Joel Rufino, um escritor democrático 

Levado por complicações em consequência de uma cirurgia cardíaca (ocorrida em 1º de setembro), o historiador Joel Rufino dos Santos despediu-se da vida nesta sexta-feira (4). 

Por José Carlos Ruy 

Joel Rufino, um escritor democrático

Foi um escritor múltiplo. Foi co-autor, sob a coordenação de Nelson Werneck Sodré, da História Nova do Brasil (1963/1964), dentro do esforço de contar nossa história de um ponto de vista materialista-dialético. Depois do golpe militar de 1964 pagou um preço alto por isso, sendo obrigado a exilar-se (na Bolívia e no Chile); ao retornar, foi preso inúmeras vezes. Condenado pelos tribunais da ditadura, foi encarcerado entre 1972 e 1974.

Dedicou-se fortemente à difusão da história dos negros no Brasil e ao combate ao racismo. Foi autor de dois romances, mais de vinte livros infanto-juvenis (foi finalista inclusive do Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil), além de vários títulos de história, entre os quais se destacam (além da contribuição na História Nova): República: campanha e proclamação (1970), História política do futebol brasileiro (1981), O que é racismo (1982), Zumbi (1985), Atrás do muro da noite: dinâmica das culturas afro-brasileiras (com Wilson dos Santos Barbosa – 1994) e Carolina Maria de Jesus- uma escritora improvável (2009).

Na prisão, foi testemunha do assassinato sob tortura, no Doi-Codi, em São Paulo, do dirigente comunista Carlos Danielli, como declarou em uma entrevista ao jornalista Luciano Trigo, feita em 2008: “Passei pelo Doi-Codi, em São Paulo, assisti à morte na tortura de Carlos Nicolau Danielli, vi e ouvi dezenas de outros presos sendo torturados”.

Foi também um vigoroso defensor da política de cotas para negros. Disse, naquela entrevista: “A ação afirmativa, que serve de base aos sistemas de cotas regionais, raciais, de gênero etc. é um princípio democrático. O Estado corrige injustiças ao estabelecer condições justas de concorrência na luta pela vida.

Sou, portanto, a favor, embora reconheça efeitos colaterais indesejáveis na aplicação do sistema. Mas um jovem branco que se sinta preterido pelas cotas é, por isso mesmo, capaz de entender a histórica preterição do negro na universidade, na diplomacia, na política e na iniciativa privada”.

Como professor e intelectual, exerceu várias funções públicas, entre elas se destacam a presidência da Fundação Cultural Palmares e a participação no Comitê Científico Internacional da Unesco para o Programa “Rota dos Escravos”.

Joel Rufio tinha 74 anos de idade. Dedicou mais de cinco décadas ao esforço de relatar a história da luta popular, ao resgate da cultura africana e a contar histórias que tornam a vida melhor. Foi um escritor democrático que honrou a tradição dos escritores democráticos brasileiros.

Joel Rufino está presente!