Impressões de uma jovem intelectual comunista
Penso que a prática militante de quem quer transformar a realidade tem que olhar para o presente e para o futuro de forma coordenada e consciente. Primeiro porque a história humana não corresponde a uma linha reta. Ela é cheia de altos e baixos, fruto da ação do homem, das condições objetivas do tempo e do espaço e de algum grau de clareza sobre como interferir no seu curso.
Por Clarissa Peixoto*
Publicado 25/02/2015 12:30
Precisamos, portanto, fazer uma leitura coordenada e transversal desses elementos para melhor agir sobre o momento presente, para melhores frutos colher no momento futuro. Em segundo lugar, consciência pressupõe um ponto de partida, uma visão de mundo que propõe uma forma de organização da vida e um método de aplicá-la.
Diante dessa consciência, é preciso nortear a prática, dela vai depender o êxito da escalada e a garantia de que chegaremos num lugar mais ou menos esperado. Nesse caso, claro, é necessário contar também com a reação por parte de quem deseja a manutenção do status quo. Não posso crer – mitologicamente, até porque sou ateia – numa revolução que nunca chega, me furtando a alterar positivamente, no agora, a vida de um monte de gente. Como já disse o Science, um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar. Penso, portanto, que a tática da negação e da mitificação das relações de poder não promove mudanças necessárias no campo de batalha para partimos de novas e menos atrasadas condições objetivas em busca de nossa estratégia central que é o socialismo.
No entanto, não pode haver mudança momentânea que justifique o esmorecimento da perspectiva histórica. Ela é propulsora da própria existência humana. Não fosse concreta a capacidade dos seres humanos de transformar, não teríamos alterado tantas vezes o curso dos acontecimentos. É também por esse motivo que é coerente acreditar que a utopia pode ser construída, pode ser amanhã. Tão equivocado quanto olhar para os governos como representação única do estado opressor, é acreditar que a profunda transformação que nos propomos – esteja ela no estágio de acúmulo de forças que estiver –, aconteça apenas em uma das esferas de representação desse mesmo estado. E essa compreensão não pode ser retórica, precisa se fazer prática coordenada e consciente.
Não podemos menosprezar o poder da mudança no aqui e agora, ela carrega em si o próprio espírito transformador. Mas, não podemos nos isolar numa bolha e colocar tapa-olhos para o que ainda é sinônimo do atraso, da exploração e da submissão. O capitalismo existe. A opressão imperialista não é expressão ultrapassada. A humanidade ainda não é livre.
*Clarissa Peixoto é membro do PCdoB de Santa Catarina