Sou ameaçada por membros da CPI, diz advogada de delatores

Em uma entrevista um tanto quanto suspeita, a advogada criminalista Beatriz Catta Preta afirmou nesta quinta-feira (30) ao Jornal Nacional, que está sofrendo ameaças de membros da CPI da Petrobras na defesa dos delatores da Operação Lava Jato e, por isso, desistiu não somente do caso, mas também de advogar.

Beatriz Catta Preta advogada de Robertoi Costa

“Depois de tudo que está acontecendo, e por zelar pela minha segurança e dos meus filhos, decidi encerrar minha carreira”, disse a advogada. Beatriz diz que recebeu ameaças de maneira "velada". "Não recebi ameaças de morte, não recebi ameaças diretas, mas elas vêm de forma velada, elas vêm cifradas", disse.

Beatriz disse que passou a ser ameaçada depois que o empresário Júlio Camargo, que ela defendia, declarou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tinha pedido US$ 5 milhões de propina. As supostas ameaças de Cunha, que é investigado pela Lava Jato, foi citada pelos próprios delatores Júlio Camargo e o doleiro Alberto Youssef.

Questionada sobre o motivo pelo qual Júlio Camargo não tinha mencionado Cunha antes, a advogada disse que foi por medo. “Receio. Ele tinha medo de chegar ao presidente da Câmara", disse ela, afirmando que ele mudou de ideia devido "à colaboração dele, a fidelidade, a fidedignidade da colaboração, o fato de que um colaborador não pode omitir fatos, não pode mentir".

Apesar do forte teor das declarações que apontam oi canhão diretamente para Cunha, a advogada minimizou a suposta participação do parlamentar nas ameaças ao dizer que as ameaças vinham de integrantes da CPI da Petrobras que votaram a favor da sua convocação para prestar depoimento, ela não pode dar certeza se Eduardo Cunha integrava esse grupo.

A advogada foi convocada a prestar depoimento na CPI para explicar a origem dos pagamentos que recebeu dos seus clientes, sob a suspeita de que tenham sido ilegais. Especializada em acordo de delação, Beatriz orientou nove dos 17 investigados na Operação Lava Jato.

Por outro lado, o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), afirma que Catta Preta precisa explicar a origem do dinheiro recebido, que estimam ser de mais de R$ 20 milhões. "Esse número é absurdo. Não chega perto da metade disso", rebateu a advogada, afirmando que o dinheiro foi recebido no Brasil como manda o figurino: por meio de transferência bancária ou em cheque, com emissão de nota fiscal e recolhimento de impostos.

O requerimento de convocação da advogada foi apresentado pelo deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), acusado pelo o doleiro Youssef de ter ameaçado e agir como "pau-mandado" de Cunha.

STF

Nesta quinta-feira (30), atendendo a um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, criticou a convocação pela CPI e garantiu o direito da advogada a não se manifestar à comissão sobre assuntos que envolvam sigilo profissional, como o recebimento de honorários advocatícios. A data do depoimento da advogada à CPI ainda não foi marcada.

"É inadmissível que autoridades com poderes investigativos desbordem de suas atribuições para transformar defensores em investigados, subvertendo a ordem jurídica. São, pois, ilegais quaisquer incursões investigativas sobre a origem de honorários advocatícios, quando, no exercício regular da profissão, houver efetiva prestação do serviço", afirmou Lewandowski na decisão.

"Se eu tiver que ir à CPI, infelizmente tudo o que eu vou poder dizer a eles é que eu mantenho o sigilo profissional e não vou revelar nenhum dado que esteja protegido por sigilo”, declarou Catta Preta.

Empresa em Miami

Sobre a sua viagem a Miami, no Estados Unidos, a advogada disse que foi apenas passar férias com os filhos. "Nunca cogitei sair do país ou fugir do país como está sendo dito na imprensa", disse ela, sem mencionar que, desde o dia 14 de outubro de 2014, abriu uma empresa na Flórida, a Catta Preta Consulting LLC, em sociedade com o marido Carlos Eduardo de Oliveira Catta Preta Junior.

Os documentos que provam a abertura da empresa estão disponíveis no site Slideshare, publicadas por Ary Kara. De acordo com o Blog Tijolaço, Ary é o pseudônimo de Ari Cristiano Nogueira, investigado por ser funcionário fantasma do deputado Valdir Rossoni, ex-presidente da seção paranaense do PSDB.