Sem projeto, convenção do PSDB instala corrida para 2018 

Ataques à presidenta Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dão o tom da 12ª Convenção Nacional do PSDB que ocorreu, neste domingo (5), em Brasília. O evento reconduziu o senador Aécio Neves ao posto de presidente nacional da sigla.  

Convenção do PSDB - Foto: André Dusek/ Estadão Conteúdo

Com discursos inflamados, a tônica da convenção foi de ataques à presidenta Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, mesmo sem assumir publicamente a bandeira do impeachment, os tucanos professam que o atual governo pode acabar antes do previsto. “O governo vai retroceder em 2% da sua economia este ano e pode acabar, talvez, antes do que se imagina”, disse o senador Aécio Neves, derrotado por Dilma nas eleições de 2014.

Durante sua fala, Fernando Henrique Cardoso destacou que “o PSDB já mostrou que sabe governar”, ressaltou o ex-presidente, ao acrescentar que “o voto no PSDB é o voto na democracia, na decência e no desenvolvimento”. Um ponto alto da convenção foi a comemoração dos benefícios das privatizações dos governos FHC.

Na linha oposta, quando temas como o fim do fator previdenciário, a redução da maioridade penal e a legalização do aborto, apareciam no debate os caciques tucanos desconversavam.

Mesmo assim, Aécio Neves ainda destacou que o PSDB já deu provas de sua “maturidade política para conduzir o país” e reafirmou que “a história não se reescreve nem é referência de circunstâncias. O que foi construído nos governos do partido [PSDB] está aí para provar”.

Mesmo evitando falar em 2018, muitos dos presentes insinuaram o nome de Aécio Neves, derrotado em 2014, para concorrer nas próximas eleições. Ao final da convenção, o cenário de disputa deixou claro que 2018 já começou.

No entanto, até aqui, a sigla não apresentou projeto de país, pelo contrário, a cantilena dos tucanos continua sendo a de desgastar o governo Dilma, surfar na crise econômica e jogar na conta do governo os esquemas históricos de corrupção, agora investigados no governo Dilma.

Muito cacique para uma oca só

Com a tentativa de anuviar as cisões internas da sigla, a convenção previu que juntamente com a recondução de Aécio Neves ao cargo de presidente, na composição da nova executiva nacional, três nomes de São Paulo foram indicados pelo governador paulista Geraldo Alckmin.

São eles, o deputado federal Eduardo Cury (PSDB-SP), o deputado federal Sílvio França Torres (PSDB-SP), e o ex-deputado José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela. Já o ex-governador Alberto Goldman permaneceu como um dos vice-presidentes da legenda. Os quatro são tidos como homens de Alckmin dentro do PSDB.

O clima de divisão interna do PSDB, ficou claro na última terça-feia (30/06), quando Goldman enviou uma carta à direção nacional da sigla na qual escreve com todas as letras: "Nós não temos um projeto de país".

Ele ainda disparou contra o senador tucano de Minas Gerais e destacou "a falta de debate interno se agravou no período recente de Aécio Neves"

Petrobras na mira dos tucanos

Com um discurso inflamado sobre a retomada do crescimento, o senador José Serra (SP) criticou a política acesso população à serviços e produtos implementada pelo governo desde 2003. "O PT torrou recursos em consumo", disparou o tucano ao falar sobre a política de ampliação da renda de uma parcela dos brasileiros.

Como receita, Serra voltou a destilar seu veneno contra o regime de partilha proposto pelo governo Dilma e a maior empresa brasileira, a Petrobras.

Nordeste

A Convenção do PSDB também refletiu sobre os resultados das eleições de 2014 e reconfigurou sua estratégia em relação ao Nordeste, região considerada, nas últimas eleições, um dos principais trunfos eleitorais do PT para a vitória de Dilma Rousseff.

A deputada estadual Terezinha Nunes (PSDB-PE) afirmou que a sigla está unida no Nordeste e o objetivo será reverter o cenário em favor dos tucanos. “O Nordeste virou a página e abandonou o PT. E vamos virar a página com um novo governo em 2018”, afirmou a deputada.

Sobre vexame na Venezuela

Na oportunidade foi apresentado um vídeo gravado pela deputada venezuelana Maria Corina, que faz oposição ao presidente Nicolás Maduro. Em poucas palavras, a parlamentar disse que foi importante para os venezuelanos terem recebido a visita de senadores capitaneados por Neves.

A apresentação tentou sanar o vexame da ida dos parlamentares de direita à Venezuela, que sofreu várias críticas de deputados e senadores de diferentes partidos, que taxaram de desastrosa a inciativa do senador mineiro de viajar e se intrometer em assuntos políticos daquele país.