Governo discute com CBF e clubes campanha de combate ao racismo

Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados debate racismo no futebol e a campanha "Somos Iguais", feita pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Uma das propostas é criar meios que facilitem a denúncia de racismo em praças esportivas.

Comissão de Direitos Humanos Câmara dos Deputados

O ouvidor da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência, Carlos Alberto Júnior, informou que o órgão buscou contato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para aprimorar a campanha "Somos Iguais", de combate ao preconceito, lançada pela entidade esportiva em abril deste ano.

Segundo Carlos Alberto Júnior, que participou nesta segunda (17) de audiência na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) sobre o racismo no futebol, uma das propostas analisadas é criar uma ferramenta, possivelmente um aplicativo de internet, para que o torcedor denuncie caos de racismo na hora em que ocorrerem, dentro ou fora dos estádios.

"Em 2014, houve cinco casos de racismo no futebol. Então é importante que verifiquemos o que está acontecendo. O combate ao racismo é algo tão importante, que o legislador deu a ele status constitucional. É um crime de potencial ofensivo gravíssimo porque, apesar de não ferir de morte, fere a alma e o orgulho da vítima", afirmou.

O secretário também chamou atenção para a pouca presença de negros na direção e no comando técnico dos clubes de futebol no Brasil. Dos 20 clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro, lembrou ele, apenas o Fluminense tem um treinador negro – Cristóvão Borges – e, na maioria dos casos, os negros exercem funções de apoio, sem protagonismo, o que não reflete a diversidade do país.

Deise Benedito, assessora da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, defendeu o envolvimento direto dos clubes em ações de responsabilidade social e sugeriu que os times brasileiros adotem em seus uniformes ao longo de novembro, mês da consciência negra, frases contra o racismo. Ela entende que os clubes devem assumir compromissos pelo fim da discriminação no futebol.

"Eles atingem diretamente uma massa de jovens e têm um contato muito direto com o público. É importante estimular mais campanhas", argumentou.

Na opinião de Deise Benedito, o racismo ainda ocorre devido à certeza da impunidade. Todavia, ponderou, a prisão não é a melhor alternativa:

"Punir não passa necessariamente pela prisão, mas por medidas pedagógicas e socioeducativas para a que pessoa tenha consciência do erro praticado", finaliza.

O vice-presidente do Grêmio, Adalberto Preis, disse que o clube foi injustiçado no caso de preconceito racial contra o goleiro Aranha, do Santos. Na opinião do dirigente, quiseram imputar a responsabilidade e a característica de racista ao clube, que tem tradição de ser multirracial, como ressaltou.

O dirigente lembrou que, de um público de 32 mil pessoas presentes no estádio em 28 de agosto, quatro torcedores foram indiciados em inquérito policial e denunciados à Justiça.

"Eu não tiro nada da importância que foi dada ao fato, mas, do ponto de vista da imputação ao clube e em se tratando de uma conduta de poucos torcedores, houve exagero e injustiça", alega.

Adalberto Preis acrescentou que o Grêmio é o único clube no Brasil que tem estatutariamente uma estrela dourada em sua bandeira, representando o jogador negro Everaldo Marques da Silva, campeão mundial pela seleção brasileira em 1970. Além disso, acrescentou, o autor do hino do clube é um negro: Lupicínio Rodrigues.

"Não obstante a terrível campanha feita, tentando pôr no Grêmio a mancha de racista, o clube não é racista", afirmou.

O advogado Ronaldo Ferreira Tolentino, da Comissão Especial de Direito Esportivo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), lembrou que a legislação estabelece que o time é responsável pelas atitudes de seus torcedores em seu estádio, daí a punição à agremiação gaúcha.

"O que aconteceu com o Grêmio poderia ter acontecido com qualquer outro clube. O Grêmio não é racista. Mas parte da torcida, num ato infeliz, praticou um crime. E o clube, na alegria ou na tristeza, é responsável pela sua torcida", disse.

A audiência foi presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS). Também participaram o diretor Regional dos Consulados do Internacional, Alexandre Santos e o diretor institucional da Federação Nacional dos Jornalista (Fenaj), José Carlos Torves.

Do Portal Vermelho, com informações da Agência Câmara