Fátima Teles: 30 anos da eleição de Tancredo e o fim da ditadura

Podemos afirmar que a história dos movimentos sociais no Brasil remete ao século 19 com as revoltas de movimentos populares contra o império e, posteriormente, contra a República.

Por Fátima Teles*

Ditadura

No início do século 20, na chegada dos imigrantes no país e a sua inserção no mercado de trabalho brasileiro, os imigrantes, principalmente os italianos, com uma consciência política formada advinda da Europa, contribuíram para a formação dos sindicatos e a greve de 1917 foi crucial para o fortalecimento da classe trabalhadora brasileira, envolvida no mundo da produção, lutando por direitos trabalhistas, até então negados.

Cada movimento social tem uma luta específica, uma reivindicação própria. Mas todos lutam por um novo modelo de sociedade que seja mais justa e menos desigual.

“Movimentos sociais são ações sociopolíticas construídas por atores sociais, articuladas em certos cenários da conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força social na sociedade civil” – Maria da Glória Marcondes Gohn em seu livro “Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos”.

 
Com a longa caminhada da luta dos trabalhadores no país, várias conquistas vieram no governo de Getúlio Vargas e com a ditadura militar na década de 1960, houve um recuo forçado, embora alguns movimentos tivessem continuado na clandestinidade como a União Nacional dos Estudantes. No final da década de 1960, os movimentos voltaram a se fortalecer, a UNE, o movimento eclesial de base da igreja católica, o movimento de mulheres, a sociedade civil unida pela anistia e contra a ditadura, tomaram as ruas dos grandes centros e lutaram pela democracia, contribuindo assim para a derrocada da ditadura e implantação da democracia brasileira.
Quantas mães e pais, irmãs e irmãos, amantes, companheiros, filhos, amigos, clamavam em suas casas, enclausuradas em prédios, sonhavam com a volta ou pelo menos notícias de seus familiares e amores, muitos desaparecidos e mortos pela famigerada ditadura.
 

“Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete

Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil” (Elis Regina)

Os movimentos se fortaleceram e conseguiram derrubar a ditadura militar, trazendo uma nova esperança a nossa Pátria tão amada. Cordões de pessoas em seus vários segmentos viram surgir o movimento pelas Diretas Já!, impulsionado pelo deputado federal Dante de Oliveira.

Eleito pelo PMDB em 1982 e empossado em 1º de fevereiro de 1983, Dante de Oliveira empenhou-se em coletar as assinaturas para apresentar o projeto de emenda constitucional que estabelecia eleições diretas (170 assinaturas de deputados e 23 de senadores). No dia 2 de março de 1983 finalmente apresentou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n° 5.

Em 25 de abril de 1984, sob grande expectativa dos brasileiros, a emenda das eleições diretas foi votada, obtendo 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções. Devido a uma manobra de políticos aliados ao regime, não compareceram 112 deputados ao plenário da Câmara dos Deputados no dia da votação. A emenda foi rejeitada por não alcançar o número mínimo de votos para a sua aprovação.

A campanha das Diretas Já! iluminaram o Brasil fazendo com que a sociedade civil pudesse sonhar novamente e cantar Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Só na passeata de São Paulo, saindo da Praça da Sé até o Vale do Anhangabaú, um milhão e quinhentas mil pessoas participaram, sendo considerada a maior manifestação pública da história desse país.

O período de redemocratização brasileira foi muito importante para a política do Brasil, pois efetivava o direito do pluripartidarismo e ali nasciam os muitos partidos políticos e as muitas ideologias partidárias, as muitas bandeiras de luta.

Era iniciada uma nova era na política do Brasil e na luta pelas “Diretas Já!” estavam presentes os políticos Dante de Oliveira, Leonel Brizola, Ulisses Guimarães, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Miguel Arraes, Eduardo Suplicy, entre outros.

A eleição não foi realizada pelo voto do povo, como pretendiam. De forma indireta, pelo Congresso Nacional, foi eleito para ser o primeiro presidente do Brasil depois da ditadura militar, o mineiro Tancredo Neves, no dia 15 de Janeiro de 1985, trazendo o sonho de um novo país, onde a democracia ia galgar novos degraus.

A multidão cantava a música Coração de Estudante, que virou hino das "Diretas Já!"

“Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu

Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê
Flor, flor e fruto

Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo

Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração
Juventude e fé”

E assim, nesses 30 anos que se passaram, nós caminhamos ainda com o sonho de um Brasil cada vez melhor, menos injusto e mais inclusivo para todos os seus filhos e filhas. Caminhamos com o sonho e a esperança de ver o nosso país efetivando a lei e a justiça para que todos os seus filhos e filhas se orgulhem de ser brasileiros e possam gozar dos direitos constitucionais que asseguram a dignidade e a segurança.

Que nós possamos sonhar!

Que nós possamos viver nossos sonhos, no futuro próximo!

*Fátima Teles é assistente social e colaboradora do Portal Vermelho.

Referências

Brasil Escola
Campanha Diretas Já!
Biblioteca Virtual Wikipédia
GOHN,M.G.M. Teoria dos Movimentos Sociais: Paradigmas Clássicos e Contemporâneos. São Paulo: Loyola,1997.