Hugo Cortez: “PSB de Pernambuco leva uma surra histórica”

Concluído o primeiro turno das eleições, derrotada Marina Silva, a candidata à Presidência da República do partido, o PSB de Pernambuco só tinha uma opção honrada quanto a quem apoiar no segundo turno: Dilma.

Por Hugo Cortez*

Dilma em Recife - Ichiro Guerra

O PSB sempre esteve, desde 1989, no bloco das forças que apoiaram nos segundos turnos as candidaturas do PT; participou das bases de apoio e dos ministérios dos dois governos Lula e do governo Dilma; o estado foi fortemente beneficiado nos últimos 12 anos – mesmo antes de Eduardo Campos eleger-se governador – pelos investimentos em infraestrutura, políticas públicas e incentivos econômicos concedidos pelo governo federal; as vitórias eleitorais de Eduardo em 2006 e 2010 deveram-se, em grande parte, ao novo clima otimista econômico e político criado na região Nordeste pelo governo Lula; o sucesso dos governos de Eduardo – independentemente dos seus méritos pessoais reconhecidos – deveu-se fundamentalmente ao suporte que lhe foi concedido pelos governos Lula e Dilma – a gratidão se impunha – e, dado histórico mais que considerável, seu avô Miguel Arraes sempre defendera a unidade das forças de esquerda, democráticas e populares.

O PSB/PE, porém, de modo surpreendente, confiado na sua contundente vitória no estado no primeiro turno das eleições, quando elegeu governador Paulo Câmara (68,08% dos votos) e senador Fernando Bezerra Coelho (64,34%) com grande folga de votos, consolidando sua inclinação recente para a direita, optou com estardalhaço por Aécio, que houvera tido apenas 5,9% dos votos do estado. Desprezando seu passado e as expectativas nele depositadas, eclipsando dos seus cálculos eleitorais a tradição histórica do estado, impregnado por um antipetismo míope e julgando já ter embolsado os votos de Marina, fez uma escolha que só poderia soar como torpe traição ao espírito progressista do povo pernambucano e lhe custar politicamente caríssimo no futuro. Investiu insanamente numa rota de suicídio político.

Arriaram bandeiras tradicionais

Foi, no mínimo, inusitado, episódio ímpar na política, ver então o vencido, exangue, prostrado em terra, contaminar, dominar e cooptar o vencedor levando-o a trair as forças que o levaram à vitória! Constituiu verdadeiro non sense ver Paulo Câmara, Fernando Bezerra Coelho, o governador João Lyra, Renata Campos, Tadeu Alencar e cia., saídos de mais uma campanha vitoriosa, arriarem bandeiras tradicionais do seu partido, esquecerem o legado histórico dos seus antigos líderes – como Pelópidas, Fernando Lyra e Miguel Arraes – e capitularem ideologicamente ante os seus outrora adversários renhidos: Democratas, PSDB, PPS e, inclusive, Jarbas Vasconcelos! Gente, aliás, que houvera sido resgatada por Eduardo do ocaso político!

O PSB pernambucano optou por Aécio, traiu as expectativas do seu eleitor do primeiro turno, jogando fora toda sua credibilidade e prestígio político-moral, demonstrando rarefação ideológica, distanciamento da tradição partidária, um apego leviano e oportunista a vantagens momentâneas, e se credenciando para receber, no tempo devido o troco cruel do povo pernambucano!

Dilma, que no primeiro turno obtivera 44,22% dos votos, contra 48,05% de Marina, venceu neste segundo turno em Pernambuco com 70,20% dos votos válidos! Uma vitória esmagadora! E o PSB/PE, mais cedo que sua vã imaginação concebeu, levou uma surra histórica! A primeira – quem sabe?! – de uma série, a se manter a postura político-ideológica atual do partido.

O tempo passa mais rápido do que a ingratidão leviana supõe. 2016 está longe, mas não demora!

Hugo Cortez* é sociólogo e militante do PCdoB