Pedro Guerreiro: Cúpula das Américas

A 7ª Cúpula das Américas, que se realizou nos dias 10 e 11 de abril, no Panamá, terminou sem que tenha sido possível chegar a acordo quanto a uma declaração final. Tal fato não constitui uma surpresa.

Por Pedro Guerreiro, no Jornal Avante!

Cúpula das Américas

Desde 1994, ano em que por iniciativa dos EUA tiveram início estas cúpulas, importantes transformações se verificaram na América Latina e no Caribe – a 7ª Cúpula das Américas é disso testemunha. Longe vão os tempos em que os EUA decretavam todas as regras e os resultados do jogo.

Isolados, os EUA não tiveram condições para continuar a impor a exclusão de Cuba, cuja participação nesta cimeira era exigida por todo o subcontinente latino-americano. Cuba que, sem claudicar da sua história, dos seus princípios, da sua soberania e solidariedade internacionalista, coerente com os valores da sua Revolução, participou na cúpula denunciando as ações de agressão dos EUA – como a continuação do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto a Cuba há mais de 50 anos – e afirmando o aprofundamento do processo de atualização do seu modelo econômico com o objetivo de aperfeiçoar o socialismo, avançando no desenvolvimento e consolidando as conquistas da Revolução cubana.

Mas esta não foi a única derrota política dos EUA nesta cúpula. As suas tentativas de, às vésperas da realização do encontro, fomentar a divisão em torno da República Bolivariana da Venezuela, procurando ostracizá-la, resultaram igualmente fracassadas. Ao contrário do pretendido, a inaceitável decisão da administração norte-americana de declarar a Venezuela como uma “ameaça inusual e extraordinária à segurança” dos EUA foi ampla e abertamente criticada e condenada, tendo ficado isolados, não a Venezuela, mas os Estados Unidos. Aliás, como ficou demonstrado pelas importantes tomadas de posição dos países que integram a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), a União de Nações Sul-americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) – entre outras que, por todo o mundo, fizeram questão de se fazer ouvir.

Na cúpula, a Venezuela deixou bem clara a exigência de que os EUA ponham fim à sua política de ingerência, respeitando a soberania e a independência da Venezuela e a Revolução bolivariana, anulando a decisão de declarar a Venezuela uma “ameaça” e terminando com os planos de conspiração que dos EUA se desenvolvem contra a Venezuela e o seu povo – uma exigência reafirmada em mais de 11 milhões de assinaturas de venezuelanos.

No Panamá, os EUA não lograram quebrar a unidade latino-americana e caribenha em questões essenciais. No entanto, a cimeira das Américas (na senda da Organização de Estados Americanos) constitui um sério desafio do imperialismo norte-americano à cooperação, integração e unidade latino-americana e caribenha. Recorde-se que a origem destas cúpulas está associada ao projeto de domínio econômico e político consubstanciado na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ambicionada pelos EUA e derrotada na Cimeira das Américas, realizada em 2005, em Mar del Plata (Argentina), pela ação determinante dos então presidentes Chávez, da Venezuela, Kirchner, da Argentina, e Lula, do Brasil.

Em intervenções proferidas na 7ª Cimeira das Américas, muitas das quais com um claro cunho anti-imperialista, fez-se ouvir a voz dos povos – e não apenas por parte dos representantes dos países que integram a Alba.

Perante os grandes desafios que se colocam, a solidariedade com a luta dos povos latino-americanos e caribenhos pela soberania e independência, por avanços democráticos e progressistas, por transformações revolucionárias, pela construção do socialismo, é mais necessária do que nunca.