Plataforma traz informação sobre ofício das baianas de acarajé

Informações sobre a vida e o ofício das baianas de acarajé estarão disponíveis, a partir do mês de julho, em um banco de dados digitalizados, batizado de Plataforma Oyá Digital. A iniciativa pioneira é da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na Bahia (Iphan-BA), em comemoração aos 10 anos do registro como Patrimônio Cultural do Brasil dessa prática tradicional ligada ao culto dos orixás.

Baiana do Acarajé - Reprodução

O Iphan investiu R$ 100 mil no desenvolvimento do projeto de organização e digitalização do acervo documental e na implantação da plataforma digital, que contém os dados cadastrais da Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (Abam), da Secretaria Municipal de Ordem Pública de Salvador (Semop) e da Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab).

"A Plataforma Digital é um instrumento de valorização, difusão e divulgação, junto à sociedade, de um bem cultural plenamente incorporado à cultura brasileira", destaca o superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim. No Brasil, há mais de cinco mil baianas de acarajé, sendo que a maioria se concentra no estado da Bahia e um expressivo número em Salvador.

Oyá Digital

O nome Plataforma Oyá Digital é uma homenagem ao orixá patrono do ofício de baiana de acarajé. A plataforma permitirá a localização das baianas em um mapa e disponibilizará ferramentas de pesquisa para obter dados sobre elas, utilizando diversas categorias e possibilitando o desenvolvimento de informações sobre o perfil socioeconômico das baianas de acarajé.

Para a antropóloga do Iphan e coordenadora do projeto, Maria Paula Adinolfi, com a realização desta ação, o Instituto cumpre uma das metas prioritárias em relação à salvaguarda do ofício das baianas de acarajé, que é a produção de conhecimento sobre o perfil das baianas em termos quantitativos e qualitativos.

A Plataforma Oyá Digital poderá subsidiar os pesquisadores na produção de pesquisas mais detalhadas e os gestores no planejamento e execução de políticas públicas que beneficiarão as baianas de acarajé. "Além disso, vai permitir que o público geral tenha acesso rápido e eficiente às informações e localize a baiana mais próxima de onde estiver, favorecendo, assim, a divulgação e o potencial de venda do acarajé pelas tradicionais baianas", ressalta Maria Paula.

Patrimônio Imaterial

O ofício das baianas de acarajé, registrado como Patrimônio Imaterial Brasileiro pelo Iphan em 14 de junho de 2005, é a prática tradicional de produção e venda nos espaços públicos, em tabuleiro, das chamadas comidas de baiana, feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás, amplamente disseminadas, principalmente, na cidade de Salvador.

Dentre as comidas de baiana destaca-se o acarajé, bolinho de feijão fradinho preparado de maneira artesanal, em que o feijão é moído em um pilão de pedra (pedra de acarajé), temperado e posteriormente frito no azeite de dendê fervente. Para sua comercialização, são utilizados vatapá, caruru e camarão seco, como recheio, e no tabuleiro também são encontrados outros quitutes, tais como abará, passarinha (baço bovino frito), mingaus, lelê, bolinho de estudante, cocadas, pé de moleque e outros.

A indumentária das baianas, característica dos ritos do candomblé, constitui também um forte elemento de identificação desse ofício, sendo composta por turbantes, panos e colares de conta, que simbolizam a intenção religiosa.

A receita do acarajé é originária do Golfo do Benim, na África Ocidental, tendo sido trazida para o Brasil pelos escravos vindos daquela região. Os bolinhos de feijão fradinho, destituídos do recheio utilizado para o comércio, são, inclusive, oferecidos nos cultos às divindades do candomblé, especialmente a Xangô e a Oyá (Iansã).

Os aspectos referentes ao ofício das baianas de acarajé e sua ritualização compreendem: o modo de fazer as comidas de baianas, com distinções referentes à oferta religiosa ou à venda informal em logradouros soteropolitanos; os elementos associados à venda, como a indumentária própria da baiana e a preparação do tabuleiro e dos locais onde se instalam; os significados atribuídos pelas baianas ao seu ofício e os sentidos conferidos pela sociedade local e nacional a esse elemento simbólico constituinte da identidade baiana.

A feitura das comidas de baiana constitui uma prática cultural de longa continuidade histórica, reiterada no cotidiano dos ritos do candomblé e constituinte de forte fator de identidade na cidade de Salvador.