UEE: Machismo impede tratar abusos como política universitária

“Há um machismo estrutural na sociedade brasileira que nos impede de tratar a violência contra a mulher como uma questão de política pública e política universitária”, enfatiza Carina Vitral, presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), se referindo aos casos de violação dos direitos humanos nas universidades do estado de São Paulo, principalmente contra jovens universitárias.

Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de São Paulo - Alesp

Nesta terça-feira (25), o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (Alesp), deputado Adriano Diogo (PT), protocolou requerimento de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar os casos de violência, que inclui estupro de alunas, racismo, sexismo e trotes violentos. Casos como esses não são exclusivos das USP. Várias universidades brasileiras têm registrado violências e abusos.

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Em reunião no Ministério Público nesta terça (25), o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) informou que a instituição recebeu quatro denúncias formais de violência sexual contra alunas. No inquérito civil, a promotora relata pelo menos oito casos de denúncia registrados desde 2011.
 
Carina Vitral é presidente da UEE

“É absurdo o número de estupros e violência contra mulheres em universidades públicas e privadas brasileiras. Não há clareza ou precisão sobre o número exato, pois tais casos muitas vezes não são registrados. Faltam dados e sistemáticas de monitoramento. Faltam segurança e atendimento específico sobre o tema. Os próprios alunos de Medicina tratam com deboche essa questão”, denuncia a líder estudantil.

Carina afirma que é preciso aumentar o efetivo feminino na Guarda Universitária, contabilizar e divulgar os casos de violência dentro da faculdade e promover ações que estimulem a denúncia, além de criar medidas de combate e conscientização. “O que assusta em todos esses relatos nas universidades brasileiras não é só a violência e a agressão de determinadas pessoas, verdadeiramente criminosas, mas sim a falta de tratamento do problema. E são preocupantes as recentes declarações feitas pela diretoria e pela reitoria. As vítimas de abuso vem sendo tratadas com desrespeito até pelos próprios dirigentes das instituições, que querem silenciar o problema”, asseverou ela.

Carina se refere à declaração do reitor da Universidade de São Paulo, Marco Antonio Zago, que afirmou nesta segunda-feira (24) que os casos de violência na instituição são um reflexo do que acontece na sociedade. Segundo Zago, os casos de violência “são questões de natureza policial, são criminais”. “Elas devem ser tratadas com a devida atenção, tanto pela universidade pelo aspecto educativo como pelo Ministério Público no que diz respeito a crimes”, disse Zago.

Embriaguez e estupros

Somadas a essas declarações está a posição da Congregação da FMUSP, que em reunião nesta quarta-feira (26), decidiu suspender por tempo indeterminado as festas e o consumo de bebidas alcoólicas na unidade, como medida para combater os casos de abuso sexual contra alunas em festas, ou seja, os casos de estupro é um mero caso de embriaguez.

“É como se os reitores e gestores dessas universidades ainda estivessem presos a um paradigma personalístico de crimes e violência. Eles afirmam que é uma questão para a polícia analisar, mas deixam de perceber as questões estruturais que reforçam tais ações sociais. O problema não está na responsabilização penal de quem comete a violência contra a mulher, mas sim na completa omissão e falta de estruturação de políticas universitárias que busquem reduzir as violências”, completa Carina Vitral.

Da redação do Portal Vermelho
Com informações da UNE e agências