Poemas para a Palestina
Na última terça-feira (9) o Cebrapaz comemorou dez anos de luta em defesa da liberdade e soberania dos povos. Durante o ato de aniversário realizado na Câmara Municipal da Capital Paulista, que contou com a presença de autoridades e militantes políticos, o poeta Claudio Daniel interpretou uma poesia em homenagem ao povo palestino.
Publicado 12/12/2014 15:15
Confira na íntegra o poema interpretado por Claudio Daniel:
Fósforo Branco
(Para Emir Mourad)
Fósforo branco ácido ilumina escombro escárnio nos céus do Líbano.
Talhos retalhos de torsos retorcidos
ossos negrume carcaças.
Corpos enfileirados peles requeimadas
de carne sucata
nos campos de refugiados
em Sabra e Chatila.
Esta é a hora do morticínio.
Farpas fiapos nacos de membros desmembrados
e o aroma escuro escuro da hora lenta lenta de um dia que nunca termina.
Nenhum Kaddish para os filhos da escrava Agar
nenhuma lágrima para Ismael.
Apenas o silêncio de talhos retalhos peles farpas fiapos
e o escuro escuro.
Esta é uma história
exilada da história,
que eu e você não devemos saber:
por isso cala o escombro cala o negrume cala a sucata do morticínio.
É preciso calar
a matraca dos jornais;
sim, é preciso fechar os livros, fechar para sempre os livros
e condenar os mortos à perene desmemória
(em algum sítio
mefistofáustico
de Tel Aviv,
que moveu a macabra máquina da morte,
a estrela de David
se converte
em nova suástica).
Porém, eu e você não nos calamos,
eu e você não iremos esquecer,
eu e você somos o cedro do Líbano, a oliveira da Palestina,
o pão fresco nas mesas da Síria.
Houve aqui uma página infame da história,
mas eu e você recusamos o silêncio,
recusamos o esquecimento,
recusamos o perdão.
Dedicado às causas palestinas, Claudio Daniel tem outros trabalhos sobre o tema, entre eles, o poema Deir Yassim, publicado este ano, “ano 66 da Nakba”, destaca o autor.
Deir Yassim
Nenhuma lápide
para os mortos
em Deir Yassim
episódio rasurado da história
suas casas demolidas
suas ruas desfiguradas
renomeadas em hebraico
120 homens e mulheres
executados
pela garra curva de Moloch
o que tudo devora
na esquina dos ventos
formigas míopes avançam
em sentido anti-horário.
Claudio Daniel é poeta, doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo, colunista da revista Cult e editor da revista Zunái. Publicou, entre outros livros de poesia, Figuras metálicas, Fera bifronte e Cores para cegos.
Do Portal Vermelho