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Ziul Serip escreve para a Palestina

O poeta Ziul Serip contribui esta semana com a Letras Vermelhas com dois poemas dedicados à Palestina. Natural de Porto Alegre, Luiz Gustavo Pires, que usa o heteônimo de Ziul, cursou Direito, porém há mais de 30 anos dedica-se à poesia.

Além de ter publicações em diversas antologias, blogs, sites e revistas espcializadas, como Zunaí e Mallarmagens, Ziu Serip está finalizando seis livros, entre eles Qitã Gazzah [êxodo] – poemas para a Palestina, que Letras Vermelhas apresenta um trecho.

Leia dois poemas:

Qiṭā’ Ġazzah قطاع غزة [ êxodo ] poemas para a Palestina

silêncio é cortar gargantas

silêncio é cortar gargantas
invadir o deserto dos cactos
escavar a carne do poema

e vão-se sangrando
cadafalsos de mármore
do rossio – vísceras e crânios – em rótulas

silêncio é lamber lagartixas
despedaçar pétalas plásticas
transcender o ópio do poema

e vão-se despertando
falsos buquês de vinhos
do átrio – nenúfares secos camurça crua – em agonia

silêncio é maquiar a face
dar a outra face à estátua
escorrer as lágrimas do poema

e vão-se arquejando
corpos adúlteros encharcados
de lírios – lascas de carne unhas cirúrgicas – em luxúria

silêncio é rever o sorriso carnívoro
entre espectros espelhos esculpir o silêncio
da escapular vazante do poema

e vão-se destilando
semi-luas pelos elmos de aço nas cavidades
dos alvéolos – alfazema que se comparte – em calendários

deslizam serpentes sobre o paraíso

deslizam serpentes
sobre o paraíso :

– língua-urtiga escarlate –

voam mandrágoras
sob a cor anêmona das manhãs

gotejam pelo ventre
o nardo dos ciprestes
o mel dos narcisos

escorrem gotas de sereno
sobre as vértebras das romãs

esvoaçam pelas colinas
dentes-de-leão

alastra-se a névoa-açucena
nas tardes de incenso e mirra :

– cardos em torpor –

trigais sobre o ventre noturno
da páprica-terra – solitários –

deslizam serpentes
sobre o paraíso :

– uma corça dispara em resistência de hortelã –

paraíso de imortais
jardim de delícias
lugar de recompensa