Mercosul e acordos bilaterais pautam encontro de Dilma e Vásquez

O presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, foi recebido nesta quinta-feira (21) pela presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Vásquez foi recepcionado com honras de chefe de Estado, incluindo desfile da cavalaria do Batalhão da Guarda Presidencial, salva de 21 tiros de canhão e recebido pela presidenta na rampa da entrada principal da sede do governo.

Dilma e Vasquez

“Tenho certeza que Uruguai e Brasil continuarão parceiros inseparáveis, empenhados na consolidação de um espaço de paz, cooperação, democracia e crescimento com justiça social em nosso continente e também no mundo”, afirmou a presidenta Dilma.

Essa é a primeira visita do uruguaio ao Brasil depois que reassumiu a presidência do país, em março. Tabaré Vásquez já presidiu o Uruguai de 2005 a 2010 e, em 2014, foi eleito para suceder o presidente José Pepe Mujica.

De acordo com o Itamaraty, a visita oficial tem o objetivo de aproximar os dois países e ampliar as parcerias comerciais e de investimentos. Em 2014, o fluxo comercial entre Brasil e Uruguai foi US$ 4,8 bilhões.

Os dois países também têm interesses comuns em projetos de infraestrutura, como a restauração da Ponte Internacional Barão de Mauá, que liga o município brasileiro de Jaguarão (RS) à cidade uruguaia de Río Branco; e as obras de dragagem e implantação de terminais de carga da Hidrovia Uruguai-Brasil.

A presidenta Dilma afirmou que o Brasil pretende estabelecer um "intercâmbio permanente de eletricidade" com o Uruguai, após uma série de empreendimentos realizados pelos dois países. "Todas essas iniciativas fazem parte de um propósito. Esse propósito é estabelecer processo de intercâmbio permanente de eletricidade entre os dois países", disse.

A parceria já havia sido anuniada durante a inauguração do parque eólico de Artilleros, o primeiro empreendimento da Eletrobras a gerar energia no exterior. A parceria vai promover a importação de energia do Uruguai, o que se refletirá no preço da tarifa praticado internamente.

Segundo a Eletrobras, a energia produzida pelo parque se destinará ao sistema elétrico do Uruguai, mas a capacidade instalada naquele país vai permitir que a geração de excedentes de energia seja intercambiada com o sistema elétrico brasileiro. O investimento do projeto é de US$ 103 milhões, dos quais US$ 23,5 milhões foram bancados pela Eletrobras – o restante foi pago pela estatal uruguaia UTE e pela Corporación Andina de Fomento.

Mercosul

Em pronunciamento à imprensa Dilma e Vázquez destacaram a importância do Mercosul. Ambos os líderes salientaram que é preciso "adaptar às novas realidades" e "flexibilizar" as normas que impedem seus membros de estabelecer acordos comerciais de maneira individual ou em ritmos distintos.

Os líderes também defenderam o avanço nas negociações para um acordo de livre-comércio com a União Europeia e informaram que vão propor um calendário de negociações para concluir neste ano o acordo de comércio bilateral entre os blocos econômicos.

"O Mercosul deve se adaptar sempre às novas circunstâncias", declarou a presidenta Dilma, destacando que o Mercosul “é um ambicioso projeto” que deu “resultados muito expressivos”.
A presidenta pontuou que o bloco multiplicou por dez o comércio interno em duas décadas. “Mas não podemos nos acomodar e precisamos melhorar e avançar mais”, acrescentou a presidenta.

Vázquez, por sua vez, endossou o discurso da presidenta e reiterou a necessidade de revisão das normas que impedem seus membros de avançar em acordos comerciais com outros blocos ou países de forma individual.

"Nossos países não vivem em solidão. Fazem parte de um bloco regional que tem um enorme potencial, mas que hoje não está à altura de sua razão de ser", declarou.

"Não somos iludidos e nem impacientes, mas também não seríamos sinceros se disséssemos que hoje, como está, nos satisfaz", disse.

Segundo o presidente do Uruguai, "sem renunciar aos objetivos a longo prazo", é "necessário e urgente alinhar o bloco com as realidades políticas e econômicas do momento", "restabelecer sua credibilidade" e "gerar a necessária flexibilidade" para que seus membros expandam suas fronteiras comerciais através de novos acordos.

Nesse sentido, Vázquez manifestou seu pleno apoio à tese manejada pelo Brasil, que aponta para uma permissão das negociações com outros blocos ou países que se desenvolvem em diferentes ritmos, de acordo com o interesse de cada membro do Mercosul.

"Vistas as necessidades pontuais, coincidimos e estimamos que seja necessário um acordo que possibilite ritmos e velocidades diferentes nas negociações", disse o presidente do Uruguai.

Vásquez é o segundo líder internacional recebido por Dilma esta semana. Na terça (19), o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, esteve no Palácio do Planalto para assinatura de acordos e anúncio de investimentos que totalizam US$ 53 bilhões.

Venezuela

A presidenta Dilma disse que conversou com Vásquez sobre a situação política da Venezuela. “Eu e o presidente Tabaré Vázquez coincidimos que seu legítimo governo e suas forças devem buscar solucionar pacífica e democraticamente, no marco constitucional do país, os conflitos e as dificuldades e os desafios existentes”, afirmou Dilma.

Ajuste fiscal

Indagada por jornalistas, a presidenta também falou sobre o corte orçamentário a ser anunciado nesta sexta (22).

"Nenhum contingenciamento vai paralisar o governo", declarou Dilma sem antecipar qual será o montante do contingenciamento, mas reafirmando que será "adequado". Segundo ela, o bloqueio de recursos é como uma economia feita em casa para se pagar contas.

“O governo fará na sexta o anúncio sobre seu contingenciamento. Tem gente que acha que o contingenciamento do governo vai ser pequeno. Não vai. Vai ser um contingenciamento, e dou o conceito, não o número: não tão grande que não seja necessário nem tão pequeno que não seja efetivo, que não provoque nada. Tem de ser absolutamente adequado. Nenhum contingenciamento paralisa governo. O governo gasta menos em alguma coisa. É isso”, explicou a presidenta.