Pedido de refúgio de sírios no Brasil aumentou 9.000% em 4 anos

Devido à guerra na Síria, que já dura quatro anos, e é considerada pelo ACNUR (Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados) como a “pior crise humanitária da nossa era”, o Brasil se tornou o principal destino de refugiados sírios na América Latina e viu o número de pedidos de refúgio aumentar 9.000% em quatro anos.

Refugiados recebem ajuda na Síria

O Brasil abriga atualmente cerca de 1.600 cidadãos sírios reconhecidos como refugiados – o maior grupo entre as 7.600 pessoas, de mais de 80 nacionalidades diferentes, que vivem nesta condição no país.

Desde o início do conflito na Síria, 3,9 milhões de sírios procuraram refúgio em outros países e outros 8 milhões de deslocados dentro da própria Síria.

A busca de refúgio no Brasil por parte dos sírios vem crescendo regularmente desde o início do conflito em 2011. À época, apenas 16 deles viviam no país como refugiados. Mas, somente em 2014, o Brasil recebeu um número recorde de pedido de refúgio: 1.326, o que representa um aumento de quase 9.000% em relação ao início do conflito.

Esse aumento se deve, em grande medida, ao fato de que devido ao recrudescimento do conflito, o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) adotou, em outubro de 2013, uma Resolução Normativa para desburocratizar a emissão de vistos para cidadãos sírios e outros estrangeiros afetados pela guerra e dispostos a solicitar refúgio no país.

A medida aumentou o número de chegadas e impactou no perfil do refúgio no Brasil, uma vez que o Conare vem aprovando quase a totalidade das solicitações de refúgio relacionadas à guerra na Síria.

Adaptação e perspectivas

A favor do Brasil pesa para os sírios o fato de eles serem atendidos por organizações não governamentais, com o apoio do ACNUR, do Governo do Brasil e do setor privado e terem a oportunidade de reestruturar a vida após o período de adaptação.

O mesmo não ocorre nos países vizinhos à Síria. De acordo com a entidade da ONU, não há grande perspectiva para a grande maioria dos 3,9 milhões de refugiados que se encontram na Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito. Isso porque eles não vislumbram a possibilidade de voltar para casa num futuro próximo e tem poucas oportunidades de recomeçar a vida em outra parte do mundo.

Além disso, a situação dos deslocados dentro do país são preocupantes, pois “as condições de vida estão se deteriorando em uma escala alarmante”, diz a Acnur.

A vida no Brasil

Dona Yuna*, professora de formação que vive em Brasília desde 2013 teve que adquirir novas habilidades para se adaptar à realidade brasileira. Ela e o marido vendem guloseimas como “baklawa”, “ma’amul”, “namura” e “warbat bil eshta”, nos shoppings da capital.

“Morávamos em Damasco e não pretendíamos deixar nossa casa”, relembra Mohammed, marido de Yuna, um engenheiro civil que trabalhava como funcionário público. “Um dia, minha filha mais velha e eu estávamos no trânsito e ficamos presos no fogo cruzado. No outro, minha outra menina viu nosso carro explodir em frente de casa. Por dois anos ela não conseguiu dormir, acordava várias vezes para checar se as portas e janelas estavam trancadas. Ainda hoje faz isso”, conta ele.

As filhas de Yuna e Mohammed têm hoje 13, 11 e 3 anos de idade, todas dominam o idioma português e frequentam escolas públicas no bairro onde moram. “A vida aqui não é fácil, tudo é muito caro e nossos recursos praticamente acabaram. Mas estamos seguros, nos sentimos acolhidos, isso é o mais importante”, conclui Yuna.

Fonte: Opera Mundi