Empresa irá aumentar em 80% produção de transgênicos no país

A empresa norte-americana Dow Agroscience anunciou nesta segunda-feira (30) a inauguração de um centro de pesquisas biotecnológicas em Cravinhos, no interior paulista. Com os novos laboratórios, numa área de 4 mil metros quadrados, a empresa pretende incrementar estudos para encurtar em dois anos o tempo para o desenvolvimento de novas sementes transgênicas.

Milho transgênico

Atualmente, a Dow produz sementes de algodão e, em parceria com a Monsanto e com a Du Pont, variedades de milho – todas geneticamente modificadas. Com a ampliação, pretende criar novos híbridos transgênicos sob medida para as condições de clima e solo brasileiros e assim elevar em 80% sua produção voltadas às lavouras da América Latina.

Para o agrônomo Leonardo Melgarejo, do grupo de trabalho sobre agrotóxicos e transgênicos da Associação Brasileira de Agroecologia, o portfólio de sementes promete plantas resistentes à seca, à salinidade e doenças, entre outras. "Porém, são promessas feitas há 20 anos. O que se vê até agora são plantas resistentes a herbicidas e que carregam seus próprios inseticidas. Tudo isso vem para a mesa. Os transgênicos reforçam a ideia do filme O Veneno está na Mesa, de Silvio Tendler”, afirma.

De acordo com a assessoria de imprensa da Dow, serão realizadas na planta de Cravinhos etapas do processo de modificação genética até então feitos em laboratórios localizados nos Estados Unidos, bem como testes de regulamentação, controle de qualidade de sementes e outras análises de proteínas transgênicas.

Para produzir mais transgênicos no Brasil, a Dow investiu mais de US$ 100 milhões de 2013 para cá. Na filial brasileira, 280 funcionários trabalham exclusivamente em pesquisa e desenvolvimento de inseticidas, fungicidas, herbicidas e sementes geneticamente modificadas.

Patrocinadora dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão disputados no Rio de Janeiro, a multinacional tem sede em Indianápolis, Indiana, nos Estados Unidos. No ano passado, suas vendas em todo o mundo chegaram a US$ 7,3 bilhões.

Os planos da Dow de incrementar pesquisas são divulgados num momento em que a resistência aos OGM volta à pauta. Com o avanço no Congresso do Projeto de Lei 4.148/2008, do deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS), que desobriga informações nos rótulos dos alimentos sobre a presença de transgênicos, setores organizados da sociedade reacenderam a discussão sobre os riscos dos OGM.

De 2005 para cá, foram autorizadas no país 21 variedades de milho, cinco de soja, 12 de algodão e uma de feijão – ainda não cultivada comercialmente. Uma das variedades de soja (RR) ocupa 21 milhões de hectares. A área total cultivada com sementes transgênicas está na faixa dos 45 milhões a 50 milhões de hectares.

Ainda não há estudos que garantam a segurança dos transgênicos à saúde humana e ambiental. E como muitas dessas sementes trazem os genes de bactérias capazes de matar pragas – sem contar o fato de que onde tem transgênico tem uso aumentado de agrotóxicos –, há indícios de que podem ser nocivas. Pesquisas mostram que os agrotóxicos causam diversos tipos de câncer e danos ao sistema nervoso central e a diversas glândulas no organismo humano.

A marca está associada ao maior acidente químico já acontecido no mundo. Entre os dias 2 e 3 de dezembro de 1984, em Bhopal, na Índia, vazaram 40 toneladas de gases letais de uma fábrica de pesticidas da Union Carbide. A Dow, que posteriormente comprou a fábrica localizada na cidade indiana, se recusava a assumir a responsabilidade pela contaminação do solo e do lençol freático de Bhopal.