Wevergton Brito Lima: A queda do muro e a fábula burguesa

“A chamada ‘democracia burguesa’ vai se firmando, do modo com que sempre isso ocorreu como uma conquista real da população, como uma luta contra o poder discricionário, como um progresso civilizatório. Só se pode esperar que esse curso não se interrompa nunca mais.” Este é um trecho do editorial da Folha de S.Paulo de 11 de novembro de 1989 (Cai um símbolo) onde comemora com entusiasmo, a queda do muro de Berlim, ocorrida dois dias antes.

Por Wevergton Brito Lima, especial para o Portal Vermelho

Queda do muro de Berlim

Note-se que a Folha estava tão extasiada que ainda esperou mais um dia para fazer o editorial que normalmente deveria ter saído no dia seguinte ao fato (dia 10). Foi como se os hierarcas da Folha dissessem: “vamos esperar, é tão bom que não deve ser verdade”.

O editorial, no entanto, não economizou loas à vitória da “democracia burguesa” sobre o inimigo ideológico:

“O Estado repressivo, reduzido a sua essência mais concreta e irredutível, explicitava-se de forma deprimente na barreira assustadora que se erguia entre os dois lados da cidade. Não havia símbolo mais claro da desmoralização de um sistema que, recusando-se a ver na civilização democrática uma conquista social inalienável, recorria à pura força repressiva (…) a oposição entre o capitalismo e o socialismo real deixara de se fazer em termos de uma discussão ideológica, ou de uma competição aberta entre dois sistemas: simplificou-se, para além de qualquer debate teórico, numa divisão entre democracia e repressão, entre civilização política e terrorismo de Estado.”

O editorial da Folha é apenas um minúsculo exemplo do massacre que a máquina de propaganda ideológica da burguesia promoveu e promove em relação ao fato histórico ocorrido no dia 9 de novembro de 1989 (abordado no excelente artigo da camarada Rita Coitinho aqui no Vermelho).

Os demais jornais burgueses também não se continham. O Globo falava “no início de uma era de paz internacional”, onde o que prevaleceria seria o respeito às nações e a busca pela “prosperidade geral baseada no livre mercado”.

O formidável arsenal da propaganda burguesa vai muito além dos jornais: incluí cinema, livros, TVs, rádios, etc. Estas poderosas armas de guerra ideológica buscam transformar a queda do Muro de Berlim em uma fábula.

Esta fábula tem um enredo primário, até mesmo para um conto infantil: o Muro de Berlim representava o comunismo malvado que foi derrotado pela liberdade, quando o povo venceu os malvados, derrubou o muro e hoje vive feliz para sempre na democracia e na sociedade de mercado.

Tal fábula, tão rasa e falsa, hoje ganhou ares de verdade estabelecida inclusive entre certos intelectuais de “esquerda” que, de forma mais sofisticada, acabam corroborando a essência deste engodo.

Em defesa da história

Como diz o professor italiano de Filosofia da História, Domenico Losurdo, um exame implacável e rigoroso dos erros cometidos na construção do socialismo não pode ser confundido com capitulação.

Mesmo um historiador conservador, mas que não seja um fanático, reconhece que o movimento comunista mobilizou, ao longo do século 20, centenas de milhões de homens e mulheres na batalha por um novo sistema social que, na União Soviética, por exemplo, tirou o país do regime feudal e o elevou a uma potência militar e econômica com alto nível cultural e de desenvolvimento, sem explorar economicamente nenhuma outra nação e ajudando onde podia os movimentos de libertação.

Na luta contra o nazismo, além do papel preponderante da URSS, foram as massas mobilizadas pelo movimento comunista que lutaram nos países ocupados contra as hordas fascistas. Foi o movimento comunista o incentivador e propulsor das lutas contra a dominação colonial, ajudando a libertar dezenas de povos oprimidos que aspiravam sua autonomia nacional.

Enquanto o ocidente “democrático” sustentava politicamente, militarmente e financeiramente o regime terrorista do apartheid, era o movimento comunista que apoiava de forma entusiástica, com seus militantes africanos, com suas armas e com sua logística o Congresso Nacional Africano (CNA) de Nelson Mandela (inclusive era um comunista, Chirs Hani, que chefiava o estado maior do “Umkhonto we Sizwe”, Lança da Nação, braço armado do CNA; assassinado pelos racistas, Chirs Hani é hoje reverenciado pela população da África do Sul como um dos seus heróis).

Margareth Thatcher dizia que Mandela não passava de um comunista e Ronald Regan o considerava um “terrorista”.

Foi o movimento comunista que através de uma renhida luta de classes inscreveu na pauta política de forma irrevogável a discussão dos direitos sociais e políticos dos trabalhadores, coisa que hoje pode parecer “natural”, mas que custou muito sangue de milhões de ativistas revolucionários.

Enfim, toda a magnífica construção do poder popular no século 20, com demonstrações de heroísmo inéditas, pela quantidade de pessoas envolvidas, são simplesmente ignoradas nesta cínica fábula em que se transformou a queda do muro.

Mas mesmo para os que desconhecem a história do século 20, bastam poucos segundos de raciocínio crítico para perceber as enormes incoerências desta fábula. Em primeiro lugar, é fácil constatar que os que mais comemoram a queda do muro de Berlim e a consequente vitória da “democracia”, são justamente os que não têm nenhuma vocação democrática. Exemplos: no Brasil o monopólio midiático, que em bloco apoiou a ditadura militar, sem falar em figuras como os Bolsonaros; na Itália Roberto Fiore (líder fascista italiano); na França Jonathan Le Clercq (líder fascista francês); o grupo Svoboda (partido neonazista ucraniano), entre outros da mesma estirpe.

Em segundo lugar, devemos cobrar dos autores da fábula as promessas de prosperidade, paz e liberdade.

25 anos depois, os pobres mais pobres e os ricos mais ricos

É um fato reconhecido inclusive pelos economistas conservadores, que a concentração de renda está aumentando dramaticamente na maior parte do mundo. O processo de concentração de renda, inerente ao capitalismo, ganhou novo fôlego com a queda do Muro. Sem a pressão da “ameaça comunista” e com o discurso de que qualquer alternativa ao “livre mercado” tinha fracassado, a burguesia sentiu as mãos livres para avançar sobre os direitos dos trabalhadores. Foi a época “gloriosa” para eles, do discurso triunfante da “mão invisível do mercado”, do “fim da história”, do “fim da carteira assinada”, e de outros triunfalismos que mal escondiam o instinto de ave de rapina do capital.

Aliás, o escritor e humorista Luís Fernando Veríssimo ilustra isso de forma genial em uma charge publicada ainda no calor dos acontecimentos. Nesta charge, um náufrago chega a uma ilha deserta e propõe que um nativo trabalhe para ele, sete dias por semana em troca de uma quantidade de conchas. O nativo então retruca que a proposta não tinha sentido. As conchas estavam na praia, à disposição de todos, além do mais o náufrago tinha acabado de chegar e o nativo era nascido na ilha e portanto tinha mais direito sobre ela do que o náufrago. Resposta raivosa do náufrago: “E o muro de Berlim, e o muro de Berlim?!”. Ou seja, em relação a qualquer debate racional sobre justiça social ou direitos trabalhistas a burguesia usava o argumento de sua vitória ideológica para justificar o aumento da exploração.

Está provocando um intenso debate na academia o livro de um economista francês, Thomas Piketty, intitulado “O Capital no Século 21” (ainda sem tradução para o português). Piketty não é marxista, mas constata no livro, através de exaustivas pesquisas, que a concentração de renda no mundo só aumenta, criando um círculo vicioso que pode levar à consolidação de uma oligarquia planetária.

O economista marxista brasileiro Marcelo Fernandes, destaca: "No começo de 1990 a economia norte-americana entrou num vigoroso ciclo de crescimento que perpassou toda a década. ‘(…) a mais longa (mas não a mais intensa) fase de crescimento econômico por ela já registrada’ (Silva, 2003, p.13), deixando para trás dois dos seus principais rivais, Japão e Alemanha (Schwartz, 2010). Assim está claro que do ponto de vista dos interesses dos Estados Unidos, a nova fase Pós-Guerra Fria foi bastante vantajosa. Entretanto, o mesmo não pode ser dito para a maioria dos povos. Em contraste com o discurso triunfalista da globalização, o que se viu foi o aumento das disparidades mundiais de renda e riqueza, enquanto vários países que ingressaram nas reformas liberais assistiam retrocessos inimagináveis (Frieden, 2008, cap. 19). Os países do Leste europeu e a Rússia (que sofreu uma grave crise financeira em 1998) também tiveram um desempenho muito aquém do que se esperava após o desmantelamento do sistema estatal herdado do socialismo. A maior parte da África aguentou um retrocesso ainda pior. Com a exceção de alguns poucos países, a maioria retrocedeu a níveis alarmantes de miséria. Criou-se uma nova categoria, os chamados ‘Estados Falidos’ para denominar os países entregues a quase anarquia (Frieden, 2008, p.469)” (Da missão civilizadora do capital ao imperialismo norte-americano, pp.252-253, A reflexão marxista sobre os impasses do mundo atual).

Em 2013 a revista Forbes, porta-voz do capital financeiro globalizado, informou que cresceu de forma inédita o número de ultrarricos do mundo.

Segundo a Forbes, em 2013 existiam 1.426 pessoas com um valor patrimonial líquido de aproximadamente 5,4 trilhões de dólares. A cifra é esta mesma, 5,4 trilhões de dólares! Isto em meio a uma crise internacional que alguns comentaristas econômicos, a soldo do capital financeiro, dizem “não interessar a ninguém” e a usam como pretexto para renovar suas propostas, camufladas ou explícitas, de reduzir salários, cortar benefícios, precarizar os serviços públicos, dificultar o acesso ou diminuir o valor das aposentadorias, etc, o que na Europa já está sendo feito com celeridade pela troika (FMI, Banco Central Europeu e União Europeia).

Enquanto isso, segundo a ONU, em relatório divulgado no dia 16 de setembro de 2014, um em cada nove habitantes do mundo não tem o que comer, o que representa mais de 800 milhões de seres humanos famintos.

A situação só não é pior graças justamente à luta popular, que conseguiu, nos últimos anos, em diversos países da América Latina, levar ao governo central forças de esquerda que não acreditam na fábula do “fim da história”.

Este mesmo relatório da ONU aponta que o Brasil reduziu à metade a porcentagem de sua população atingida pela fome. É a luta que continua fazendo a história.

25 anos de guerras e corrida armamentista

Se existe um aspecto que foi desmoralizado de forma incontestável foi a fábula de que a dissolução do campo socialista (do qual a queda do muro é um dos seus principais símbolos) iria iniciar um processo de distensão nas relações internacionais, já que o fim da polarização EUA x URSS não justificaria mais as guerras. Esta visão ingênua foi totalmente derrotada pela vida.

Sem um rival à altura em termos de poderio militar, imediatamente começaram as poderosas pressões para que todos os povos se conformassem com um mundo eternamente unipolar, tendo os Estados Unidos da América como nação predestinada ao comando mundial, e a Otan como gerdame desta ordem.

Naqueles tempos, nem tão longínquos assim, apregoava-se como verdade absoluta e incontestável a ideia do fim do Estado nação e das fronteiras econômicas, tese que muito mal disfarçava sua origem: a oligarquia financeira dos Estados Unidos e da Europa. Atropelando o direito internacional, inúmeras guerras de rapina foram iniciadas, ao custo de um número de vítimas que hoje deve estar perto de um milhão pois só nas duas guerras travadas contra o Iraque contabilizam-se cerca de 200 mil mortes. Desde 1989 o imperialismo agrediu e matou em países como o Panamá (operação “Just Cause”), Iugoslávia, Haiti (operação “Suport Democracy”), Líbia, Sudão, Afeganistão, Iraque (duas vezes: operação “Desert Fox” em 1998 e operação “Desert Storm” em 1991), Somália (operação “Restore Hope” em 1993), entre outras. Devemos incluir nesta contabilidade inclusive as guerras secretas financiadas pelo imperialismo: o apoio a grupos de extermínio na Colômbia, o recurso à incitação, aberta ou velada, a todos os tipos de contradições étnicas e regionais para estimular, em nações independentes, o separatismo e a debilitação destas nações como forma de melhor dominá-las, recurso este usado até hoje com cínica constância.

Cuba continua sofrendo o violento e ilegal bloqueio econômico e a Palestina continua martirizada.

Nunca se gastou tanto em armamentos quanto nos últimos 25 anos.

Segundo o Instituto Internacional para a Investigação da Paz de Estocolmo (Sipri, sigla em inglês), o gasto mundial anual em armamentos é de aproximadamente 1,8 trilhão de dólares, sendo que os EUA são, lógico, os que mais gastam (39% do gasto mundial). E vai aumentar! Segundo o jornal inglês Guardian, só os EUA “planejam gastar US$ 700 bilhões em armas nucleares nos próximos 10 anos. US$ 92 bilhões adicionais serão gastos em novas ogivas nucleares, e os norte-americanos planejam construir 12 novos submarinos nucleares balísticos e mísseis de cruzeiro nucleares para lançamento por aviões e novas bombas atômicas" (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1000072-potencias-nucleares-planejam-…).

E a teoria de Lênin sobre a natureza essencialmente agressiva e belicista do imperialismo é considerada por alguns “sábios” como ultrapassada!

E a tal liberdade?

Mas preste bem atenção, seu moço
Não engulo a fruta e o caroço
Minha vida é tutano é osso
Liberdade virou prisão

(Gonzaguinha)

Uma das promessas da fábula seria o reino da liberdade, sinônimo, segundo quem acredita nesta história, de mercado livre e eleições à moda da democracia burguesa, de preferência a norte-americana.

Não demorou muito para este mito soçobrar. Em 4 de outubro de 1993, Boris Yeltsin, então presidente da Rússia, mandou cercar e bombardear o parlamento russo eleito de acordo com as regras da democracia burguesa já vigentes. Grandes e massivas demonstrações do povo expressavam o descontentamento com Yeltsin. A população cercou o parlamento. Mesmo assim este foi bombardeado. Todos os líderes da oposição foram presos e 187 pessoas morreram. O motivo: contra a expectativa geral os comunistas foram muito bem votados e o parlamento, “eleito livremente”, estava contrariando as “ordens” de Yeltsin, cuja política de desmonte da proteção social do Estado socialista estava levando a população ao desespero. A reação da mídia burguesa sobre o bombardeio a um parlamento livremente eleito e o assassinato e prisão de opositores? Ora, não podia ser outra: apoio incondicional a Yeltsin, afinal tratava-se de impedir que os comunistas voltassem!

Este é um aspecto que não deve ser ignorado neste debate: o compromisso do capitalismo com a democracia é zero.

Quando seus interesses de classe estão ameaçados eles recorrem até a uma ditadura terrorista para preservá-los. Ou alguém será capaz de negar que foram as burguesias industriais e financeiras da Itália e da Alemanha que financiaram o fascismo de Mussolini e o Partido Nazista de Hitler? Já está provado documentalmente que o golpe de Estado que instalou a ditadura militar no Brasil foi tramado em Washington, assim como todos os golpes militares que mergulharam a América Latina nas trevas da perseguição e da tortura.

Outros aspecto importante é que as eleições no capitalismo são fortemente influenciadas, para dizer o mínimo, pelo poder econômico. Basta ver o exemplo do país líder da “democracia liberal”, onde desde sempre são os mesmos dois partidos a controlar o poder político, ambos comprometidos até a raiz dos cabelos com a manutenção do establishment.

O que esperar de semelhantes “democratas”? As populações dos antigos países socialistas já estão sentindo na pele o que é esta liberdade e as consequências não tardarão.

O Socialismo Vive!

O socialismo não acabou ou implodiu com a queda do muro de Berlim e depois com a dissolução do campo socialista. Uma experiência histórica foi derrotada, vítima de seus erros mas também – ou principalmente – de uma guerra de cerco e sabotagens implacável que marcou toda a sua trajetória.

Afirma Domenico Losurdo: “a categoria ‘implosão’ se revela um mito apologético do capitalismo e o imperialismo: celebra sua indiscutível superioridade com relação a um sistema social que, em Moscou, como no Caribe ou na América Latina, rui ou entra em crise exclusivamente devido à sua insustentabilidade interna, à sua inferioridade intrínseca. A categoria de implosão ou colapso só cobre de louros os vencedores” (Fuga da História, página 33).

João Amazonas dizia, em 1992, com clara percepção do que estava em jogo: “A crise instalada no socialismo corrói a luta do povo por um futuro melhor, enfraquece o impulso combativo dos trabalhadores, incentiva o culto à espontaneidade. É um sério obstáculo ao progresso social. Atingindo em cheio a teoria de vanguarda, priva o movimento de massas do fator consciente, que é o motor da ação consequente (…) isso impõe aos revolucionários deter-se num exame mais apurado do período da construção do socialismo, pesquisar deficiências e erros que possam ter contribuído para o revés (…) a superação desta crise é questão decisiva para a retomada da ofensiva contra o capitalismo em decomposição” (Os desafios do Socialismo no Século XXI, artigo Os Contratempos do Socialismo, páginas 231 e 239).

Ainda não demos conta da crise do socialismo, mas isso é um esforço global que envolve todo o movimento comunista e operário ao redor do mundo. Também não retomamos a ofensiva revolucionária. Mas é inegável que depois de um período difícil, onde o golpe inicial da derrota se fez sentir com mais força, passamos a uma resistência ativa.

Como queria o camarada Amazonas, estamos acumulando forças para que retomemos a ofensiva em busca de novos tempos e de objetivos mais avançados.

Destruir os mitos para preservar o sonho

"E lamentemo-nos com o sr. Francis Fukuyama, que afirmou que 1989 significava ‘o fim da história’ e que daí pra frente tudo seria tranquilamente liberal e livre mercado. Poucas profecias destinam-se a ter vida mais curta que esta." (Adeus a tudo aquilo, p.106, Depois da Queda, Eric Hobsbawn)

25 anos depois de “derrotar” o velho inimigo, a burguesia internacional não cumpriu nenhuma das suas promessas públicas, pois estas eram todas falsas.

A única promessa verdadeira ela não podia divulgar abertamente, e esta ela cumpriu: acumular cada vez mais riqueza nem que fosse ao preço da fome e da guerra.

Nestes 25 anos, dois novos muros foram construídos. O muro da Cisjordânia, ou muro da vergonha, que os sionistas fizeram para melhor oprimir o valoroso povo palestino, e o muro da fronteira do México com os EUA, construído pelos estadunidenses para evitar que os miseráveis do país capitalista latino invadam em busca de emprego e comida (que hoje já começam a faltar para os americanos) o paraíso capitalista anglo saxão.

Em torno destes muros e da realidade do mundo capitalista ergue-se outro muro, este invisível, o muro de silêncio e falsificação construído por uma grande máquina de propaganda a serviço de perpetuar o status quo.

Como escreveu Losurdo: “com o triunfo da pax americana, do ponto de vista da multimídia, todo o resto do mundo se tornou uma província e uma colônia, pelo menos potencial, com relação ao centro do império que, de Washington, pode investir e investe quotidianamente em toda parte do globo com um concentrado poder de fogo de multimídia. Difícil é resistir a isto, mas sem a resistência não se é comunista” (Fuga da História?, página 53).

A mistificação burguesa será vencida. Afinal, a realidade do capitalismo é concreta e mesmo com toda a força de sua eficaz propaganda, hoje no que era a Alemanha oriental, todas as pesquisas apontam a maioria da população dizendo que preferia “os tempos do socialismo”, de resto sentimento comum na maioria dos países que faziam parte do campo socialista. Notem que estas pesquisas são feitas por empresas burguesas, o que nós dá a convicção de que o tamanho da revolta é bem maior.

Como diz a canção, “aprendendo e ensinando uma nova lição” podemos sim, com dedicação e coragem, destruir os mitos e falsificações até o ponto em que cada vez mais gente ao redor do planeta descobrirá que, na verdade, na fábula burguesa sobre a Queda do Muro de Berlim, foram os porcos que comeram o lobo.

*Wevergton Brito Lima é jornalista, secretário estadual de Comunicação do PCdoB-RJ e membro da Comissão Nacional de Comunicação