Operando o anti-monopolismo de Marx-Kalecki

Nos umbrais da maior desigualdade jamais registrada, especialistas de Hong Kong, Berlim, Paris, Lousiana, Havana, Porto, Málaga, Las Palmas, Rio de Janeiro e Salvador, entre outras localidades, comporão Mostra Científica Internacional no campo das Pesquisas Operacionais, na qual uma proposta de aplicação da teoria monopolização, do economista marxista polonês Michał Kalecki, será apresentada.

Rilton Primo especial para o Portal Vermelho

Paris 1, Panthéon-Sorbonne, França/ Universidad de La Habana, Cuba - Foto-montagem

A meio do anúncio de que, em 2016 o 1% mais rico do mundo terá mais ativos que os 99% restantes (previsão feita pela organização humanitária internacional Oxfam, dias antes do Fórum Econômico Mundial de Davos -Suiza), confirmou-se que a proposta de aplicação prática, no Brasil, da teoria kaleckiana pela qual se afere o grau de monopolização econômica, com uso do Excell, será apresentada entre os dias 10 e 14 de março de 2015 no 11th International Workshop on Operations Research (11ª Mostra Internacional em Pesquisas Operacionais), evento organizado conjuntamente pelas Université Paris 1, Panthéon-Sorbonne e pela Universidad de La Habana, com o apoio da Asociación Latinoamericana de Investigación Operativa, da Benemérita Universidad Autónoma de Puebla, da Oficina del Historiador de La Habana e da Sociedad Cubana de Matemática y Computación (SC Investigación Operacional).

A revisão kaleckiana partiu dos economistas Rilton Primo (Bahia, Brasil) e José Rodríguez (Tabasco, México), que recuperam parte da perspectiva desenvolvimentista prebischiana e furtadiana, findando por valer-se de uma das versões metodológicas do Herfindahl-Hirchman Index (HHI) para aferição do grau de concentração econômica, o Hannah and Kay’s Concentration Axioms, aplicável com o Excell via estudos de Paul Latreille (Swansea University, Reino Unido) e James Mackley (Ofcom, Londres).

O cenário não é sem precedentes, pelo contrário. O Instituto Mundial de Pesquisa Econômica do Desenvolvimento, parte da Universidade das Nações Unidas (Finlândia), calculou, já em 2014:

Os 50% mais pobres da população respondem por apenas 1% da riqueza do planeta […]. Os adultos com patrimônio de mais de US$ 2.200 estão na metade superior da escala mundial de riqueza, enquanto aqueles que detêm patrimônio superior a US$ 61 mil constituem os 10% mais ricos da população mundial […]. Quase 90% da riqueza do mundo está sob o controle de moradores da América do Norte, Europa e dos países de renda elevada na região Ásia-Pacífico, como o Japão e a Austrália. Embora a América do Norte abrigue apenas 6% da população adulta mundial, ela responde por 34% do patrimônio domiciliar total. Quase um terço (32,6%) da riqueza dos 10% mais ricos fica nos EUA. O Brasil possui 1,3% da riqueza mundial – abaixo, portanto, do que representa a sua população: 2,8%. […]. A concentração de renda nos países varia de maneira considerável, com os 10% mais ricos detendo 70% da riqueza dos EUA, ante 61% na França, 56% no Reino Unido, 44% na Alemanha e 39% no Japão. De acordo com Anthony Shorrocks, diretor do instituto de pesquisa, o número de indivíduos com alto patrimônio em um país depende das dimensões da população, do patrimônio médio e do nível de desigualdade patrimonial. “A China não obteve posição forte entre os países mais ricos porque o patrimônio médio dos chineses é modesto e a distribuição da riqueza é equilibrada, sob os padrões internacionais.”

Já a edição de 2013 do Relatório da Riqueza Global, lançado pelo banco suíço Credit Suisse, tinha estimado que 41% de toda a riqueza do mundo estava concentrada nas mãos de 1% da população global, entre o qual, detalhe, existiam 315 mil adultos brasileiros. Visivelmente, não haverá reversão à tendência, exceto a sistêmica.

Debate promissor, contam-se entre outros especialistas membros de seu “Program Committee”, F. Cucker (Hong Kong), J. Daduna (Berlin), S. Allende (Chair, Havana), M. Cottrell (Chair, Paris 1), L. Pedreira (La Coruña), P. Gourdel (Paris 1), L. Salete (Rio Grande do Sul), M. Florenzano (Paris 1), J. Cochran (Lousiana), P. Gaubert (Paris 12), J.Guddat (Honor Chair, Berlin), C. Hardouin, (Paris Ouest Nanterre) RC. Herrera (Las Palmas), A. Iussem (Rio de Janeiro), C. Bouza (Havana), B. Cornet (Paris 1-Kansas), B.-A. Wickström (Berlin), A. Xavier (Rio de Janeiro), M. Negreiros (Fortaleza), L. Sandoval (Puebla), M. A. León (Pinar del Río), F. Ferreira (Porto) e G. Joya (Malaga).

Estes Workshops vem se reafirmando como evento de intercâmbio internacional dedicado a aplicações de modelos e métodos das Pesquisas Operacionais (Operations Research, OR) para a tomada de decisão sobre problemas relacionados com o desenvolvimento harmônico do ser humano e seu ambiente, tendo por um dos principais objetivos promover a interação técnica entre trabalhos que ofereçam a fertilização cruzada das áreas da medicina, ciências biológicas e sociais, orientadas para o bem-estar humano, estimulando a participação de pesquisadores interessados em organizar sessões multidisciplinares e diferentes abordagens ao mesmo problema.