são baseadas na sociedade do consumo e do capital e isso gera influência no comportamento cotidiano. “O mundo trata o ser humano de forma secundária. Há uma flexibilidade na economia, nas interações sociais. Então, este dado de que 63% das mulheres consideram o aumento na violência é um reflexo desse modelo de sistema que vivemos. Essa é uma geração que não se baseia pela coletividade, solidariedade, construção conjunta e afeto, mas sim pelo individualismo e isso reflete nas relações interpessoais e na violência doméstica. Devemos lutar para que a solidariedade  prevaleça”, afirma.

 
Aprofundar os avanços nas políticas públicas para mulher

A presidenta da UBM considera que é fundamental garantir o aprofundamento dos avanços que foram conquistados nos últimos anos no combate à violência. “Temos vários exemplos do quando as políticas para a emancipação feminina avançaram: As delegacias de atendimento às mulheres, organismos institucionais, centros de referência com acompanhamento psicológico, a Lei Maria da Penha. As casas da mulher brasileira que existem em praticamente todos os estados e foram locais criados para o acolhimento. É necessário a mobilização da sociedade para que essas políticas públicas se mantenham", afirma. 

Contra a política econômica

Quando indagada sobre o quanto o ajuste fiscal poderá prejudicar as políticas públicas implementadas pelo governo, Lúcia e categórica em dizer que a linha econômica estabelecida segue uma cartilha que vai na contramão das conquistas sociais. “Várias entidades fizeram um manifesto que fazem a defesa da secretaria de Política para Mulheres (SPM), secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepir) e em defesa dos direitos humanos. O ajuste fiscal é uma política equivocada para resolver a crise, o projeto político econômico precisa ser oposto ao vigente. O governo foi eleito pela maioria do povo e nas palavras da presidenta Dilma, ela diz que não vai mudar de lado e também diz que não irá acabar com os programas sociais. Isso é importante, mas não nos basta. Queremos que as políticas que foram implementadas nos últimos 13 anos se aprofundem a e se multipliquem”, conclui.