Bibliofilia: O universo do livro

Não meros colecionadores, mas verdadeiros adoradores da palavra escrita em seu mais emblemático suporte, bibliófilos de todo o País se reúnem hoje e amanhã na Casa de José de Alencar

Há 13 anos, o mago da informática e dos negócios Bill Gates renovou sua biblioteca com um manuscrito produzido entre 1508 e 1509, da lavra do maior gênio da humanidade, Leonardo da Vinci. Rebatizou o Codex Hammer de Codex Leicester e integrou sua conquista a um acervo de outras preciosidades. Claro, preciosidades. Não tanto pelos valores monetários investidos: no caso do manuscrito do cientista italiano, na ordem de 31 milhões de dólares, dimensionados por seus proprietários anteriores. Não, os valores aqui são outros, uma coleção de critérios aparentemente subjetivos, mas que a cada dia ganham uma melhor sistematização, em todo o mundo, por parte dos chamados bibliófilos. Valores como raridade, relevância histórica, contextos de sua produção e publicação e, claro, afinidade com o objeto e seu tema, assim como busca e espera por sua conquista. Um conjunto de aspectos que encantam, seduzem, estimulam a convivência, por vezes solitária, com o universo-livro.


 


 


Encantos que unem pessoas como os 80 cearenses que integram a Associação Brasileira de Bibliófilos, responsável pelo III Encontro Nacional de Bibliófilos, transcorrendo hoje e amanhã, na Casa de José de Alencar. Cearenses como a coordenadora do evento, Regina Pamplona Fiúza, e ainda o jornalista Cid Carvalho ou o advogado Vasco Damasceno Weyne, além do também jornalista Pádua Lopes e do empresário José Augusto Bezerra, respectivamente vice-presidente e Presidente nacionais da entidade organizadora do encontro. Dele devem participar ainda nomes como José Mindlin, maior bibliófilo do País, aqui indiretamente representando outros bibliófilos pertencentes à Academia Brasileira de Letras: José Sarney, Antonio Secchin, Antonio Olinto, Arnaldo Niskier. ´Será uma grande confraternização dos amantes do livro do nosso País´, aponta José Augusto Bezerra, também presidente da entidade que possui um dos maiores, senão o maior, acervo de obras raras do Estado, o Instituto do Ceará – Histórico, Geográfico e Antropológico. Dele fazem e fizeram parte outros bibliófilos cearenses, inclusive os recém-falecidos Marcelo Linhares e Eduardo Campos, seu ex-presidente. ´Pretendemos fazer eventos que visam estudar, entender e preservar toda a bibliografia cultural da nossa terra”.


 


 


Páginas do tempo


 


 


Estabelecer um elo entre o passado e o futuro, esta parece ser uma das missões perpetuadas pelos bibliófilos. ´O objetivo da bibliofilia é procurar conhecer o passado e criar instrumentos para que o futuro possa nos conhecer através dela. Então, inicialmente há essa função memorialista. Mas o bibliófilo não é propriamente um colecionador de livros. Ele vai muito além. Deve ser um estudioso de cada uma daquelas obras, entendendo-as em seu contexto. O colecionador de livros que não os conhece na sua essência tem apenas apreço por eles e o prazer de vê-los em suas prateleiras, mas não sabe o seu valor documental para esclarecer a caminhada do homem através do tempo´. Contexto bem diverso ao do bibliófilo que, ainda segundo o presidente da Associação Brasileira, acaba constituindo parte viva das bibliotecas. Uma mimese provavelmente dimensionada tanto pela visão digital de Bill Gates, como pela Renascença de Da Vinci.


 


 


Fonte: Diário do Nordeste