Ministério da Cultura faz roda de prosa com lideranças indígenas

O lançamento da Caravana Indígena do Ministério da Cultura ocorreu na última sexta-feira (25), durante uma roda de prosa da qual participaram a secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural, Ivana Bentes, e lideranças de oito etnias.

Roda de prosa do MinC - Oliver Kornblihtt

"A questão indígena, hoje, está na centralidade do debate do MinC. Estamos começando aqui a caravana que fará 12 viagens por todo o Brasil para apesentar as políticas do MinC para esses grupos", anunciou Ivana. A atividade fez parte da programação da 9°Aldeia Multiétnica na vila de São Jorge, distrito de Alto Paraíso (GO).

Abrindo espaço para ouvir as reivindicações dos povos indígenas, a secretária escutou as falas que trouxeram à tona as principais dificuldades encontradas pelos povos originários do Brasil. Dentre elas, a falta de acesso à informação, a dificuldade de transporte, os conflitos por terra, a necessidade da preservação das tradições indígenas – como a língua dos povos Yawalapiti, que hoje tem apenas cinco falantes – o reconhecimento da sabedoria dos mestres indígenas e a obrigatoriedade do ensino indígena nas escolas, a necessidade do reconhecimento e intercâmbio com as tecnologias da medicina indígena, a geração de renda para as comunidades por meio da cultura e do artesanato e a preservação da sociobiodiversidade brasileira.

"Não estamos aqui para pedir dinheiro, ninguém quer ficar rico, só queremos preservar nossa identidade, nossa cultura", resumiu Towé, cacique dos índios Fulni-ô, etnia que vive no interior de Pernambuco e tem, hoje, mais de 6 mil pessoas. Entre as falas, os caciques reconheceram também a importância do encontro e a possibilidade que ele traz de trocas de experiências entre diferentes etnias.

"A cultura indígena não está no passado, está no presente e no futuro do Brasil. Quem acha que índio tem que ficar isolado está muito enganado". Assim começou a fala de Ivana Bentes ao responder aos questionamentos. Além de apresentar toda a política indigenista do Ministério da Cultura, com ações como o apoio ao Quarup, o tombamento das línguas em extinção, a realização do encontro "Brasil Indígena: História, saberes e ações", o edital de Pontos de Cultura Indígena, entre outros, Ivana também falou da prioridade que o ministério está dando à pauta. "Estamos aqui para pensar essas diversas questões apresentadas de saúde, meio ambiente, da alimentação, do artesanato, partindo da cultura. Queremos debater isso partindo do reforço das expressões culturais para enfrentar as outras dificuldades."

A integração e valorização das identidades indígenas no País foi um dos pontos reforçados pela secretária. "Isso precisa ser preservado e cultivado não como um museu, mas sim ser difundido de forma generalizada. A maioria das pessoas, quando fala da cultura indígena, pensa no passado e não no presente. O MinC entende que a cultura indígena é o futuro do Brasil. Enquanto a sociedade brasileira não entender que os grupos indígenas fazem parte do contemporâneo, do presente, entender que a arte indígena deve ser apresentada nos grandes espaços de arte no Brasil, os índios vão ficar no gueto, invisíveis." comentou Ivana ao falar da potencialidade das produções indígenas no design, no artesanato e no próprio campo artístico. "Esse é um cartão postal do Brasil para o mundo e é uma distorção enorme ver esta riqueza simbólica sendo mostrada e toda essa movimentação de recursos não retornar para os próprios indígenas".

A questão do transporte também foi uma grande reivindicação. "Esse é um ponto crítico. Quem não tem mobilidade não consegue fazer política e uma parte do isolamento dos índios é porque eles não tem circulação, porque é caro sair da aldeia. Nós temos que entender isso como algo estruturante no campo cultural." comentou Ivana. "Essa é uma demanda que temos que começar a pensar em como estruturar, levar para outros setores, para a Funia, para o Ministério do Desenvolvimento Social, entre outros."

A conexão com a internet também foi outro assunto debatido. Juliano Basso, organizador da Aldeia Multiétnica lembrou que as antenas Gesac distribuídas pelo Ministério das Comunicações para proporcionar conexão à internet em banda larga não devem ser tratadas como solução completa se não forem instaladas junto a equipamentos para geração de energia elétrica. Basso contou ainda da solução encontrada pelos Yawalapiti, que instalaram placas de energia solar para gerar energia e poder usar as antenas. "Precisamos desse contato e dessa conexão. Enquanto estou aqui consigo manter o contato com meu povo na aldeia por whatsapp", contou o cacique Anuia, dos Yalawapati. "Uma rede de informação mais eficaz é essencial para que a política pública funcione e as comunidades indígenas sejam atendidas. Não podemos nos encontrar só uma vez por ano, precisamos ter esse contato contínuo, por isso essa comunicação é fundamental", complementou Ivana.

Além da roda de prosa, foi realizada uma oficina sobre o os editais da SCDC/MinC – 11 projetos serão inscritos pelas comunidades que participaram da Aldeia, no edital Pontos de Cultura Indígena e no edital Pontos de Mídia Livre.