Sobre uma Copa América disputada no Brasil

O mês era julho. O ano era 1989. Com todas as seleções em clima de preparação para as eliminatórias da Copa do Mundo, que seriam realizadas no segundo semestre daquele ano, exceto a Argentina que já estava garantida no torneio. A forma de disputa era a seguinte: dois grupos com 5 seleções cada. Sem convidados especiais nem da América Central e do Norte, nem da Ásia, nem de lugar nenhum. A Copa América era disputada apenas por seleções sul-americanas.

Por Thiago Cassis*, no Pelota de Trapo

Tabela da Copa América de 1989 na Placar - Thiago Cassis

Se classificavam duas seleções de cada grupo, as quatro finalistas disputavam um quadrangular e quem tivesse mais pontos era campeão. Na minha opinião, um formato muito interessante e que tornava a primeira fase muito mais emocionante do que hoje em dia.

Para entender um pouco sobre o clima que antecedia o torneio, recorri ao guia da edição número 993, de 30 de junho de 1989, da revista Placar, que trazia um breve comentário sobre cada seleção.

O especial sobre a competição que começaria um dia depois de a revista chegar às bancas era antecedido nas páginas do semanário por uma reportagem intitulada “Prestígio despedaçado”, que comentava a recente turnê da seleção brasileira pela Europa. E foi um desastre (ainda mais no mundo pré 7 a 1). O Brasil foi goleado pela Dinamarca por 4 x 0, perdeu da Suécia por 2 x 1 e da Suíça por 1 x 0 e empatou com o Milan em 0 a 0.

E assim, vinha então o especial da quase ignorada Copa América do Brasil de 1989. Primeiro eram apresentadas as seleções do Grupo A: Brasil, que para os analistas da Placar, visava apenas preparar a equipe para as eliminatórias, mas apontavam que resultados catastróficos poderiam colocar em risco o emprego do treinador Sebastião Lazaroni; a Colômbia, que estava em ascensão com um clube colombiano tendo conquistado a Libertadores da América daquele ano; o Peru, treinado pelo brasileiro Pepe e que confiava no entrosamento do seu ataque; o Paraguai, que não contaria com suas estrelas Romerito do Barcelona, contundido, e o goleiro Chilavert, que não foi liberado pelo Zaragoza da Espanha e a mais fraca do grupo; Venezuela, que entrava para não perder seus jogos de goleada.

Para o Grupo B, a revista apontava a Argentina como a grande favorita, e destacava o meio de campo da seleção como seu ponto forte (e não era para menos), Basualdo, Batista, Burruchaga e Maradona já tinham conquistado a Copa do Mundo em 1986 e chegavam bem para tentar levantar a taça no Brasil. Sobre o então atual bi-campeão do torneio, o Uruguai, as ausências por contusões e expulsões em competições anteriores (essa moda uruguaia não começou com a mordida de Suarez) preocupavam o treinador da celeste, o grande craque Francescoli, por exemplo, não jogaria as duas primeiras partidas. Já a seleção chilena tinha como ponto forte sua defesa, o goleiro Rojas, que atuava no São Paulo (e ainda não tinha cortado seu próprio supercílio em campo) e era destacado pela revista. A Bolívia e o Equador (do zagueiro Quiñonez, que no mesmo ano seria campeão brasileiro pelo Vasco) completavam o grupo.

O primeiro jogo da competição foi entre Paraguai e Peru, vitória paraguaia por 5 x 2. No mesmo dia entraram em campo Brasil x Venezuela na cidade de Salvador, vitória brasileira, 3 x 1. Além da capital baiana, Goiânia, Recife e Rio de Janeiro sediaram a competição.

Mas as coisas se complicaram para a seleção brasileira. E vieram dois empates na sequência. A equipe canarinho ficou no 0 x 0 contra Peru e Colômbia. Na última rodada a seleção brasileira chegou podendo ser eliminada já na primeira fase. Brasil e Colômbia tinham o mesmo número de pontos, mas os brasileiros levavam vantagem no saldo de gols. Com o empate da Colômbia frente ao Peru, e a vitória do Brasil sobre o Paraguai por 2 x 0 em Recife, na primeira partida brasileira fora de Salvador na competição, os donos de casa estavam classificados. Bebeto marcou os dois gols.

Fase final

Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai chegaram à fase decisiva. Agora seriam todos contra todos e quem acabasse com mais pontos era o campeão. As seis partidas dessa etapa foram disputadas no Maracanã. E o melhor para o torcedor que assistiu é que eram rodadas duplas. Ou seja, no dia 12 de julho, por exemplo, entraram em campo Uruguai x Paraguai e logo na sequência Brasil x Argentina. Nesse caso brasileiros e uruguaios levaram a melhor. O Brasil bateu os argentinos por 2 x 0 e os uruguaios golearam o Paraguai por 3 x 0.

Na segunda rodada, dois dias depois, os uruguaios venceram os argentinos por 2 x 0 e o Brasil venceu o Paraguai por 3 x 0. Dessa forma, Brasil e Uruguai chegaram na última rodada, dia 16 de julho, empatados em tudo, pontos, vitórias e saldo de gols. Pesquisei muito mas não encontrei o que aconteceria se aquela partida terminasse empatada. Se teríamos um novo jogo ou se tinham chegado a um acordo para bater pênaltis, mesmo sem ser uma partida final no sistema mata-mata. Mas não precisou de nada disso. Romário marcou o único gol da partida e deu o título da Copa América para o Brasil após 40 anos de jejum. Mais de 130 mil pessoas acompanharam aquela partida no Maracanã. O Bebeto terminou artilheiro com 6 gols.

Esse foi o torneio continental de 1989. Se começou meio apagado, terminou em grande estilo, e ainda apresentou alguns jogadores que estariam no título mundial de 1994, principalmente a dupla de ataque, Romário e Bebeto. Em 2019 a Copa América vai passar aqui outra vez… e espero que não sejamos eliminados pelo Paraguai novamente.

obs.: Seleção Brasileira que disputou a final contra o Uruguai (no esquema 3-5-2): Taffarel; Mauro Galvão, Aldair e Ricardo Gomes; Mazinho, Dunga, Silas (Alemão), Valdo (Josimar) e Branco; Bebeto e Romário. Técnico: Sebastião Lazaroni.