Companhias brasileiras batem estrangeiras em rentabilidade

Apesar do câmbio, as empresas brasileiras com ações em bolsa obtiveram, em 2004 e 2005, rentabilidades muito superiores às de companhias estrangeiras. No ano passado, um conjunto de 154 companhias estrangeiras registrou, em média, uma rentabilidade de 6,6

Para o mesmo quesito, o retorno médio de 102 companhias abertas brasileiras do setor industrial foi de 13,5%, segundo estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Além da rentabilidade, o estudo do Iedi destaca o nível de endividamento das empresas, no qual transparece a maior facilidade das companhias estrangeiras em obter recursos a custos inferiores e a prazos mais longos. No ano passado, o endividamento das empresas brasileiras representava apenas 21% do seu ativo, enquanto nas estrangeiras essa proporção superou 50%.
Para o diretor-executivo do Iedi, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, as duas situações são inter-relacionadas. "Se você opera com maior alavancagem, você pode ser mais agressivo para ganhar mercado com escala, trabalhando com margens menores", diz ele. As empresas estrangeiras, como operam em escala transnacional, trocam margem por fatia de mercado, completa. As 154 empresas estrangeiras, a maior parte americanas e com ações negociadas na bolsa de Nova York e na Nasdaq, estão concentradas em cinco segmentos: siderurgia/mineração, química, papel e celulose, alimentos e máquinas e equipamentos.
Mesmo setorialmente, observa Almeida, as companhias localizadas no Brasil obtêm uma rentabilidade muito superior à de indústrias do mesmo segmento localizadas no exterior. A exceção foi o setor químico. Nele, o retorno sobre a receita foi de 6,2% para as multinacionais e de 6,3% para as companhias com sede no Brasil. Em mineração e siderurgia (onde estão os resultados de companhias como a Vale do Rio Doce, CSN, e outras grandes do setor), a rentabilidade doméstica foi 70% maior que a obtida por concorrentes do mesmo setor no exterior.

Mudança

Em troca de uma margem (rentabilidade) menor, as empresas multinacionais obtêm uma massa de lucro muito maior, observa o diretor do Iedi, justificando porque faz sentido crescer e ser grande quando a rentabilidade de pequenas companhias – como poderiam ser considerada as brasileiras diante das companhias estrangeiras – é, percentualmente, maior. "É um resultado ilusório", diz ele. De acordo com os dados do Iedi, as 154 companhias estrangeiras analisadas obtiveram, em 2005, uma receita líquida de US$ 801 bilhões e geraram, com esse resultado, um lucro líquido de US$ 52,7 bilhões. Já as 101 companhias brasileiras (descontando a Petrobras) faturaram cerca de US$ 100 bilhões , com lucro líquido próximo a US$ 9 bilhões.

O trabalho do Iedi analisa os dados de 2004 e 2005 e capta, assim, a mudança que está ocorrendo no perfil de financiamento das companhias brasileiras. No total das companhias comparáveis às da amostra estrangeiras (39 empresas dos mesmos cinco setores) o endividamento de curto prazo caiu de 30% do total para 26% em 2005 – ano em que as estrangeiras concentraram 21% de suas dívidas no curto prazo. Ao mesmo tempo, estas mesmas indústrias brasileiras aumentaram seu financiamento com recursos próprios de 36% para 40% do total, um percentual (em 2005) superior ao das estrangeiras, que ficou em 37,8% do total. No Brasil, o setor siderúrgico apresentou expressivo aumento na participação de recursos próprios no financiamento: de 29,8% do total em 2004 para 37,9% em 2005.
Efeito positivo

A melhora no perfil de endividamento, explica o diretor do Iedi, reflete o maior acesso a captações de recursos via emissão de papéis no exterior e uma menor dependência do mercado financeiro tradicional. "Temos uma elite de empresas que já consegue acesso a um padrão de financiamento semelhante ao de companhias estrangeiras", pondera Gomes de Almeida, acrescentando que essa é uma situação ainda bastante restrita. "Para a grande maioria das empresas brasileiras, financiar investimento ainda é um problema", acrescenta ele. Em 2005, diz o diretor do Iedi, a valorização do câmbio ainda ajudou o resultado das empresas brasileiras, mas esse efeito – contábil em muitos casos – já está no fim segundo sua avaliação.

O efeito positivo do dólar baixo, explica ele, aparece quando a empresa possui dívidas em dólar porque sua valorização entra na contabilidade como uma redução de despesas, ajudando o resultado. "Se uma empresa possuía uma dívida de US$ 100, ela entrou como R$ 300 na sua contabilidade de 2004 e caiu para R$ 240 em 2005, gerando uma redução de despesa de R$ 60", exemplifica, com valores e câmbio hipotéticos. "Essa despesa menor virou rentabilidade maior", conclui ele. "Mas esse efeito está no fim e os balanços começam a registrar a queda na rentabilidade das companhias exportadoras", argumenta. No ano passado, isso já ocorreu entre o início e o final do ano. No primeiro trimestre, a rentabilidade das companhias analisadas pelo Iedi (sem Petrobras) foi de 14,02% sobre a receita líquida, e terminou o último trimestre em 11,67%. "Dado o câmbio, já que a valorização do real se acentuou neste início de ano, podemos esperar resultados piores, em termos de rentabilidade, para as empresas brasileiras", projeta o diretor do Iedi.

As informações são do
jornal Valor Econômico