FHC não leu a planilha de Youssef

Enquanto documentos comprovam o leque de partidos e governos envolvidos no esquema de corrupção, o ex-presidente insiste em acusar o PT.

Por Patricia Faermann*, no Jornal GGN

Há duas semanas, o Ministério Público Federal do Paraná emitiu um parecer à Justiça, informando que o esquema criminoso investigado pela Operação Lava Jato existe há pelo menos 15 anos na Petrobras. Alguns dias antes (14), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que sentia "vergonha" do que estava acontecendo na estatal. Nesta semana, a Carta Capital divulgou o leque de partidos e governos envolvidos. Agora, na noite desta terça-feira (2), FHC volta a partidarizar a investigação de corrupção: "Agora a gente sabe de onde vem o dinheiro que financiou a máquina petista" nesta eleição, acusou.

O discurso foi alinhado ao do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que na última semana disparou ataques ao governo de Dilma Rousseff, afirmando que não havia perdido para um partido político, mas para uma "organização criminosa".

No dia 14 de novembro, durante um evento do PSDB em São Paulo, o ex-presidente havia discursado: "A oposição é contra, mas não é contra o Brasil. É contra os desmandos daqueles que estão governando o Brasil. Eu não vou falar deles, tenho vergonha como brasileiro, tenho vergonha de dizer o que está acontecendo na Petrobras".

Entretanto, o PSDB de Aécio Neves e de Fernando Henrique Cardoso desconsidera que, junto com o vazamento seletivo à imprensa dos depoimentos cedidos à Polícia Federal, um documento do MPF mostrou que as investigações são muito mais amplas do que o envolvimento de um único partido, o PT. Nele, o órgão indicava: "muito embora não seja possível dimensionar o valor total do dano, é possível afirmar que o esquema criminoso atuava há pelo menos 15 anos na Petrobras, pelo que a medida proposta e ora intentada não se mostra excessiva".

Agora, outro vazamento da imprensa foi menos seletivo. A Carta Capital publicou reportagem com base em uma planilha do doleiro Alberto Youssef, em que são elencados 747 projetos vinculados a clientes diretos de construtoras. A conclusão foi que a atuação do doleiro extrapolava os limites da Petrobras, atingindo outras empresas estatais, órgãos públicos estaduais, prefeituras e empresas privadas, um esquema que, segundo a PF, "abrange uma estrutura criminosa que assola o país de Norte a Sul”.

O atual desafio da Polícia, Ministério Público e Justiça Federal é desvendar se houve o pagamento de propina a agentes públicos, como ocorreu na Petrobras, nos projetos citados na planilha. A dimensão dessa força-tarefa poderá, divulgou a revista, "desnudar o maior esquema de desvio de dinheiro público da história".

A lista inclui como clientes diretos a Sabesp e Metrô de São Paulo, além das obras no trecho Sul do Rodoanel, a Copasa de Minas Gerais e outras estatais de saneamento em Alagoas, Ceará, Maranhão, Rio de Janeiro, Goiás e Diadema. O empreendimento do governo de Pernambuco, Porto de Suape, e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, no Nordeste, ligado ao Ministério da Integração Nacional, também são citados. A Vale, a Fiat e empresas de Eike Batista são algumas das empresas privadas na lista.

Além das construtoras alvo da sétima fase da Operação Lava Jato, outras são apontadas como clientes diretos: Delta Engenharia, Grupo Schahin, IHS Engenharia, Potencial Engenharia e CR Almeida.

Com a planilha divulgada pela Carta Capital, é possível observar que as negociações de Youssef iam além do PT e da Petrobras, abarcando governos municipais e estaduais, além de empresas privadas.

"Caso estejam dispostas a mapear a ação do doleiro, o primeiro passo sugerido às autoridades da Lava Jato é instaurar um inquérito para cada obra citada na planilha. Quem sabe assim o país terá pela primeira vez um panorama da corrupção e suas engrenagens em todas as esferas de poder", concluiu a reportagem.

Enquanto isso, Fernando Henrique Cardoso diz que agora sabe de onde veio o dinheiro para financiar a máquina petista.

*Jornalista