Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse a interação humana

O Século 19 foi marcado por invenções tecnológicas que vieram encurtar estradas e aproximar pessoas, como a invenção da locomotiva, que contribuiu para melhorar a economia, pois as ferrovias repartiam o comércio de transportar produtos com os portos. As distâncias foram encurtadas, as viagens tornaram-se mais rápidas com as locomotivas.

Por Fátima Teles*, para o Vermelho

Geração viciada em internet - Reprodução

A invenção da eletricidade possibilitou iluminar noites sombrias e através da luz elétrica a noite começou a ter vida e varar madrugadas entre pessoas e boemia. A invenção da fotografia e da radioatividade, com o Raio X, trouxeram inovações como o registro da natureza, das pessoas, do tempo histórico, do corpo pela imagem.

A invenção do telefone quebrou limites geográficos e interligou pessoas do mundo inteiro através de fios elétricos. Nós podemos comparar a invenção do telefone a da internet no final do Século 20 que ligou fatos, acontecimentos e pessoas em segundos em todo o Planeta Terra.

Ruy Barbosa, político e escritor brasileiro, contemporâneo dessas invenções já antevia o que poderia acontecer de forma negativa com o progresso que ora se mostrava e não parava de crescer. Para ele, chegaria o dia que a interação humana e as relações sociais, familiares e afetivas seriam ultrapassadas pela tecnologia de modo que as pessoas se comunicariam por máquinas e não mais pelo toque das mãos, dos olhos, dos lábios e da boca.

Esse dia chegou. Vivemos hoje atrelados a tecnologia que cada vez mais avança e nos impõe o seu uso, quer na vida profissional, quer na vida pessoal. Andamos com um smartphone nas mãos como se ele fosse o mentor de nossas vidas. Ele deixou de ser apenas algo e tornou-se alguém: Estamos fazendo do smartphone um companheiro ou uma companheira inseparável, do qual ou da qual não podemos viver sem sua companhia.

Zigmunt Bauman, sociólogo polonês, fala sobre a falência das relações sociais pela tecnologia, pelas redes sociais, explanando a liquidez dos sentimentos.

A tecnologia avançou tanto que já não temos para onde ir ou ao menos sabemos para onde irmos. A vida real tornou-se a vida virtual e por ela nos relacionamos, de forma rápida e objetiva sem nos preocuparmos com o outro, uma vez que não o vemos, não nos interessa o que sente ou pensa.Com essa forma de nos comunicar perdemos a nossa capacidade de desenvolver qualidades essenciais para a nossa vivência em sociedade, como a tolerância, o respeito, a paciência.

As teclas mantém o comando de nossas vidas e quando somos contrariados resolvemos num simples apertar de tecla o problema, desfazendo a “amizade” ou o contato com quem nos aborreceu ou está nos aborrecendo.

Para onde caminhamos?

*Assistente social