Lágrimas de crocodilo também na Tunísia

A Grã-Bretanha vai reforçar ainda mais as medidas internas de segurança e anunciou uma resposta de “grande alcance” contra o “terrorismo” islâmico.

Por Carlos Lopes Pereira, no Jornal Avante

Ataque na Tunísia

A ameaça surgiu depois do ataque, na sexta-feira (26), a uma estância turística perto de Susa, na Tunísia, que custou a vida a trinta cidadãos britânicos. Um jovem tunisiano, empunhando uma metralhadora, disparou sobre turistas na praia, matando 38 pessoas e ferindo outras quatro dezenas.

Identificado como Seifeddine Rezgui, de 23 anos, foi abatido pelas autoridades tunisianas e, segundo o El País, de Madrid, não atuou sozinho. A polícia tunisiana já deteve vários “suspeitos” que poderiam ser coniventes com o atentado. O Ministério do Interior pediu ajuda à população para capturar “dois perigosos terroristas” cujos nomes e fotografias foram divulgados através da imprensa.

Um jornal tunisiano, Le Temps, dá pormenores sobre o jovem Rezgui. Originário de Gaafour, uma pequena aldeia no Noroeste do país, a 80 quilômetros da capital, frequentou o Ensino Superior na cidade santa de Kairuan. Antes de ser associado a círculos islâmicos radicais, “dançava break-dance e gostava do Real Madrid”. Em redes sociais como o Twitter e o Facebook, manifestava há muito tempo simpatia pela “guerra santa” do Islã.

À BBC, o primeiro-ministro David Cameron disse que o extremismo islamita “declarou guerra à Grã-Bretanha” e ataca os cidadãos britânicos em casa e no estrangeiro. “Somos um seu objetivo”, afirmou, referindo-se ao grupo Estado Islâmico (EI), que reivindicou a autoria do atentado. Cameron prometeu uma resposta de “grande alcance” e defendeu o seu envolvimento na luta contra o EI no Iraque – e na Síria –, onde a aviação britânica é a que mais bombardeamentos efetua, depois da norte-americana. E onde, no terreno, há centenas de conselheiros militares ingleses.

A ministra do Interior britânica, Theresa May, visitou o hotel Imperial Marhaba, nos arredores de Susa, onde ocorreu a carnificina, e falou de “um desprezível ato de crueldade”. O governo de Londres, explicou, está decidido a derrotar os autores do ataque. “Os terroristas não vencerão”, garantiu May, que se reuniu com os seus homólogos da Tunísia, Alemanha, França e Bélgica, países que também contam vítimas mortais em Susa.

Hipocrisia ocidental

O jornal The Guardian noticiou entretanto que o governo britânico vai acelerar as medidas securitárias, previstas no programa eleitoral com que os conservadores obtiveram a maioria absoluta nas legislativas de maio. Visam combater as mensagens “extremistas” nas redes sociais e proibir atividades de organizações “extremistas, não necessariamente violentas”.

Também na Tunísia serão adotadas novas medidas de segurança, “dolorosas, mas necessárias”, nas palavras do presidente Beyi Caid Essebi, de 88 anos, que lidera o processo de normalização constitucional no país, após a conturbada “primavera árabe” que eclodiu em 2011.

O governo – nomeado há seis meses e desgastado por greves laborais e protestos populares – mobilizou centenas de policiais e soldados para vigiar praias, museus e outros locais turísticos. Ao mesmo tempo, determinou o encerramento de 80 mesquitas salafistas e de associações laicas democráticas e proibiu homens com menos de 35 anos de viajar para a vizinha Líbia. Ali se movimentam grupos radicais islâmicos que alegadamente recrutam e treinam jovens “terroristas” tunisianos.

Estas medidas não impediram a debandada da Tunísia de milhares de turistas ocidentais. A ministra do Turismo, Selma Elloumi, classificou o ataque de Susa como “uma catástrofe econômica”, que afundou as esperanças do país norte-africano de se recuperar das consequências do ataque ao Museu do Bardo, em Tunes, em março, igualmente contra turistas (22 mortos).

É claro que a Grã-Bretanha aplaude tais medidas de cariz autoritário. Na edição de domingo, The Observer escrevia que “é no melhor interesse do Ocidente fazer tudo o que pode para evitar que a Tunísia siga os passos da Líbia para a instabilidade crônica, despertando uma nova vaga de migrantes no Mediterrâneo”.

Aqui, importa denunciar a hipocrisia ocidental, também na Tunísia.

No quadro da sua política imperialista, os Estados Unidos, apoiados pelos seus aliados habituais – como a Grã-Bretanha – bombardeiam, invadem, ocupam e destroem estados como o Iraque e a Líbia. Tentam fazer o mesmo com a Síria. Massacram populações civis. Para atingir os seus objetivos, criam, armam e treinam organizações terroristas como a Al-Qaida ou o Estado Islâmico. E, depois, quando há atentados brutais e sanguinários como os da Tunísia, atribuídos àqueles grupos, derramam lágrimas de crocodilo e “esquecem-se” da sua responsabilidade direta…