Saúde da pessoa idosa é tema de seminário na Câmara de Porto Alegre

 A Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara Municipal de Porto Alegre realizou nesta terça-feira, 25, o seminário “Saúde, um bem que se quer” voltado para a saúde da pessoa idosa. A vice-presidente da Cosmam, vereadora Jussara Cony (PCdoB), idealizadora do seminário realizado anualmente com temas variados, conduziu os trabalhos ao longo do dia. 

Elpídio Souza, Mirtha Zenker, Sibele Fuentes, Jussara Cony,Cristina Lemos e Cristina Hoffmann compuseram a primeira mesa de debates

O principal encaminhamento resultante do encontro é a busca, pela vereadora, de alternativas para viabilizar a construção de uma instituição pública para idosos na cidade de Porto Alegre.

Ao abrir a primeira mesa, Jussara destacou: “Nosso esforço é debater ações capazes de responder com dignidade às necessidades do idoso”. Segundo a vereadora, que há mais de 50 anos se dedica à saúde em suas diversas formas, lembrou que “o Brasil envelhece rapidamente; apesar disso a saúde do idoso ainda não tem sido prioridade nas várias esferas do poder público”. Segundo ela, o ideal é “termos uma saúde integral voltada para o idoso, com suas transversalidades, desde a porta de entrada, a fim de não haver necessidade de se chegar à alta complexidade”.

Conforme colocou a vereadora, “não é a idade, por si só, que gera incapacidade, mas o contexto da sociedade que cria desigualdades e preconceitos de todos os tipos. E queremos envelhecer com saúde e dignidade, com cuidado e com amor”. Jussara ainda destacou: “Não somos incapazes. Contribuímos ontem e hoje com o nosso país e geramos as gerações que hoje dão sua contribuição também. Somos parte da sociedade e queremos ser tratados com a naturalidade que faz parte do envelhecimento. E temos de fazer valer a lei e o Estatuto do Idoso porque se está na lei, tem de estar na vida”.

Os desafios do envelhecimento na saúde pública

Ao abordar o tema, a doutora Cristina Hoffmann, da coordenação de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde, abordou o desafio de trazer para a política pública o tema da velhice. “Estamos acostumados com a ideia de que o Brasil é um país jovem, mas ele está envelhecendo. E o aumento da longevidade é uma das maiores conquistas da humanidade”.

Hoje, 13% da população do país é de idosos. Em poucos anos, o Brasil deverá ser o sexto país no mundo em população idosa. Em Porto Alegre, esta fatia representa 15% da população, o que faz da capital gaúcha a primeira do país em número de idosos. Segundo o Censo 2010, eles somam cerca de 211 mil habitantes, dos quais 20% vivem no centro.

Para ela, um dos pontos centrais da questão é garantir a qualidade de vida do idoso. “A maior parte da população idosa é ativa e a capacidade funcional liga-se diretamente com a qualidade de vida; por isso é preciso haver ações que mantenham sua autonomia e independência”. Neste sentido, a atenção domiciliar e os cuidadores ganham papel relevante.

Ela lembrou ainda que a Política Nacional do Idoso (Portaria 2528, de 19 de outubro de 2006) estabelece diretrizes como a promoção do envelhecimento ativo; a atenção integral e integrada da pessoa idosa; o estímulo a ações intersetoriais; a implantação de serviços de atenção domiciliar; o acolhimento preferencial em unidades de saúde, respeitando o critério de risco; a formação e a capacitação permanente e provimento de recursos capazes de assegurar a qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa.

Cristina Lemos, do Grupo Hospitalar Conceição, colocou que envelhecer é, ao mesmo tempo, uma conquista e um desafio. “Muitos idosos pensam não ter mais serventia, há uma perda de identidade até por falta de preparação da sociedade para lidar com esta fase da vida”.

Segundo Cristina, “somente cerca de 10% de pessoas com 65 anos ou mais estão livres de algum tipo de agravo crônico à saúde e mais de 10% apresentam pelo menos cinco doenças crônicas concomitantemente”. Diante deste quadro, Cristina ponderou que “o desafio para o campo da saúde é compreender as necessidades do idoso e atende-lo em sua integralidade”. Hoje, destacou, “os serviços de saúde ainda estão organizados para atender prioritariamente crianças e gestantes”.

Do papel para a vida

Participantes assistem palestra de Cristina Hoffmann, do Ministério da Saúde

Representando a Coordenadoria de Saúde do Idoso de Porto Alegre, Sibele Fuentes enfatizou que “a situação de dependência aumenta a vulnerabilidade do idoso, inclusive no que diz respeito à violência praticada contra ele”. Segundo Sibele, é preciso enfrentar essa fragilidade, bem como trabalhar a família e o sistema de saúde, além de investir na promoção da saúde e na integração social em todos os níveis de atenção.

Ao abordar a questão sob o ponto de vista do controle social, Mirtha Zenker, do Conselho Municipal de Saúde, observou que “muito se avançou na política do idoso, mas ainda é preciso mais. Está em construção uma política do idoso em Porto Alegre e temos condições de acompanhar sua elaboração e suas metas. Temos de fazer acontecer, sair do papel e ir para a vida”. Mirtha também salientou a necessidade de a atenção básica também se debruçar sobre o adoecimento laboral: “Afinal, os trabalhadores de hoje são os idosos de amanhã”.

Outro ponto abordado por Mirtha é a divisão territorial das especialidades. “Cada especialista atende num determinado lugar, o que dificulta o deslocamento do idoso. Além disso, esses profissionais não conversam entre si, cada indica o seu tratamento e o uso cruzado de determinados medicamentos pode, muitas vezes, causar interferências no tratamento ou prejudicar a saúde do idoso”.

Mudanças na saúde brasileira

 
 Terezinha Borges; Neio Pereira; Paulo Zanetti; Jonatan Freitas Silva e Dirceu Messias abordam saúde do idoso na parte da tarde

Na mesa da tarde, Neio Pereira, do Grupo Hospitalar Conceição, fez um breve histórico das mudanças pelas quais a saúde pública e a população brasileira passaram nas últimas décadas. “Na passagem do século 20 para o 21, duas questões importantes vieram à tona: o aumento da longevidade e a redução da natalidade”. Ele lembrou que neste momento “o Brasil ainda vive o chamado bônus demográfico, mas em 20 ou 30 anos os jovens de hoje terão envelhecido e teremos um número muito maior de idosos. E nossa sociedade não está preparada para isso”.

Pereira também destacou fatores que aumentaram a expectativa de vida dos brasileiros. “Em 1930, 45% das mortes eram por doenças infectocontagiosas; hoje são 5%. Isso aconteceu devido à melhora no saneamento, ao uso de antibióticos e ao maior acesso à saúde via SUS”. Porém, ponderou, “antes, o câncer matava 2%, hoje mata 16%. As causas externas eram responsáveis por 2% das mortes e hoje responde por 12%”. Além disso, Pereira lembrou que há as chamadas doenças modernas, advindas do sedentarismo, obesidade, tabagismo, alcoolismo e alimentação de baixa qualidade, problemas relacionados ao surgimento de neoplasias e diversos outros males. “Portanto, é preciso considerar estas questões também no campo da saúde do idoso. O poder público precisa readequar o SUS para receber esta população e garantir sua qualidade de vida”.

Terezinha Borges, presidenta da Associação Brasileira em Defesa dos Usuários do SUS (Abrasus), destacou que “ainda faltam médicos, enfermeiros e estrutura para um atendimento adequado ao idoso. Há também problemas com violência em diversas áreas da cidade, agressões a médicos e enfermeiros, bem como toque de recolher em muitos bairros. Tudo isso complica o atendimento aos usuários do SUS, mas atinge em especial o idoso”. Para ela, “a saúde não pode esperar e o idoso menos ainda”. Terezinha concluiu enfatizando que “o SUS é um ótimo sistema; seu principal problema é a má gestão”.

Paulo Zanetti, da direção do Sindicato Nacional dos Aposentados, apresentou a pauta defendida pela entidade. Dentre os itens constantes no documento, destacam-se: a adoção, por todos os municípios, do Programa de Saúde do Idoso; a entrega de medicamentos de uso contínuo a domicílio para os idosos com dificuldades de locomoção; a implantação de academias ao ar livre e a criação de casas públicas de acolhimento ao idoso. “Nosso foco central é a defesa do SUS”, disse, destacando que a entidade é contrária à proposta, apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) de haver cobrança pelo atendimento.

Também participaram do seminário Leonildo Mariani, do Conselho Estadual da Pessoa Idosa; Elpídio Souza, coordenador de Participação Cidadã do GHC; Jonathan Silva, da Fundação de Assistência Social e Cidadania de Porto Alegre (Fasc) e Dirceu Messias, da Federação Riograndense da Terceira Idade.

(PL)