Dilma critica quem “aposta contra o país” e reafirma diálogo

Reafirmando a defesa do diálogo, ponto central do discurso da vitória após sua reeleição em outubro do ano passado, a presidenta Dilma Rousseff criticou aqueles que apostam “contra o Brasil” na política do "quanto pior, melhor". A declaração foi feita nesta sexta-feira (20), em evento com mais de 3 mil assentados do MST, em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul. O líder do MST, João Pedro Stédile, defendeu o governo Dilma e afirmou que campanha contra a presidenta é "crime constitucional".

Dilma durante Abertura Oficial da Colheita do Arroz no Rio Grande do Sul - Agência Brasil

“Tem gente no Brasil que aposta no 'quanto pior, melhor'. São pescadores em águas turvas, apostam contra o Brasil. Mas não se pode apostar contra o seu país. Só podemos superar esta situação momentânea de dificuldade juntos”, salientou a presidenta, destacando que o Brasil é “um país equilibrado, nosso desequilíbrio é conjuntural”.

A presidenta defendeu também a aprovação do ajuste para sairmos dessa situação “no curto prazo”. Dilma afirmou que o país vive um momento tenso, mas ressaltou: "Quero dizer para vocês com a mais absoluta sinceridade: nos últimos seis anos, o governo tomou todas as medidas possíveis para a crise não atingir a população. Absorvemos tudo isso. Agora, nós não temos como continuar a absorver tudo. Não estamos pedindo para ninguém assumir a responsabilidade. Algumas coisas continuamos assumindo, mas não temos como assumir tudo”, argumentou Dilma, destacando que medidas que beneficiem a população mais pobre, como a desoneração da cesta básica de alimentos, serão mantidas.

Dilma lembrou que, em governos anteriores, o Brasil enfrentava a crise quebrando. “No passado, quando tinha problema internacional, o país quebrava no dia seguinte. Nós temos reserva. Os movimentos no mercado internacional encontram um bloqueio que reduz o impacto. Somos um país equilibrado, nosso desequilíbrio é momentâneo. O país tem que continuar crescendo, gerando emprego e com políticas sociais”.

Divergência se resolve com diálogo

A presidenta prosseguiu afirmando que as divergências são naturais e que seu governo respeita a opiniões e manifestações, enfatizando que está aberta ao diálogo. “Ninguém tem que concordar com ninguém em tudo, mas nós queremos diálogo, muito diálogo, sugestões. Queremos que vocês digam, porque só assim que se aperfeiçoa. Nada nasce pronto, tudo é fruto do esforço e trabalho, e é isso que dignifica a relação do governo com o MST, o assentado. Queremos dialogar de igual para igual”, afirmou.

Dilma foi recebida com festa pelos agricultores do assentamento sob o coro de "Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma". Ela inaugurou a unidade de secagem e armazenagem de grãos da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap) e visitou outro assentamento, onde acompanhou a abertura simbólica da Colheita do Arroz Ecológico.

O evento contou com a presença do governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), e dos ministros Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência, Pepe Vargas, da Secretaria de Relações Institucionais, Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, e Tereza Campelo, do Desenvolvimento Social, além de lideranças do MST, CUT (Central Única dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), MBA (Movimento dos Atingidos por Barragens) e MNLM (Movimento Nacional de Luta pela Moradia).

Taxação de grandes fortunas

Antes do discurso da presidenta, o líder do MST, João Pedro Stédile, reforçou a necessidade do diálogo, principalmente no que se refere às medidas econômicas.

“Não dá para acertar as contas cortando gastos sociais. Queremos o equilíbrio fiscal, mas quem tem que pagar não são os trabalhadores, são os ricos e milionários", pontuou Stédile, destacando que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deveria debater suas medidas para recuperar a economia com os trabalhadores.

“Os ministros da senhora têm que ser mais humildes. Humildes para ouvir o povo, para saber quais são as propostas que o povo quer… Se o orçamento tem problema, por que o 'seu Levy' não vem discutir conosco?".

Stédile também criticou o modelo de agronegócio. “Queremos um novo modelo agrícola, que se baseie na produção de alimentos saudáveis para evitar que continue a proliferação do câncer”, afirmou.

Golpe não é contra Dilma, mas contra o povo

O líder dos trabalhadores sem terra também repudiou a elite conservadora que está por trás do movimento golpista de 15 de março. Segundo ele, trata-se de “uma classe média reacionária” que não aceita o avanço dos mais pobres.

“Vocês acham que é para derrubar a Dilma por causa de algum crime? Eles querem dar um golpe contra os programas sociais. A classe média não aceita assinar a carteira da sua empregada doméstica. A classe média não aceita que o filho de um agricultor esteja na universidade. A classe média não aceita que os negros andem de avião. A classe média não aceita que o povo tenha um pouco mais de dinheiro”, pontuou.

Tragam propostas, não o golpismo

Stédile advertiu: “Para eles e para a Globo, que é o verdadeiro partido ideológico que dirige a direita deste país, nós queremos dizer: vocês não se atrevam. Sejam um pouco mais politizados e venham pra rua para debater ideias, não com esses desvios fascistas e reacionários. Nós não temos problema em discutir ideias nas ruas, mas não aceitamos o fascismo e a discriminação que prega inclusive a violência e a morte”.

Ele enfatizou que os movimentos sociais não vão abandonar as ruas e informou que dia 1º de abril, data de aniversário do golpe militar de 1964, o MST realizará plenárias para articular a militância que vai voltar às ruas no dia 7 de abril, juntamente com as centrais sindicais.

“As ruas são espaço de discussão política. Haverá novos protestos. Quem faz campanha aberta para derrubar um governo comete um crime constitucional", afirmou Stédile.

Do Portal Vermelho, com informações da NBR