Diálogo pode superar ódio contra minorias nas redes sociais 

Continua nesta quinta-feira (21), na Câmara dos Deputados, o 12º Seminário LGBT do Congresso. Com o tema “Nossa vida d@s outr@s – A empatia é a verdadeira revolução”, o evento discute como a população LGBT e outras minorias na sociedade – os negros, as pessoas com deficiência, as mulheres e os pobres, são alvo de ódio e discriminação. 

Diálogo pode superar ódio contra minorias nas redes sociais - Agência Câmara

Representantes da sociedade civil, religiosos e deputados defenderam nos debates realizados nesta quarta-feira (20), na abertura do evento, a ampliação do diálogo com a diversidade para combater o discurso de ódio presente em redes sociais contra minorias, em especial contra a comunidade LGBT.

Para Raquel Recuero, pesquisadora das áreas de redes sociais e comunidades virtuais e professora da Universidade Católica de Pelotas (RS), afirmou que analisou redes sociais e viu associação de discursos de ódio contra minorias, como homossexuais e negros, em especial em uma cultura de indiretas com piadas críticas. “A piada reforça o discurso negativo.”

De acordo com ela, deve haver um enfrentamento não em relação às pessoas que proferem discursos de ódio, mas ao discurso em si. A pesquisadora defendeu o investimento em educação para as redes sociais, para evitar a reprodução de discurso de ódio.

Para o coordenador da Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT, deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), o Facebook é o lugar por excelência do ódio. “As pessoas estão se excluindo porque não conseguem dialogar”, lamentou.

De acordo com ele, é necessário ampliar a escuta empática entre a comunidade LGBT e a população cristã. O parlamentar comentou sobre os ataques que sofre em redes sociais: “Não sou uma máquina. A minha mãe assistindo a isso é doloroso.”

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) afirmou que as manifestações de ódio, desrespeito e desconsideração nas redes sociais “projetam-se em ondas na realidade objetiva”. Segundo a parlamentar, o discurso das redes sociais compõe e produz a realidade. “Temos de analisar como o discurso da fobia de gênero produz uma violência que chega a níveis insuportáveis”, afirmou.

Religião e humor

A secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), pastora luterana Romi Bencke, disse que o grande desafio hoje em relação à violência é a intolerância religiosa, em especial a intolerância cristã.

“Essa intolerância nos mostra a falta da abertura para estabelecer um diálogo saudável entre tradição e o processo de modernização. A falta de diálogo faz com que a própria religião fique fora do tempo”, disse.

De acordo com a pastora, o Estatuto da Família em discussão na Câmara é uma forma de projeto restaurador do mundo proposto por uma visão religiosa sem diálogo, assim como as propostas de “cura gay”, a redução da maioridade penal e a idealização da mulher como mãe.

“A base da intolerância está na dificuldade do reconhecimento no outro. É uma arrogância identitária”, avaliou. Segundo Romi Bencke, a “extrema direita” no Brasil descobriu que a religião é um elemento interessante para levar adiante suas concepções de mundo.

Já o padre da diocese de Lorena (SP), Wagner Ferreira da Silva, falou que o ódio nas redes sociais é a ponta do iceberg da violência. Ele afirmou que a paz corre perigo quando a dignidade humana não é respeitada, quando a convivência não é orientada para o bem comum: “A violência é o mal, é inaceitável como solução para os problemas.” Segundo ele, o uso da violência constitui deformação das práticas religiosas.

Pedro HCM, idealizador do canal de humor Põe na Roda, composto por jovens LGBT, contou que o humor foi a forma encontrada para poder falar sobre questões próprias da comunidade e de sexualidade em geral.

“Juntei duas características minhas, que são fazer humor e ser gay. É curioso conseguir cativar a empatia com heterossexuais pelo canal. Conseguimos de maneira leve e sem tabu tratar de temas que normalmente são mais sérios”, explicou o humorista.

O seminário é realizado por três comissões da Câmara (Legislação Participativa; Cultura; e Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática) a pedido dos deputados Jean Wyllys, Luiza Erundina (PSB-SP), Glauber Braga (PSB-RJ), Janete Capiberibe (PSB-AP) e Luciana Santos (PCdoB-PE). O evento continuará nesta quinta-feira (21), com debates sobre agressão, injúria e difamação pela manhã; e sobre tolerância e respeito às diferenças à tarde.

Do Portal Vermelho
De Brasília, com Agência Câmara