Homenagem a Benedito Cintra reúne 150 pessoas na Freguesia do Ó

Líder comunitário, expoente do movimento negro e dirigente sindical. Vereador, deputado estadual e assessor da Presidência da República. Pesquisador da cultura africana, compositor e diretor de escola de samba. Ao longo de mais de 40 anos de vida pública, Benedito Cintra construiu uma trajetória tão diversificada quanto brilhante. Cerca de 150 pessoas se reuniram na sexta-feira (16) para passar a limpo essa história e prestar uma homenagem a seu protagonista.

André Cintra, para o Portal Vermellho

Benedito Cintra - Arquivo pessoal

O evento, batizado de “Encontro de Amigos e Homenagem ao Mestre Benedito Cintra”, ocorreu num clube da Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo (SP). Em meio a uma animada roda de samba e a um “festival de caldos”, preparado pelo chef Mário Luiz Cortes, Cintra recebeu autoridades políticas, dirigentes partidários, lideranças sociais, amigos do samba e da cultura, além de familiares.

“Esta festa é reflexo da bela trajetória de um líder que sempre procura unir os mais diferentes segmentos em torno de interesses comuns e avançados”, afirmou a vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão. Segundo ela, Cintra foi o principal responsável por levar a zona norte ao “centro do mapa político de São Paulo” nos anos 70 e 80. Tendo a Freguesia do Ó e a Brasilândia como redutos eleitorais, Cintra se tornou vereador (1977-1983) e deputado estadual (1983-1987).

“Hoje, todos nós sabemos da importância da zona norte para a cidade de São Paulo. Mas foi graças ao movimento liderado pelo Cintra que muitos políticos vieram pela primeira vez a bairros como Freguesia do Ó, Brasilândia, Perus, Cachoeirinha e Pirituba”, declarou Nádia. “Eu mesma – que sou do interior – me referenciei no Cintra para ter uma visão mais profunda e aprender a gostar desta região.”

O subprefeito em exercício da Freguesia do Ó, Januário Figueiredo, afirmou que “toda a esquerda da região” considera Cintra um “mestre” da política. “Devemos muito de nossa história ao Cintra e esperamos que ele continue nos inspirando por muitos anos”, disse Januário, que é dirigente do PT. O subprefeito titular da Freguesia, Bruno Ghizellini Neto, e o subprefeito da Casa Verde, Luiz Fernando Queimadelos, mandaram mensagens de congratulações.

As contribuições de Cintra à luta contra o racismo foram lembradas pelo secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial, Antonio Pinto, o Toninho. Fundadores da Seppir (a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, vinculada à Presidência da República), Toninho e Cintra lideraram, por meio dessa pasta, o esforço de construção e aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em 2010 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Conheci Cintra em Brasília e trabalhamos juntos por oito anos no governo Lula. Sou testemunha de que ele foi o grande articulador de um documento essencial para o nosso movimento, que é o Estatuto da Igualdade Racial”, avaliou Toninho. “Sem o Cintra, não teríamos ido tão longe.”

O PCdoB, partido ao qual Cintra é filiado desde 1977, não podia faltar à festa. Além da vice-prefeita Nádia Campeão – que integra o Comitê Central do partido –, marcaram presença o secretário nacional de Organização, Walter Sorrentino, o presidente do Comitê Estadual e deputado federal eleito, Orlando Silva, além de dirigentes municipais, distritais e de base. Outros seis partidos – PT, PMDB, PSB, PSDB, PPS e PV – também estavam representados. “Mais do que saber agregar como poucos, o que mais impressiona no dia a dia com o Cintra é sua refinada capacidade de análise política. O Cintra nunca erra!”, disse Sorrentino.

A “velha guarda” do samba se fez presente com nomes como Carlos Alberto Caetano, o “Seu Carlão”, fundador da Unidos do Peruche, e Moisés da Rocha, apresentador do programa “O Samba Pede Passagem”. A eles se somaram representantes de mais cinco escolas de samba (Vai-Vai, Rosas de Ouro, Camisa Verde e Branco, Mocidade Alegre e Nenê da Vila Matilde), assim como os promotores de eventos William Zimbabwe Santiago, Mauricio Black Mad, Pelé Problema e Paulinho Toke de Classe. “É uma honra ter Cintra entre os membros do Peruche e do samba paulistano”, discursou Carlão.

Emocionado com a homenagem, Benedito Cintra agradeceu aos “amigos e companheiros” que o acompanharam desde a década de 1970. “Há pouco mais de 40 anos, iniciamos na Freguesia um movimento que projetou várias lideranças políticas. Muitos companheiros já se foram, mas nossa luta deixou marcas e avanços na região”, afirmou. O Centro Esportivo da Vila Brasilândia, o Pronto Socorro 21 de Junho e o CDC de Vila Palmeiras são exemplos de conquistas viabilizadas nos mandatos parlamentares de Cintra.

Para ele – que voltou a morar na Freguesia do Ó no ano passado –, há “condições concretas” para a esquerda retomar sua força na zona norte e até eleger novos parlamentares. “Com Fernando Haddad e Nádia Campeão na Prefeitura de São Paulo, temos uma ótima oportunidade para recompor nossa articulação e recuperar espaço.”

O “Encontro de Amigos e Homenagem ao Mestre Benedito Cintra” reuniu, ainda, o assessor da Subprefeitura Cidade Tiradentes e escritor José Abílio Ferreira; o supervisor de Cultura da Subprefeitura Freguesia/Brasilândia, Luis Tadeu Eugênio, o Luisinho; o ex-vereador e presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Superior (Simpeem), Cláudio Fonseca; o dirigente estadual da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Edison José de Oliveira; a gestora do CEU Paz, Anatalia Almeida; o coordenador da Casa de Cultura Salvador Ligabue, Rodrigo Carvalho; o coordenador da Casa de Cultura Brasilândia, Antonio Camargo, o Toninho; e o editor do jornal “Freguesia News”, Célio Pires.