Cunha se faz de vítima; Sibá tenta afastar disputa política da CPI 

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), citado na Operação Lava-Jato como suspeito de corrupção, resolveu fazer um jogo de cena indo espontaneamente à CPI da Petrobras para, em seu depoimento, se declarar inocente e vítima de perseguição política. 

Cunha se diz vítima; Sibá tenta afastar disputa política da CPI - Agência Câmara

Para a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ), a reunião da CPI foi “vergonhosa”. “O que vi aqui foi uma reunião de felicitações. Quando, na verdade, cabe a esta comissão indagar, perguntar, questionar, inquirir. E foi o que menos vi na manhã de hoje”, disse a parlamentar, antes de apresentar uma série de perguntas ao presidente da Câmara.

A petição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que incluiu o nome de Cunha na lista de políticos investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) está baseada nas doações recebidas por ele de empresas e no depoimento do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, que disse em depoimento ter entregado quantias em dinheiro em uma casa em um condomínio no Rio de Janeiro.

Cunha decidiu, para se defender, atacar outros.“O procurador não teve o mesmo trabalho de analisar as doações oficiais feitas por empresas a outros políticos, como, por exemplo, o senador Delcídio Amaral (PT-MT)”, disse Cunha.

E insistiu em acusar o senador petista de ter sido o responsável pela indicação da diretoria de internacional da Petrobras, e não o PMDB. “O próprio Paulo Roberto Costa detalha em seu depoimento que o senador Delcídio do Amaral (PT) foi quem teria indicado o senhor Cerveró para a diretoria internacional”, relatou Cunha, batendo na tecla da “natureza política” nos pedidos de investigação.

Cunha ressaltou ainda que Fernando Soares, o Fernando Baiano, nunca foi operador do PMDB. “Eu o conheci, ele representava uma empresa espanhola que atuava no Porto Açu, do empresário Eike Batista”, disse, ao negar a participação de Baiano como operador pelo PMDB.

Cunha leu trechos da petição do MPF que sugerem que “os vultosos valores recebidos por Eduardo Cunha (em princípio como “doações oficiais”) de várias empresas que já se demonstrou estarem diretamente envolvidas na corrupção de parlamentares”.

Para Cunha, neste caso, a criminalização das doações oficiais de campanha é um exemplo de como o pedido de investigação do MPF foi "direcionado".

E novamente citando parlamentares do PT, Cunha estranhou que os investigadores “se deram ao trabalho de investigar” quem mais recebeu recursos da Camargo Corrêa, tendo sido ele apontado como beneficiário de R$ 500 mil, citando o nome de outros parlamentares que receberam recursos da empresa.

Disputa política

O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC) rebateu as afirmações de Cunha de que o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) para abertura de inquérito contra ele é uma tentativa de transferir a crise para o outro lado da rua, referindo-se ao Palácio do Planalto.

Para Sibá, a CPI não pode se deixar contaminar pela “disputa política”, pois “essa questão de um lado da rua e de outro lado da rua remete a isso (disputa política). É uma discussão em que eu não quero entrar, não podemos nos contaminar por esse gesto. Não ajuda o momento que o Brasil precisa passar”.

Depoimento dos parlamentares

A participação dos parlamentares no depoimento foi um jogo de cartas marcadas, de apoio a Cunha. Os deputados cobraram resultados nas investigações da Lava Jato, criticando as acusações que, segundo eles, são feitas em bases frágeis.

O relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), ao falar na sessão, avaliou que “as histórias são longas e contraditórias e a delação premiada deixa muito claro que não basta a versão, precisa do fato, a materialidade para que se comprove o que se está falando.” Segundo ele ainda, os criminosos declarados, que se beneficiam da delação premiada, não podem ser considerados “mocinhos e heróis.”

Para o relator, do ponto de vista jurídico, a abertura de inquérito não representa condenação, mas do ponto de vista político, a inclusão do nome na lista representa julgamento que não está associado ao processo judicial, afirmando que “muitos relacionados são inocentes e irão provar isso no andamento do processo.”

Do Portal Vermelho
De Brasília, com agências 

Matéria alterada às 18h13m para acréscimo de informações