Brasil Debate: 2015 exigirá coragem e firmeza das forças progressistas

Resistir à ofensiva geral das forças conservadoras é imprescindível, mas insuficiente; cobrar os compromissos da candidatura vitoriosa e arejar o debate público é fundamental.

Editorial publicado no Brasil Debate

festa na avenida paulista reeleição dilma - Reprodução

O ano de 2014 foi marcado pela eleição presidencial mais acirrada da história democrática brasileira. Ao longo da campanha, o Brasil Debate e grande parte de seus colaboradores apontaram para a continuidade de dois projetos em disputa na sociedade brasileira: um neoliberal privatista e outro social desenvolvimentista – e defenderam o primeiro governo e a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff como aquela mais alinhada a esse último projeto.

As eleições foram uma dura batalha vencida, mas a disputa de projetos não se iniciou e tampouco se esgotou ali. Pelo contrário. A vitória nas urnas, apesar de importante, foi apenas um capítulo de uma disputa enraizada na sociedade brasileira, e que parece ter se acentuado nas semanas seguintes ao segundo turno.

Apesar da vitória eleitoral de um projeto mais à esquerda, foram as forças e as pregações de direita que se sentiram fortalecidas: o moralismo seletivo, o conservadorismo nos costumes, o preconceito étnico e geográfico, o desprezo pela democracia, a defesa aberta da privatização da Petrobras e bancos públicos e a ampla desnacionalização do petróleo do Pré-sal.

Em parte, isto ocorreu pela paralisia do próprio governo e dos partidos de sua base aliada e, em parte, pela falta de contraponto nos principais meios de comunicação e pela ausência de alternativas amplas de discussão dos temas nacionais.

Assim, o debate político mudou para pior nos meses de novembro e dezembro e a união das forças progressistas, fundamental para a vitória no segundo turno, pareceu se esvair em meio a uma conjuntura mais difícil.

No campo econômico, a composição já conhecida dos ministérios e a indicação de políticas fiscal e monetária austeras para os próximos anos representam uma ameaça à ampliação do gasto social e à manutenção do baixo desemprego e do crescimento da renda real das parcelas mais pobres da população.

A despeito dos problemas concretos vividos no presente nos planos nacional e internacional, com os amplos desafios à consolidação do crescimento, ampliação dos investimentos e da produtividade, seria fundamental não perder de vista os objetivos de longo prazo e as conquistas de um modelo de desenvolvimento que nos últimos anos permitiu que nosso País tenha se tornado um exemplo mundial por sua capacidade de assegurar – pela primeira vez em nossa história e por mais de uma década – que o crescimento econômico se desse em paralelo a um processo de distribuição de renda e redução da pobreza.

A operação Lava-Jato da Polícia Federal vem estremecendo as bases do sistema político brasileiro e abalando profundamente a imagem da nossa Petrobras. Esse contexto difícil deveria ser usado com decisão para se refundar os modos como se faz (e se financia!) a política no Brasil.

No entanto, vem apenas sendo utilizado para enfraquecer o governo e deslegitimar o poder democrático. Além de ser usado como pretexto para questionar o caráter público da maior empresa estatal do País e propor a volta atrás no modelo de exploração do Pré-sal – que ainda é e continuará a ser um elemento importante, senão indispensável, para o pleno desenvolvimento brasileiro nas próximas décadas.

Diante de tudo isso, as perspectivas para 2015 apresentam extraordinários desafios e certamente este quadro exigirá das forças progressistas coragem e firmeza, de um lado, e maturidade e olhar de longo prazo, de outro.

Além dos objetivos e políticas estratégicas nos campos social e econômico, pontos fundamentais da agenda eleitoral vencedora – como a reforma política, a regulação econômica dos meios de comunicação e a defesa intransigente dos bancos públicos (Caixa e BNDES) – não podem ser abandonados.

Resistir à ofensiva geral das forças conservadoras é imprescindível, mas insuficiente; cobrar os compromissos da candidatura vitoriosa e arejar o debate público é também fundamental.

O Brasil Debate está disposto a continuar contribuindo para a discussão dos grandes temas nacionais. Desde que foi criado, em agosto de 2014, recebeu mais de meio milhão de visitas, publicou centenas de artigos de colaboradores voluntários, além de notas e entrevistas, e assim cumpriu um papel importante no debate público brasileiro. O ano de 2015 parece desafiador, e exigirá muito empenho.

Renovamos aqui, portanto, a aposta na produção e discussão de ideias. Para isso renovamos também o convite para produção de artigos e divulgação do nosso site.

Enfim, agradecemos muito aos leitores e colaboradores do Brasil Debate e desejamos a todos Boas Festas e que, apesar dos desafios, 2015 nos permita avanços no debate público que viabilizem um país mais justo e igualitário. O Brasil Debate volta no dia 05 de janeiro, com novos artigos e muitas novidades.