Aldo Rebelo está na Rússia para ampliar cooperação em CT&I

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, cumpre, desde segunda-feira (15), agenda oficial em Moscou com o objetivo de ampliar a cooperação entre Brasil e Rússia nas áreas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I).

Senado ouvirá Aldo Rebelo nesta terça sobre planos do MCTI - Agência Senado

A visita de trabalho inclui a preparação das negociações com a Rússia na área de CT&I, tendo em vista a participação da presidenta Dilma Rousseff na 7ª Cúpula do Brics (que reúne Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul) na cidade russa de Ufá, nos dias 8 e 9 de julho.

O diálogo Brasil-Rússia na área de CT&I ocorre no âmbito do Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica assinado entre os dois países em novembro de 1997. Inclui perspectivas de parcerias nas áreas do espaço, da nanotecnologia, da biotecnologia e das tecnologias da informação e comunicação (TICs). E também diretrizes para a cooperação entre parques tecnológicos e institutos de inovação, tendo como referência, na Rússia, o Centro de Inovação de Skolkovo.

“Os governos brasileiro e russo são protagonistas na constituição do Brics e do fundo (comum de reservas de câmbio), assinado em Fortaleza (durante reunião com os cinco países, ocorrida no dia 15 de julho de 2014)” disse o ministro. “E pensamos que a cooperação entre Brasil e Rússia pode ser ampliada e diversificada”, completou.

O ministro participou, na terça-feira (16) de reunião com a Agência Espacial Federal Russa, a Roscosmos, representada pelo seu diretor, Igor Komarov. Do lado brasileiro também estiveram presentes o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB/MCTI), José Raimundo Coelho, e o chefe da Assessoria Internacional do MCTI, embaixador Carlos Henrique Cardim.

O encontro teve como objetivo fazer uma revisão da cooperação existente entre os dois países na área espacial, com vistas à sua ampliação. Uma das medidas é aumentar a participação brasileira nas estações de calibração do sistema russo de posicionamento e navegação, denominadas Glonass.

A estação de calibração é utilizada para aperfeiçoar a precisão do posicionamento dos satélites. Pelo lado brasileiro, como são instaladas em ambientes acadêmicos, são utilizadas no processo de formação de nossos recursos humanos na área espacial.

No Brasil,já existem duas estações desse tipo instaladas na Universidade de Brasília (UnB). Outras duas serão instaladas no Instituto Tecnológico, em Recife (PE), e em Santa Maria (RS). Durante a reunião com a Roscosmos, foi discutida a possibilidade de equipar as regiões Norte e Sudeste com outras duas estações.

A parceria com a Rússia para a instalação de uma estação para o monitoramento de resíduos espaciais também foi objeto de discussão. Já tiveram início os trabalhos para a instalação de uma estação como esta no Laboratório Nacional de Astrofísica – LNA, em Itajubá, MG. Para o Brasil, essa cooperação também é muito importante para a formação de recursos humanos na área espacial.

Museu da Cosmonáutica

O ministro visitou o Museu da Cosmonáutica de Moscou, onde foi recebido pelo seu vice-diretor, o ex-cosmonauta Aleksandr Ivanovich Laveikin.

O museu conta histórias marcantes das experiências do homem no espaço. Logo na entrada, pode-se observar uma estátua do russo Iúri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo cosmos, junto a uma réplica do Sputnik (Companheirinho, em russo), que foi o primeiro satélite artificial do mundo.

O vice-diretor apresentou ao ministro e à sua comitiva peças, como a cápsula usada em 1961 por Gagarin; sua roupa original de cosmonauta; fragmentos rochosos obtidos na Lua pela missão norte-americana Apolo, da qual participou Neil Armstrong; naves, foguetes e objetos que traduzem o cotidiano dos cosmonautas no espaço.

O museu expõe também dois cachorros empalhados, Belka e Strelka, que viajaram para o espaço, em 1960, e retornaram vivos. Uma réplica da Estação MIR, o projeto mais avançado da então União Soviética, lançado em 1986, também chama a atenção para os detalhes das missões. O próprio vice-diretor do museu, Laveikin, contou que passou seis meses a bordo da MIR, em 1987.

Ao ministro, Laveikin afirmou ter visto do espaço a Europa, os Estados Unidos, a Rússia e a América do Sul. “Dos Estados Unidos, eu via muitos pontos iluminados por rodovias que se cruzavam; da Europa, pontos iluminados de muitas cidades próximas umas das outras; da Rússia, uma faixa grande e escura, representando as vastas áreas despovoadas; e da América do Sul, muito verde e muitos rios, cruzando o Brasil”, disse.

Aldo também fez uma visita à Agência de Notícias Itar-Tass, que está completando 110 anos. O ministro foi recebido pelo editor chefe da agência, Marat Abulkhatin, e concedeu entrevista.

Parque tecnológico

Aldo visitou nesta quarta a Fundação Skolkovo, o maior parque tecnológico em construção na Rússia. Foi recebido por seus diretores para participar de uma reunião com o objetivo de discutir perspectivas de cooperação em áreas como desenvolvimento de pesquisas científicas, de tecnologias para a inovação, de formação de recursos humanos. Discutiu-se também a possibilidade de realizar a interação da Skolkovo com parques tecnológicos brasileiros, como o de São José dos Campos (SP).

“Há muitas razões para que a cooperação com a Rússia seja ousada, profunda e duradoura”, disse Aldo, incluindo a parceria com a Skolkovo como uma das ações promissoras do diálogo Brasil-Rússia na área de ciência, tecnologia e inovação.

“Essa iniciativa é ambiciosa e ousada. Torcemos para que seja bem sucedida”, disse o ministro sobre o parque tecnológico.

“Temos o prazer de constatar que, nas atuais circunstâncias, a cooperação científica com o Brasil pode ser muito produtiva”, afirmou Vasily Belov, vice-presidente para assuntos de inovação da Skolkovo.

O parque tecnológico russo fica a 15 quilômetros de Moscou, em uma área de 400 hectares, que terá ao todo 2,5 milhões de metros quadrados construídos. No complexo, previsto para ficar pronto em 2020, funcionará uma cidade tecnológica, com universidade, laboratórios, incubadoras de empresas, startups, além de conjuntos habitacionais, escolas, centros comerciais, de medicina e de recreação.

A previsão é que Skolkovo seja moradia para 25 mil habitantes e local de trabalho, estudo e pesquisa para outros 30 mil.

Segundo Anna Nikina, chefe da Assessoria Internacional, são cinco as áreas prioritárias de atuação do parque tecnológico: espacial, nuclear, biomedicina, energia e tecnologia da informação. O complexo fará a integração entre startups, investidores, universidade, parque tecnológico, parceiros empresariais e comerciais além de instituições promotoras de soluções de infraestrutura.

Anna Sidorovskaya, chefe do departamento de infraestrutura da fundação, disse que o governo russo já investiu o equivalente a US$1,2 bilhão na construção do parque; e os investidores privados, cerca de US$ 1,8 bilhão.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) já sinalizou com a Fundação Skolkovo possibilidades de cooperação, por meio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM). Durante a reunião, o ministro apontou a importância de aprofundar e ampliar a cooperação nas cinco áreas prioritárias da Skolkovo. O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo, afirmou que há uma série de programas na área espacial, por exemplo, que podem ser objeto de desenvolvimento conjunto.

Para Rebelo, uma das ações mais urgentes é a celebração de um acordo para a presença de estudantes e de professores brasileiros no centro russo. “Queremos enviar alunos e professores brasileiros para passar temporadas aqui e também receber alunos e professores russos no Brasil”, disse.

A sugestão de acordo para ampliar o intercâmbio estudantil partiu também de Edward Crawley, presidente do Instituto de Ciência e Tecnologia de Skolkovo. Com uma trajetória de 40 anos de vida acadêmica no Instituto de Massachusetts (MIT) e tendo participado da concepção do programa espacial do Governo Obama, Crawley disse ao ministro que sua missão é “construir o ITA (em referência ao Instituto de Tecnologia de Aeronáutica, localizado em São José dos Campos) no parque russo”. Ele afirmou que, na Rússia, se sente como Richard Smith. Oriundo do MIT, Smith foi convidado pelo brigadeiro Casemiro Montenegro para ajudar a criar o ITA. O norte-americano foi o primeiro reitor da instituição.

Como resultado da reunião, o ministro disse que formará no MCTI um grupo de trabalho, com representantes da Secretaria de Tecnologia e Inovação (SETEC), da Subsecretaria de Coordenação das Unidades de Pesquisa (SCUP), além do CNPEM, da AEB e do INPE. Este grupo fará a interlocução com uma equipe da Fundação Skolkovo com objetivo de estabelecer os programas de cooperação.

Após a reunião, o ministro e sua comitiva, formada pelo presidente da AEB e chefe da Assessoria Internacional do MCTI, embaixador Carlos Henrique Cardim, fizeram uma visita ao parque tecnológico. Guiada por Anna Sidorovskaya e Anna Nikina, a delegação conheceu as obras dos centros de pesquisa, residenciais, de medicina, do edifício da universidade, da vila das startups, bem como dos laboratórios e escolas.