Na Câmara, ex-gays dizem que nunca foram homossexuais de fato

Os temas debatidos recentemente na Câmara dos Deputados já não surpreendem. Porém, nesta quarta-feira (24), um debate no mínimo inusitado foi discutido no Legislativo brasileiro. A polêmica na Comissão de Direitos Humanos da Casa referia-se a existência ou não de “ex-gays”. Para uma plateia formada, pela maioria, por parlamentares evangélicos, grande parte dos depoentes atribuíram a existência da homossexualidade por abusos na infância e a mudança de suas sexualidades a deus e à igreja.

- Foto: Alex Ferreira / Câmara dos Deputados

"Homossexualidade se tornou um modismo", disse o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), autor do requerimento para a audiência pública. Bastante animado com o tema, Feliciano disse que toda a sociedade precisava assistir aos depoimentos. "Oxalá que toda a sociedade estivesse assistindo", afirmou, pedindo aos deputados que procurassem o vídeo e gravassem 5 mil cópias em DVD de "alta resolução para esparramarem" pelo país.

Coube ao deputado Adelmo Carneiro Leão (PT-MG) uma das falas contrárias a dos parlamentares evangélicos. O petista disse que era errado afirmar que todos os gays sofreram abuso sexual. "Não podemos dizer que todos sofreram abusos, certamente não foi. Nem que o abuso leva a homossexualidade. Não é", disse.

Em seu depoimento, o pastor e escritor Joide Pinto Miranda começou e encerrou sua exposição durante a audiência pública levantando uma foto antiga sua em que mostrava sua fase de travesti e depois mostrando um cartaz ao lado de sua família. Miranda disse ainda que sua experiência pode provar que ninguém nasce gay. "É uma conduta que pode ser desaprendida", afirmou.

Quem também não poderia falta na audiência, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que já se declarou por diversas vezes não gostar de gays, chegou a fazer uma intervenção para pedir que o presidente da Comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), se declarasse impedido de conduzir os trabalhos. O pedido foi indeferido pelo petista, que disse que, apesar de ter sido contrário à realização da audiência, estava tendo um comportamento isento. "Não me julgue por aquilo que vocês eventualmente façam", respondeu Pimenta para Bolsonaro.

Criticados por parlamentares presentes, os deputados Erika Kokay (PT-DF) e Jean Wyllys (Psol-RJ), defensores da causa gay, não participaram desta audiência.