Agricultora diz que nunca deixou filhos pequenos trabalharem 

Nascida em Santa Maria da Vitória (BA), Lindaci Maria Cortes, 51 anos, teve uma infância diferente de muitas crianças. Brincar e estudar não faziam parte do seu dia a dia. Era na lavoura, ajudando seu pai a capinar, plantar e colher que ela preenchia o tempo. E ainda ajudava sua mãe no trabalho de lavadeira.  

Agricultora diz que nunca deixou filhos pequenos trabalharem

“Comecei com 10 anos. Lembro que tinha que andar muito até o rio onde minha mãe lavava as roupas, carregando trouxas nas costas e cabeça. Além disso, ajudava com a limpeza da casa e
na cozinha”, conta.

Lindaci conheceu a escola aos 11 anos, mas a vontade de estudar durou apenas dois anos. “Mal sei escrever meu nome.” A dificuldade familiar fez com que ela desistisse dos estudos. “Não tínhamos dinheiro para roupa, material escolar, passávamos necessidade. Estudar como dessa forma?”

Aos 14 anos casou e continuou a trabalhar com o que aprendeu desde pequena, lavoura e afazeres domésticos. Assim permaneceu até os 29 anos, quando chegou em Brasília e foi trabalhar como doméstica. Hoje, ela é agricultora familiar no assentamento Chapadinha, na região de Planaltina, na capital federal.

Mãe de três filhas e avó de sete netos, dois criados por ela, Lindaci conta que nunca deixou nenhum deles trabalhar. “Sempre estimulei a estudar. Não quero que eles passem pela mesma história”. A agricultora quer vê-los em uma faculdade. “ É o sonho de todo pai e também o meu, como avó. Se depender de mim, eles terão um futuro melhor”.

A determinação de Lindaci contribui para a redução do trabalho infantil no Brasil. Entre 2001 e 2013, o número de crianças e adolescentes nessa situação diminuiu em 60%. No país, o trabalho precoce é proibido por lei. Só pode entrar no mercado de trabalho quem tem mais de 14 anos na condição de aprendiz.

Conjugação de esforços

A secretária nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ieda Castro, explica que o avanço do combate ao trabalho infantil no Brasil está associado à conjugação de esforços.

Na semana em que se comemorou o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, celebrado na sexta-feira (12), ela destaca a execução do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), que se articula com uma rede de proteção social para combater a exploração de crianças e adolescentes.

“Ampliamos a oferta dos serviços de convivência para que aqueles que estejam nessa situação possam participar de atividades no contra turno escolar. O Programa Mais Educação, que permite às crianças permanecerem na escola no contra turno escolar, com atividades variadas, é um exemplo”, frisa Ieda Castro.

Busca ativa

A secretária destaca a importância da Busca Ativa, que alcança quem não acessa serviços públicos e a rede de proteção social. O serviço ajuda a identificar situações de exploração e possibilita a inclusão de crianças e adolescentes nesta situação, e suas famílias, no Cadastro Único.

“Talvez a maior dificuldade que temos hoje é identificar crianças e adolescentes nas atividades informais. Muitas vezes é nas próprias residências, ou nas de terceiros, que permanece a exploração do trabalho infantil. Nas atividades no campo isso também está ligado ao fator cultural e desconsidera as consequências negativas do trabalho precoce”, ressalta a secretária.

Ieda Castro afirma que Dia Internacional de Combate ao Trabalho Infantil é uma oportunidade para sensibilizar, informar, debater e dar destaque à questão. “Muita coisa já foi feita, mas precisamos de mais; de uma ação intersetorial que se multiplique entre os três entes da federação, descentralizar essas ações estratégicas e que cada ente governamental se comprometa.”